ALADYR alerta que a ameaça hídrica de 2014 ainda está latente
São Paulo precisa de pelo menos uma dezena de usinas como a Aquapolo Ambiental para adiar a crise hídrica
A Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (ALADYR) faz um apelo à capital paulista por um investimento massivo em infraestrutura de reúso e por uma reforma legislativa para assegurar o abastecimento hídrico e garantir um desenvolvimento econômico sustentável diante da sombra de uma nova crise.
A Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (ALADYR) convoca as autoridades de São Paulo a adotarem uma visão de futuro. Além disso, a entidade defende a economia circular da água como estratégia essencial para a segurança hídrica da região.
“Os fantasmas da crise de 2014-2015 ainda rondam, são um alerta do futuro que nos espera se não atuarmos com decisão. São Paulo precisa pensar na massificação urgente do reúso”, declararam.
Eles acrescentaram que a megacidade, pulmão econômico do Brasil e lar de uma população metropolitana que ultrapassa 22 milhões de habitantes (IBGE, 2023), ainda pode sofrer uma crise hídrica ainda maior do que aquela que a levou à beira do colapso entre 2014 e 2015. Hoje, eles afirmam que os efeitos imprevisíveis das mudanças climáticas agravam as causas dessa crise.
Secas severas assolam a região Sudeste do Brasil nos últimos anos. A crise de uma década atrás foi a pior em 80 anos. Os reservatórios do Sistema Cantareira chegaram a níveis tão baixos que atingiram o temido “volume morto”. Essa situação forçou racionamentos draconianos e uma busca desesperada por fontes alternativas. Por isso, a pressão demográfica, combinada com a intensa atividade industrial, exige uma carga insuportável aos recursos hídricos disponíveis.
Reúso: Solução Para São Paulo
Marcelo Bueno, diretor da ALADYR no Brasil, destaca a ausência de legislação que incentive o reúso no país. Ele explica que, dada a dependência de rios e represas suscetíveis à contaminação e à variabilidade das chuvas, e considerando que a altitude da Grande São Paulo não favorece alternativas como a dessalinização, o reúso se posiciona como a opção mais viável e principal para ampliar a matriz hídrica da cidade.
Nas palavras de Marcelo Bueno, “Infelizmente no Brasil não existe uma legislação que incentive o reúso e isso é particularmente preocupante em grandes cidades como São Paulo, onde a principal fonte de água são rios e represas que sofrem com a contaminação, e com a estacionalidade e imprevisibilidade das chuvas”.
ALADYR enfatiza que a estratégia mais responsável para a megacidade seria a replicação de projetos comprovados e bem-sucedidos, como o Aquapolo Ambiental.
“No mínimo, São Paulo deveria estar planejando a implementação simultânea de uma dezena de projetos da magnitude do Aquapolo, ao mesmo tempo que acelera drasticamente seus índices de cobertura de saneamento. Não podemos continuar a depender exclusivamente de fontes de água doce cada vez mais escassas e contaminadas”, argumentaram.
Por sua vez, Marcio Da Silva José, CEO da Aquapolo Ambiental, acrescentou que a reutilização da água é uma solução que tem sido adotada com sucesso por grandes cidades ao redor do mundo para enfrentar as crises climáticas e seus impactos.
” Os investimentos importantes que estão realizando atualmente em São Paulo para universalizar a coleta e o tratamento de águas residuais representam uma excelente oportunidade para garantir a produção de água reutilizada para recarregar aquíferos e contribuir para sua regeneração, ao mesmo tempo em que fornece abastecimento público de água de qualidade”, acrescentou.
A solução baseada no Aquapolo
O projeto Aquapolo Ambiental, inaugurado em 2012, é o maior do tipo no continente e tem operado ininterruptamente há mais de uma década, demonstrando a confiabilidade e eficácia do reúso em grande escala. Bem como, com uma capacidade de tratamento de 1.000 litros por segundo (equivalente a 86.400 metros cúbicos por dia), o Aquapolo processa as águas residuais da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) ABC.
Por meio de um processo de filtração por membranas (ultrafiltração) e osmose reversa, a Aquapolo produz água de altíssima qualidade, destinada estrategicamente ao abastecimento das indústrias do Polo Petroquímico de Capuava. Além disso, ao desviar essa demanda industrial da água potável, a Aquapolo Ambiental libera um volume de recursos para consumo humano que, de outra forma, seria consumido em processos industriais.
A ALADYR considera, para seu cálculo, que a demanda diária de água potável da cidade era de aproximadamente 65.000 litros por segundo antes da crise de 2014-2015 (Sabesp), e que se uma parte substancial dessa demanda pudesse ser coberta por água de reúso para usos não potáveis (indústria, irrigação de áreas verdes, limpeza urbana etc.), a necessidade de infraestrutura de reúso é enorme.
O cálculo da ALADYR
A ALADYR apresenta para São Paulo uma solução baseada em dados concretos. Cada projeto equivalente ao Aquapolo Ambiental economiza água potável suficiente para 500 mil pessoas.
1. Aquapolo Ambiental
- Capacidade de reúso: 1.000 litros/segundo (86.400 m³/dia)
- Economia equivalente a: 500.000 pessoas
2. Projetos Aquapolo Ambientais (Proposta ALADYR)
- Economia equivalente ao consumo de 6 milhões de pessoas
- Isso liberaria um volume significativo de água para uma população metropolitana de 22 milhões de habitantes (IBGE, 2023).
Além disso, para Marcelo Bueno, o Brasil tem potencial para ser pioneiro no reúso potável direto em grande escala. Ele afirma que o país possui todas as condições técnicas, com empresas capacitadas e fornecedores globais presentes, para implementar projetos de reutilização em larga escala. No entanto, o que realmente impede o avanço é a falta de uma política de fomento clara.
Marcelo Bueno é enfático ao destacar que “temos todas as condições para implementar projetos de reúso em grande escala no Brasil. Tecnicamente, empresas capacitadas e fornecedores mundiais estão presentes no país. O que realmente falta é uma política de fomento.”
Além disso, a ALADYR enfatiza a necessidade de promover mudanças legislativas para permitir a aplicação de água de reúso em usos potáveis e na fabricação de alimentos. As tecnologias atuais, como osmose reversa e ultrafiltração, garantem qualidade e segurança absolutas para esses fins.
“O desafio não é tecnológico, mas regulatório e percepção pública. Quebrar essas barreiras permitiria que São Paulo liderasse a vanguarda na gestão hídrica mundial”, asseguraram.
A Associação aponta ainda que o custo de investimento em adaptação tecnológica é “infinitamente inferior ao custo social, económico e humanitário de uma nova crise hídrica em grande escala. A interrupção da atividade econômica, o racionamento, as doenças e a deterioração da qualidade de vida que acompanham a escassez de água são preços que São Paulo já não pode se permitir pagar.”
São Paulo tem a oportunidade única de transformar sua vulnerabilidade hídrica em um modelo de resiliência e sustentabilidade. A adoção em grande escala do reúso, com o objetivo de replicar projetos como o Aquapolo Ambiental uma dezena de vezes, é mais do que apenas uma medida de contingência. É um investimento estratégico em um futuro próspero e seguro para milhões de habitantes e para o poderoso motor econômico da região.
Fonte: ALADYR