BIBLIOTECA

Brasileiros ainda ignoram a Economia Azul

Economia Azul

Pesquisa inédita mostra que brasileiro reconhece contribuição do oceano para a economia, mas ainda ignora “economia azul”

Os brasileiros reconhecem que o oceano contribui para os resultados de diversas atividades econômicas tradicionais, como a pesca, o turismo e a extração de minerais na costa do País, mas ainda ignoram o potencial de desenvolvimento sustentável e inovador que o oceano pode trazer para diversas cadeias de negócios.

Pesquisa inédita realizada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza em parceria com a Unesco e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que, em uma escala de 0 a 10, o reconhecimento da contribuição do mar para as atividades econômicas no país é de 8,6.

No entanto, o estudo Oceano sem Mistérios: A relação dos brasileiros com o mar aponta que apenas 1% da população tem conhecimento sobre os conceitos de “economia do mar” ou “economia azul”, que propõem uma visão mais abrangente e sustentável da relação entre a humanidade e o oceano.

Foram entrevistadas 2 mil pessoas, homens e mulheres entre 18 e 64 anos, de todas as classes sociais, nas cinco regiões do país. O resultado foi apresentado durante a Conferência dos Oceanos da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em Lisboa, Portugal, de 27 de junho a 1º de julho.

“O estudo nos traz informações inéditas que mostram como a sociedade brasileira está conectada com o oceano e percebe a influência dele no seu cotidiano. A pesquisa nos mostra que as pessoas ainda têm muito a conhecer sobre a participação e a importância do oceano nas suas vidas e na economia. Nesse caminho, acreditamos que o conhecimento, a ciência e a inovação são fundamentais para buscar o equilíbrio entre a conservação do oceano, o bem-estar social e novas oportunidades econômicas”, explica Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.

Riqueza do mar

O Brasil possui quase 7,5 mil quilômetros de costa, além de cerca de 5,7 milhões de quilômetros quadrados de espaço marítimo chamado de Zona Econômica Exclusiva. É do mar que vêm 95% do petróleo, 80% do gás natural e 45% do pescado do país. O oceano também contribui com o turismo, geração de energia renovável e escoamento de 95% do comércio exterior brasileiro.

De acordo com estimativas da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, órgão do Governo Federal que reúne representantes de 15 ministérios, o mar gera R$ 2 trilhões por ano ao Brasil, o que representa 19% do Produto Interno Bruto (PIB).

O cálculo considera a produção de petróleo e de gás, a defesa, os 235 portos do país, o transporte marítimo, a indústria naval, a extração de minérios, além do petróleo, o turismo, a pesca, as festas populares ligadas ao mar e a culinária marinha.

Plano Nacional da Década Oceânica é lançado no Brasil

De acordo com projeção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a atividade econômica ligada ao Oceano em todo o mundo deve chegar a US$ 3 trilhões até 2030.

As atividades desenvolvidas a partir do uso e/ou exploração de recursos marinhos – como pesca, aquicultura, extração de petróleo, transporte marítimo de cargas e passageiros e até atividades náuticas recreativas, esportivas e culturais – compõem a Economia do Mar. Quando essas atividades são desenvolvidas de forma sustentável, inclusiva e considerando o uso e a conservação do oceano, elas também se enquadram na Economia Azul.

A relação do brasileiro com o mar

A pesquisa mostrou que 86% das pessoas não conhecem os termos Economia do Mar ou Economia Azul. Apenas 1% disse conhecer bem os conceitos, enquanto 13% já ouviram falar. Quando questionados sobre atividades econômicas relacionadas ao oceano, de forma espontânea, os entrevistados destacaram principalmente as mais evidentes, como a pesca (58%), o turismo e a hotelaria (27%), a extração de minerais (25%) e a logística e o transporte de pessoas e mercadorias (22%). Chama a atenção também o número significativo (25%) de pessoas que não souberam apontar atividades econômicas relacionadas ao oceano.

Algumas atividades com grande potencial econômico são pouco associadas pela população ao oceano, como geração de energia renovável (6%) e produção industrial (4%). “É provável que esse desconhecimento também se reflita de alguma forma entre os próprios empreendedores e investidores.

“Temos o grande desafio de produzir e compartilhar conhecimento, ampliando a conexão das pessoas com o mar e seus diversos ecossistemas. Importante realçar que o futuro dos negócios e das agendas sustentáveis em todas áreas passa pelo conhecimento da Economia Azul, uma vez que, por exemplo, o oceano está conectado com a água dos rios, o ciclo da chuva e a regulação do clima no planeta, o que impacta indiretamente atividades longe da costa, como a agropecuária”, frisa Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), copresidente do Grupo Assessor de Comunicação para a Década do Oceano da Unesco e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).

O professor ressalta que o potencial biotecnológico existente nos mares é parcialmente conhecido. Pesquisas indicam que estão no oceano respostas e curas para boa parte das doenças que existem e que venham a existir, com grandes possibilidades para o desenvolvimento de novos fármacos e vacinas.

“Para desenvolver todo esse potencial econômico, sem comprometer os diferentes ecossistemas e a biodiversidade marinha, precisamos de mais cooperação entre os diferentes níveis de governo e amplos setores da sociedade”, afirma Fábio Eon, coordenador de Ciências da Unesco Brasil, lembrando que o tema da conservação marinha vem ganhando importância na agenda global, mas os esforços ainda precisam de maior participação em todos os setores e mais ações concretas.

Em 2017, a ONU declarou o período de 2021 a 2030 como a Década do Oceano, que tem como um dos principais objetivos, justamente, incentivar a geração de conhecimentos para a sociedade. A pesquisa aponta, porém, que apenas 0,3% da população já está informada sobre a Década, enquanto 6% apenas ouviram falar sobre o assunto e 93% não têm conhecimento sobre o assunto.

“O estado de conservação do oceano é bastante preocupante. Uma avaliação global da ONU, realizada em 2021, mostrou que precisamos de ações urgentes para reverter o quadro de degradação e ameaça à biodiversidade e aos ecossistemas”, alerta Eon.

A população também foi questionada, de forma estimulada, sobre o quanto determinadas atividades econômicas são impactadas pelo oceano. Aparecem com destaque a pesca (de 0 a 10, tem média 9,3), o turismo e a hotelaria (média 8,6), o transporte e a logística (média 8,0), a indústria (média 8,0) e o empreendedorismo local (média 7,9), compreendendo setores como artesanato, comércio e alimentação. Entre as atividades econômicas mencionadas, a agricultura atingiu a menor média: nota 6,5.

Apesar de não conhecerem em detalhes o potencial das atividades econômicas sustentáveis relacionadas ao oceano, os entrevistados têm uma percepção bastante positiva sobre a contribuição do mar para a economia do país. Em uma escala de 0 a 10, a média é de 8,6, com uma pequena variação entre as regiões do país – com percepção superior no Nordeste (8,9) e levemente inferior no Centro-Oeste (8,3).

Busca por soluções

A Fundação Grupo Boticário, com uma trajetória de 31 anos em prol da conservação da natureza no Brasil, é uma das representantes da sociedade civil no comitê da Década do Oceano no Brasil. Tendo a conservação dos ambientes e ecossistemas costeiros e marinhos como uma das agendas estratégicas, a Fundação tem histórico de apoio a pesquisas e ao desenvolvimento de negócios de impacto socioambiental positivo que promovam soluções para desafios do oceano.

“Procuramos aliar a pesquisa científica a processos de inovação, comunicação e tecnologia para que mais pessoas e atores se envolvam com a causa oceânica de forma prática e sustentável. Acreditamos que negócios bem desenvolvidos têm potencial para serem replicados, gerarem maior impacto para a conservação e contribuírem com o desenvolvimento socioeconômico regional”, afirma Malu Nunes.

Com mais de 250 iniciativas apoiadas em toda a costa brasileira, a atuação da Fundação a favor da biodiversidade e da conservação reforça os compromissos socioambientais assumidos pelo Grupo Boticário até 2030. Entre as ações apoiadas estão a Fiotrar – iniciativa que aproveita aparas de perucas em dispositivos que retiram poluentes do mar – e o Olha o Peixe – clube de assinatura de pescados que conecta pescadores artesanais e o consumidor final.

Sobre a pesquisa

Realizadas pela Zoom Inteligência em Pesquisas, as entrevistas ocorreram entre os dias 5 de março e 12 de abril de 2022. Entre os entrevistados, 62% residem em capitais e 41% vivem em cidades litorâneas. A margem de erro é de 2,2% para um nível de confiança de 95%.

Fonte: Notícia Sustentável

LEIA TAMBÉM: RESERVATÓRIOS TÊM MELHOR PATAMAR DESDE 2012, MOSTRA ONS

ÚLTIMOS ARTIGOS:

CATEGORIAS

Confira abaixo os principais artigos da semana

Abastecimento de Água

Análise de Água

Aquecimento global

Bacias Hidrográficas

Biochemie

Biocombustíveis

Bioenergia

Bioquímica

Caldeira

Desmineralização e Dessalinização

Dessalinização

Drenagem Urbana

E-book

Energia

Energias Renováveis

Equipamentos

Hidrografia / Hidrologia

Legislação

Material Hidráulico e Sistemas de Recalque

Meio Ambiente

Membranas Filtrantes

Metodologias de Análises

Microplásticos

Mineração

Mudanças climáticas

Osmose Reversa

Outros

Peneiramento

Projeto e Consultoria

Reciclagem

Recursos Hídricos

Resíduos Industriais

Resíduos Sólidos

Reúso de Água

Reúso de Efluentes

Saneamento

Sustentabilidade

Tecnologia

Tratamento de Água

Tratamento de Águas Residuais Tratamento de águas residuais

Tratamento de Chorume

Tratamento de Efluentes

Tratamento de Esgoto

Tratamento de lixiviado

Zeólitas

ÚLTIMAS NOTÍCIAS