Resumo
Empresas na área de saneamento comumente são consideradas monopólio natural com clientes cativos na área de sua atuação. Entretanto atualmente os consumidores estão mais conscientes de suas demandas e direitos, e há uma concorrência sutil, mas crescente de empresas da área de saneamento almejando novos mercados e pressionando para este acesso alterações legais e regulatórias. Além disto, há as restrições ao acesso de novas tecnologias existentes e em desenvolvimento.
As forças resultantes dos efeitos da legislação, concorrentes, tecnologia, fornecedores, clientes e demais partes interessadas levam à necessidade de uma mudança de comportamento, como condição para a sobrevivência e o sucesso das empresas de saneamento.
Observar e analisar o ambiente têm sido uma preocupação recorrente em empresas que buscam a competitividade no mercado e avanços na sua atuação e posicionamento.
Portanto, este trabalho irá demonstrar a importância da inteligência competitiva na área de saneamento, que significa a capacidade das empresas de monitorar informações ambientais para antecipar e responder satisfatoriamente aos desafios e oportunidades que se apresentam. A inteligência, neste caso visa, propor um comportamento adaptativo, permitindo que estas mudem e adaptem as suas estratégias, objetivos, produtos e serviços, em resposta a novas demandas do mercado e a mudanças no ambiente.
Introdução
Inteligência competitiva é um processo sistemático de coleta e análise da informação do ambiente empresarial, colaborando para atingir as metas e objetivos, a inteligência, portanto é uma coleção de informações priorizadas e analisadas, ou seja, inteligência é conhecimento (Kahaner,1996). Tarapanoff (2006) descreve que um sistema de inteligência competitiva possibilita organizar a coleta de informações e processar seu tratamento e análise, visando criar um conhecimento de forte valor agregado, a qual colaborará para a tomada de decisões estratégicas. Neste contexto é salientado a importância de levar em consideração todo o macro ambiente, ou seja, o ambiente externo (política, econômica, tecnologia e legal) e os fatores internos como o conhecimento corporativo, os recursos humanos, os recursos financeiros e, finalmente, a estratégia. Vieira e Oliveira (2006) salientam que os objetivos principais da Inteligência Competitiva devem ser as questões relacionadas à análise da concorrência, a fim de gerar conhecimento ou variáveis para favorecer a tomada de decisão com o objetivo na expansão de mercado e lucro.
A Inteligência Competitiva (IC) possibilita também a associação à gestão de riscos. O processo de IC utiliza-se de diversas fontes, que após análise produz o conhecimento para responder a questões específicas sendo possível identificar eventuais riscos empresariais. Esta abordagem propicia ao processo de IC a previsão de riscos e provisão de ações decorrentes dos cenários analisados (Gilad, 2001). A gestão de riscos, portanto, deve ser encarada como um componente da IC face à realidade econômica, pois integra a segurança dos negócios e as demandas de gestão, gerando contribuições para a tomada de decisões, considerando os riscos envolvidos (Kempfer, 2002).
Neste ponto é importante diferenciar a inteligência competitiva da Inteligência de Negócios conhecida como Business Intelligence – BI. BI pode ser definido como um conjunto de ferramentas que colaboram para o armazenamento e análise de informação. O foco em BI não está no próprio processo, mas nas tecnologias que permitem a recuperação, processamento e análise da informação. Alguns autores como Kudyba e Hoptroff (2001) descrevem a Inteligência de Negócios (BI) como uma tecnologia de repositório de dados (Data Warehouse – DW) que permite aos usuários extrair dados e prover relatórios estruturados ou pré-formatados. Avanços em BI ocorrem quando são utilizadas técnicas de mineração de dados (Data Mining – DM) que coletam dados e transformam em informação (Scoggins, 1999).
Para analisar o macro ambiente das empresas de saneamento e os aspectos relacionados a sua competitividade deve-se lembrar que o setor de saneamento no Brasil começou a alcançar um progresso significativo na década de 70 com a formulação do Plano Nacional de Saneamento – PLANASA, suportado pelo Sistema Financeiro do Saneamento – SFS, que estabeleceu metas de 80% de atendimento de água potável e 50% de coleta de esgotos para as regiões urbanas até 1980. Foi a partir deste momento que surgiram as empresas estaduais de saneamento, com a obrigatoriedade dos municípios se conveniarem a estas, a criação no âmbito estadual do FAE – Fundo Estadual de Financiamento de Água e Esgoto, integralizado com recursos provenientes da receita tributária dos estados para subsidiar a tarifa mínima de água em torno de 5% do Salário Mínimo Regional – SMR e assim possibilitar as grandes obras para atender as metas definidas pelo PLANASA.
A partir do final da década de 90 estas empresas começaram a alterar o conceito de empresa de engenharia para empresa prestadora de serviços de saneamento ou empresa de soluções ambientais. Tal mudança fez com que estas empresas mudassem o foco de operadoras de obras para empresas de serviços de saneamento e resíduos sólidos e com isto várias atividades de operação e apoio passaram a ser compartilhadas sendo utilizados modelos diferenciados de parcerias: Parcerias Público Privada – PPP, Sociedade de Propósito Específico – SPE e outros tipos de associações com a iniciativa privada. Como consequência consultores, terceiros e empresas associadas foram abastecidos com grande parte das informações críticas do negócio e passaram a utilizar este conhecimento, testado, aperfeiçoado e ampliado em atividades concorrentes a seus contratantes (empresas de saneamento) em outras áreas e regiões. Portanto para manter-se competitivas as empresas de saneamento devem conhecer o seu macro ambiente e dar atenção especial a quatro(ou quatro?) aspectos:
- segurança das informações estratégicas;
- concorrência;
- tecnologia; e
- legislação.
O surgimento de novas regras como a Lei 11.445 de 05 de janeiro de 2007, e a atual revisão do marco legal do saneamento básico proposto pela Medida Provisória 868/2018 promovem alterações que propiciam uma nova dinâmica para a celebração ou renovação de contratos com os municípios concedentes, permitindo, portanto, a entrada de novos operadores concorrentes. Além disto, há a possibilidade de os concedentes serem organizados em regiões que podem ser operadas por um único prestador potencializando os ganhos de escala. Os estados, o ente federal e as reguladoras podem ainda, a qualquer tempo, alterar as leis e os regulamentos do setor gerando perdas ou novas oportunidades de negócios para os operadores.
No aspecto da inovação é importante entender o estágio de maturidade tecnológica relativa a um assunto de interesse dos operadores. Temas importantes como: perdas comerciais e não comerciais e o desenvolvimento e uso de novas tecnologia nas operações de saneamento devem ser levados em consideração. Entretanto outras questões podem ser respondidas com uso de inteligência competitiva como: onde está sendo aplicada e estudada Tecnologia em saneamento básico? Que patentes estão válidas? Quais estão prestes a expirar? Quais já expiraram recentemente? Que temas são mais pesquisados em tecnologia de saneamento? Que empresas e pesquisadores são mais ativos? Como está a situação no Brasil na área de prospecção tecnológica em saneamento?
Com relação ao aspecto competitivo há a necessidade de antecipar os movimentos dos concorrentes e oportunidades do mercado para, sistematicamente, nutrir os clientes internos com informações para subsidiar a tomada de decisão e correções de rota. A figura 1 indica as forças do ambiente da área de saneamento que merecem atenção especial para que haja sucesso e antecipação das tendências externas e internas.
Autores: Dante Ragazzi Pauli; Ezequiel Ferreira dos Santos; e João Paulo Nocetti Tonello.