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Aplicação de índices de qualidade de água – IQA para o monitoramento dos mananciais de abastecimento público da região metropolitana de Curitiba, Paraná, Brasil

Resumo

A gestão de bacias de mananciais de abastecimento público através de programas de monitoramento, para diagnóstico da poluição e posterior remediação ambiental, é uma importante maneira para conservação da qualidade da água. O avanço da malha urbana, a instalação de indústrias e atividades agropecuárias sem controle em áreas de mananciais, contribuem negativamente à qualidade da água bruta, que é a fonte para o abastecimento de água da população. A redução nesta qualidade tem como consequência o aumento na demanda de produtos químicos em uma Estação de Tratamento de Água (ETA) e até mesmo o abandono do manancial.

Este estudo apresenta uma análise da qualidade da água dos mananciais formados por reservatórios e rios em Curitiba e região metropolitana (RMC). Foi analisada a qualidade de água de quatro reservatórios: Piraquara I, Piraquara II, Passaúna e Iraí; seus principais afluentes; e rios das bacias incrementais de duas importantes ETAs de Curitiba: Iraí e Passaúna.

A análise se fundamentou no cálculo do IQA (índice de qualidade de água), que para rios (IQAri) é baseado no utilizado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e para reservatórios (IQAre) no utilizado pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), com algumas adaptações para as condições da SANEPAR. A partir do resultado do IQA, pode ser feito um diagnóstico geral de cada ponto e, consequentemente, de cada reservatório e manancial de abastecimento público. No entanto, é necessária analisar cada parâmetro de maneira isolada para um diagnóstico mais preciso, para que seja possível propor medidas eficientes para a melhora da qualidade da água do manancial. Recomenda-se ampliar programas de monitoramento, que possam diagnosticar a situação dos mananciais, sugerindo ações direcionadas de gestão.

Introdução

A água potável limpa, segura e adequada é vital para a sobrevivência de todos os organismos vivos e para o funcionamento dos ecossistemas, comunidades e economias. Mas a qualidade da água em todo o mundo é cada vez mais ameaçada à medida que as populações humanas crescem, atividades agrícolas e industriais se expandem e as mudanças climáticas ameaçam alterar o ciclo hidrológico global (ONU, 2010).

Há uma necessidade urgente para a comunidade global – setores público e privado – de unir-se para assumir o desafio de proteger e melhorar a qualidade da água nos rios, lagos, aquíferos e torneiras (ONU, 2010).

A água na Terra distribui-se da seguinte maneira: 97% em mares e oceanos, 2,2 % nas geleiras e apenas 0,8% são de água doce, que pode ser utilizada para o abastecimento mais facilmente. Dentro deste pequeno percentual de água doce, apenas 3% apresenta-se na forma de água superficial que é de extração mais fácil, sendo o remanescente de água subterrânea. Esses valores ressaltam a grande importância de preservar os recursos hídricos na Terra e evitar a contaminação da pequena fração mais facilmente disponível (VON SPERLING M., 2005).

A quantidade e velocidade da água em corpos hídricos estão relacionadas às formas de uso, manejo, ocupação da bacia, características geomorfológicas e pedológicas associadas às condições ambientais das vertentes. Já a qualidade da água pode estar relacionada a lançamentos pontuais de efluentes industriais ou domésticos, aporte difuso de elementos provenientes da atividade agropecuária e urbanização (ANDREOLI C. V., et al., 2011).

Como a cidade de Curitiba e região metropolitana encontram-se próximas às cabeceiras, a vazão dos rios é pequena, demandando reserva de grandes volumes de água para regularização de suas vazões. Desta forma, a construção de reservatórios de grande volume torna-se indispensável na região para garantia do abastecimento público. No entanto, como estes reservatórios apresentam grandes extensões e tempo de retenção longo, acaba favorecendo o acúmulo de cargas expressivas de nutrientes e poluentes (PEGORINI E. S. et al., 2005).

Garantir a qualidade da água para o consumo humano está intimamente relacionado com a proteção das fontes de águas brutas. Com a gestão das causas de poluição traduzindo-se na disponibilidade de um recurso com menor contaminação, além de garantir maior segurança na qualidade da água distribuída aos consumidores, implica em um menor esforço no tratamento (Vieira et al., 2005).

Segundo Bollmann e Freire (2003) o processo de eutrofização em reservatórios com a ocorrência de intensas florações de algas é consequência da inter-relação entre vários fatores, tanto climatológicos, como hidrológicos, morfológicos, físico-químicos e biológicos, que ocorrem tanto na bacia hidrográfica quanto no próprio reservatório. Os reservatórios situados na bacia hidrográfica do Altíssimo Iguaçu apresentam condições favoráveis à ocorrência de floração de algas cianofíceas com a consequente degradação da qualidade destas águas. Dentre os fatores relevantes, a disponibilidade de nutrientes tem sido apontada como chave para deflagrar os eventos de floração. A resolução deste problema tem como premissa básica o gerenciamento de ações visando a melhoria das condições das águas no reservatório, principalmente no que concerne ao controle de nitrogênio e fósforo, que são os nutrientes limitantes ao crescimento das algas responsáveis pelas florações (Anabaena spp e Microcystis spp, etc).

Devido à crescente diminuição na qualidade da água e aos frequentes episódios de blooms de algas no reservatório, estudos aprofundados analisando, diagnosticando e monitorando as condições da qualidade da água durante uma série temporal e espacial contínua, são de extrema importância para uma gestão eficiente dos recursos hídricos. O conhecimento sobre a qualidade da água de uma bacia possibilita inferir sobre as condições da bacia como um todo. Seja qual for a variação quali-quantitativa neste recurso, que cause desequilíbrios ambientais, os reflexos na saúde dos ecossistemas e na disponibilidade hídrica são diretos (Carneiro, et al., 2005).

Segundo Koehler e Asmus (2009) o monitoramento é um processo em que medições repetidas no tempo e no espaço são registradas para indicar variabilidade natural e modificações em parâmetros ambientais, sociais e econômicos. A mensuração destas mudanças contribui com a base de informações necessárias para os gestores avaliarem a efetividade de um plano de gestão e também avalia a eficiência das medidas de prevenção, mitigação e controle tomadas com base nas informações advindas do monitoramento. A integração de dados é um fator essencial nos processos de tomadas de decisão ou avaliação de planos, sendo que o compartilhamento  e integração aumentam a utilidade e eficiência dos dados e possibilitam maior acesso às informações pelos atores envolvidos no processo tanto direta quanto indiretamente.

Este estudo apresenta uma análise da qualidade da água dos mananciais de abastecimento público, de Curitiba e RMC, formados por reservatórios: Piraquara I, Piraquara II, Passaúna e Iraí, empregando o Índice de Qualidade de Água (IQA) e os comparando entre si.

Autores: Ana Carolina Pires Moreira; Daniela Neuffer; Paulo Antonio do Vale Junior; Ely Carlos de Alvarenga e Mauricio Bergamini Scheer.

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