Desde a tragédia de Brumadinho (MG), em 2019, a Vale se comprometeu a eliminar barragens de rejeitos e passar a usar instalações de processamento a seco do minério de ferro
A Vale pretende eliminar o uso de água nas barragens de rejeitos das minas do Sistema Norte até 2027. Até agora, 90% das operações da mineradora na região, que une as Serras Norte, Sul e Leste, têm gestão de rejeitos secos, apenas com a umidade natural do solo e sem usar barragens.
Os operadores passarão a operar os restantes 10% sem água. A Serra Norte, a única que ainda usa água, tem apenas uma barragem, a do Gelado. No local, a companhia começou este ano a reaproveitar o rejeito, acumulado há 37 anos
Desde a tragédia de Brumadinho (MG), em 2019, a Vale se comprometeu a eliminar barragens de rejeitos e a adotar instalações de processamento a seco do minério de ferro. Essa iniciativa busca reduzir a necessidade da formação de barragens de rejeitos a úmido, que são necessárias quando há utilização de água no processamento do minério. No processamento a seco, não há produção de rejeitos, o que elimina a necessidade dessas barragens.
Atualmente, a empresa constrói a barragem do Gelado pelo método a jusante, elevando-a à medida que atinge certo nível de disposição. Esse formato difere do método a montante, utilizado nas estruturas de Mariana e Brumadinho, ambas em Minas Gerais, que se romperam em 2015 e 2019, respectivamente.
Mineração Circular Sustentável
Para promover a sustentabilidade das operações, a Vale começou, neste ano, a realizar a chamada mineração circular na barragem do Gelado. Essa é uma forma inovadora de reaproveitar os resíduos da operação. Segundo a mineradora, será possível reaproveitar 120 milhões de toneladas de minério a partir da barragem do Gelado para produzir o “pellet feed”. Essa matéria-prima é usada para a produção de pelotas e também é vendida separadamente no mercado como um produto de alta qualidade. Além disso, em 2025, a companhia espera reaproveitar 2,5 milhões de toneladas dos rejeitos.
Na prática, a Vale irá transformar o material considerado rejeito — composto por partículas de minério de ferro que não foram aproveitadas no processo original e por impurezas — em um produto de alta qualidade. Além de dar uma destinação sustentável ao rejeito, o projeto utiliza dragas 100% elétricas para extrair o material, evitando, assim, a emissão de gás carbônico.
Processo Sustentável e Benefícios Econômicos
Posteriormente, na usina, o minério será submetido ao processo de concentração magnética, no qual um ímã separa as partículas ferrosas das impurezas, aumentando significativamente a qualidade do produto final. Finalmente, de Carajás (PA), o “pellet feed” segue por ferrovia para a pelotizadora da Vale, em São Luís (MA).
Gildiney Sales, diretor do corredor Norte da Vale, afirma que o fim do uso de água nos rejeitos do sistema reduz riscos e traz benefícios financeiros e ambientais: “A barragem a seco reduz custos e simplifica o processo, além de ser mais seguro. O processo de reaproveitamento é inédito no Brasil a essa escala.”
O executivo afirma que a operação também se torna mais competitiva, uma vez que reduz custos e complexidade. A companhia não informa o investimento nessa unidade para eliminar o uso de água. A Vale considera Carajás a maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo. A unidade concentra 60% da produção de minério de ferro da Vale.
A operação está inserida na Floresta Nacional de Carajás (Flona), uma área de conservação sob gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Órgão do governo federal com o qual a Vale tem convênio.
Fonte: Valor