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Sistema Cantareira pode terminar ano com 30% de sua capacidade; Grande SP corre risco de crise de abastecimento, diz especialista

Reservatórios Alto Tietê e Guarapiranga também tiveram déficit de chuvas de janeiro a 15 de julho e operam com volumes menores do que em 2013, ano pré-crise

 

cantareira

Imagem Ilustrativa

 

Especialista diz que situação aponta para nova crise de abastecimento em 2022, mas Sabesp nega risco e diz que abastecimento está mais ‘resiliente’ após obras de transposição.

O Sistema Cantareira pode terminar o ano operando com menos de 30% de sua capacidade, de acordo com um prognóstico feito pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Este volume é semelhante aos 27,3% de dezembro de 2013, ano pré-crise hídrica, o que pode indicar desabastecimento em 2022.

Volume igual ou abaixo de 30% caracteriza a fase de alerta para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Para ser considerado normal, o volume de um reservatório tem de estar com pelo menos 60% de sua capacidade.

Os baixos índices de chuva são responsáveis pelo atual volume de água no Sistema Cantareira. De janeiro até 15 de julho deste ano, o reservatório teve apenas 61% de chuvas em relação à média histórica, um déficit de 39%, de acordo com dados da Sabesp.

Na quarta-feira (21), o Cantareira operava com 42,4% de sua capacidade, segundo a companhia. O reservatório abastece 7,3 milhões de pessoas e é o principal fornecedor de água da Grande São Paulo.

Caso mantida esta condição de seca, a região metropolitana de São Paulo pode enfrentar uma crise de abastecimento de água no ano que vem, de acordo com especialista ouvido pelo G1.

Em nota, a Sabesp disse que sua projeção aponta níveis satisfatórios para os próximos meses, até 2022, mas a companhia não comenta a possibilidade de seca a partir de 2022.

Projeção

Na parte superior do gráfico acima, podemos conferir a síntese da projeção do Cemaden, órgão do governo federal ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

A linha rosa representa o comportamento do Cantareira de janeiro a dezembro de 2020. Na ocasião, o sistema terminou o ano com 36% de sua capacidade de armazenamento.

Logo abaixo dela, a linha roxa representa o comportamento do sistema de janeiro a junho de 2021. Ele vai até 45%, volume que o Sistema Cantareira apresentava no momento em que a projeção foi feita.

A partir daí, temos uma previsão do volume a que pode chegar o Sistema Cantareira de acordo com as chuvas que caírem na região. Assim, se até o final do ano tivermos precipitação de chuvas:

  • Acima de 25% em relação à média histórica, o ano terminaria com o Cantareira operando com 53% de seu volume;
  • Se as chuvas ficarem dentro da média, o ano terminaria com 40% de volume no Cantareira;
  • Se as chuvas forem 25% abaixo da média, o Cantareira terminaria o ano com 29%;
  • Se as chuvas forem 50% abaixo da média, o Cantareira termina o ano com 20%;
  • Se o volume de chuvas for igual ao de 2013, ano pré-crise hídrica, o Cantareira chegaria ao final do ano com 25% de sua capacidade.

Como mostra o gráfico a seguir, a redução nas chuvas no Sistema Cantareira até agora foi de 39%, o que nos coloca entre o cenário de -25% e -50% de déficit de precipitação em relação à média histórica. Isso indica que chegaríamos ao final de 2021 com o reservatório operando entre 20% e 29% de sua capacidade.

A análise é do pesquisador Pedro Luiz Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP.

“No Sistema Cantareira, até o último dia 15 de julho, verificou-se uma redução média de 39% nas chuvas de 2021 em comparação à média histórica. Baseado nas simulações do Cemaden e nos prognósticos climáticos disponíveis para o segundo semestre, é possível indicar que – mantendo-se essas condições – o Sistema Cantareira apresentará, em dezembro, um volume total abaixo de 30% e entrará na faixa de restrição”.

No primeiro trimestre deste ano, o volume de chuva na região que abastece o Sistema Cantareira foi o mais baixo desde o final da crise hídrica, em 2016, e ficou abaixo do registrado no primeiro trimestre de 2013.

Déficit em mais reservatórios

Depois do Cantareira, os dois maiores reservatórios que abastecem a região metropolitana também enfrentam déficit de chuvas.

O Alto Tietê, que abastece 5,2 milhões de pessoas, teve 68% de chuvas em relação à média histórica de janeiro até 15 de julho deste ano. Na quarta-feira (21), o reservatório operava com 51,1% de sua capacidade.

Já no Guarapiranga, que abastece 4 milhões de pessoas, a situação também é ruim. Só choveu 77% em relação à média histórica no mesmo período. Na quarta-feira (21), o reservatório operava com 56,4% de sua capacidade.

Esses números são preocupantes porque estão mais baixos do que no mesmo dia de 2013, o ano anterior à crise hídrica, quando o Cantareira operava com 54%, o Alto Tietê, com 62,7% e o Guarapiranga, com 89,8%. Veja na tabela a diferença em pontos percentuais:

Três principais reservatórios da Grande SP operam com volume menor do que em 2013

tabela

A situação atual de armazenamento dos três mananciais, portanto, é pior do que a anterior à crise e aponta para a possibilidade de uma nova crise no ano que vem.

A Sabesp, no entanto, nega a crise e diz que vem realizando nos últimos anos ações que dão mais segurança hídrica “e tornam o sistema de abastecimento da Região Metropolitana de SP mais resiliente”, como ampliação da infraestrutura, integração e transferência entre sistemas, além do incentivo ao consumo menor de água por parte da população.

Essas iniciativas, de acordo com a Sabesp, “permitem afirmar que não há risco de desabastecimento na Região Metropolitana neste momento de estiagem em que a queda no nível das represas é esperada”.

“Ao contrário do que prevê o especialista, a projeção da Sabesp aponta níveis satisfatórios para os próximos meses, até 2022. Medidas adicionais às que já são realizadas serão adotadas se necessário, levando em consideração as projeções da Companhia e todo o trabalho de acompanhamento da situação que visa a assegurar o abastecimento da população. A Companhia reforça a necessidade de uso consciente da água por todos, em qualquer época do ano.”

Para o professor Côrtes, no entanto, o baixo volume armazenado nos mananciais apesar das obras de transposição demonstram o contrário, que o sistema não ficou mais resiliente.

“Apesar de a Sabesp ter feito obras e investimentos significativos após a crise hídrica de 2014-2016, isso não tornou mais resiliente o sistema de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo. O fato de hoje dispormos de um volume total armazenado 17% menor do que em 2013, ano que antecedeu a última crise, mostra que a segurança hídrica diminuiu. Diante disso e, considerando que os prognósticos climáticos são desfavoráveis, é necessário que medidas adicionais e urgentes sejam tomadas. A volta da política de bônus, por exemplo, seria uma delas.”


LEIA TAMBÉM: EM MEIO À CRISE HÍDRICA NO PAÍS, SITUAÇÃO DE HIDRELÉTRICAS E RESERVATÓRIOS É MONITORADA NO CENTRO-OESTE DE MINAS


O bônus e a multa foram algumas das medidas adotadas pelo governo a partir de 2014 para o combate à crise hídrica no estado. Assim, quem economizava água ganhava um desconto em bônus, e quem gastava mais água do que a média de antes da crise hídrica recebia uma multa.

Além do Cantareira, do Alto Tietê e do Guarapiranga, os outros sistemas que abastecem a Grande São Paulo: Cotia, Rio Grande, Rio Claro e desde 2018, São Lourenço. Juntos, eles abastecem 21 milhões de pessoas.

Crise hídrica

O déficit de chuvas não ocorre apenas na região metropolitana. Cinco estados brasileiros, entre eles São Paulo, enfrentam o que já é considerada a pior seca em 91 anos, de acordo com um comitê de órgãos do governo federal, que emitiu pela primeira vez na história um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro.

Além da falta de água nas torneiras de casa, da conta de luz mais cara e do risco de apagão, a seca pode ter impactos significativos na economia brasileira.

Os paulistanos já tiveram a oportunidade de vivenciar uma crise hídrica com racionamento e desabastecimento de água entre 2014 e 2015. No final de maio de 2014, o volume do Sistema Cantareira atingiu 8,4% de sua capacidade, e a Sabesp passou a operar bombeando água do chamado volume morto.

Trata-se de uma reserva com 480 bilhões de litros de água situada abaixo das comportas das represas do Cantareira. Até então, essa água nunca tinha sido usada para atender a população. Em outubro do mesmo ano, o volume do Cantareira chegou a 3,6%.

O quer diz a Sabesp

“A Sabesp vem realizando nos últimos anos ações que dão mais segurança hídrica e tornam o sistema de abastecimento da Região Metropolitana de SP mais resiliente: ampliação da infraestrutura, integração e transferência entre sistemas, além do incentivo ao consumo menor de água por parte da população.

Essas iniciativas permitem afirmar que não há risco de desabastecimento na Região Metropolitana neste momento de estiagem em que a queda no nível das represas é esperada. Ao contrário do que prevê o especialista, a projeção da Sabesp aponta níveis satisfatórios para os próximos meses, até 2022. Medidas adicionais às que já são realizadas serão adotadas se necessário, levando em consideração as projeções da Companhia e todo o trabalho de acompanhamento da situação que visa a assegurar o abastecimento da população. A Companhia reforça a necessidade de uso consciente da água por todos, em qualquer época do ano.

Importante ressaltar, mais uma vez, que os sistemas de abastecimento da RMSP operam de forma integrada, o que permite transferência de águas entre as regiões.

Informações complementares

Alguns dados comparativos entre 2013 e 2021 na Região Metropolitana de SP atendida pela Sabesp:

  • A capacidade máxima de armazenamento de água nos mananciais, sem contabilizar a reserva técnica, saltou de 1,82 trilhões de litros para 1,95 trilhões de litros, aumento de 7,1%;
  • Capacidade de tratamento de água em 2013 era de 73,4 mil litros de água/segundo; em 2021, é de 82,3 mil l/s;
  • Capacidade de transferência de água tratada entre os diversos sistemas de abastecimento foi quadruplicada, passando de 3 mil litros/segundo em 2013 para 12 mil l/s em 2021;
  • Capacidade de reservação de água tratada saltou de 1,7 bilhão de litros em 2013 para 2,2 bilhões de litros em 2021;
  • A produção de água média mensal, por outro lado, caiu de 69,1 mil litros/segundo em 2013 para 62,3 mil l/s atualmente, indicando queda do consumo de água pela população na RMSP;
  • Em maio/2013, o consumo médio era de 157 litros/hab/dia; em maio/2021, ele foi de 128 litros/hab/dia (-18,5%).

Toda essa infraestrutura foi possível em razão de ações realizadas, com destaque para:

  • Integração do sistema de 7 mananciais (Alto Tietê, Cantareira, Guarapiranga, Cotia, Rio Grande, Rio Claro e São Lourenço), envolvendo 155 reservatórios e 10 áreas de interligações, o que permite transferências rotineiras entre regiões, conforme a necessidade operacional;
  • Interligação Jaguari-Atibainha, que traz água da bacia do rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira;
  • Novo Sistema Produtor São Lourenço;

Estão em andamento:

  • A interligação do rio Itapanhaú inicia operação no fim de 2021 transferindo 400 l/s desse rio para o Sistema Alto Tietê. Até julho de 2022, serão em média 2,0 mil l/s;
  • As interligações Rio Grande-Taiaçupeba e a Guaió-Taiaçupeba serão reativadas em 2021, se necessário, após terem suas estruturas modernizadas.
  • Nos 375 municípios que atende, a Sabesp realiza desde 2009 programa para reduzir perdas por meio da troca de ramais e hidrômetros, inspeção das tubulações para identificar vazamentos e fraudes. Esta atuação refletiu-se na queda do índice de perdas totais em sua área atendida de 41% em 2004 para 27% em 2020, abaixo da média nacional: 39,2% (SNIS; 2019).

Do índice total, 17,4 pontos percentuais são os vazamentos na rede, situação semelhante à do Reino Unido, por exemplo. Foi investido R$ 1,05 bilhão no programa em 2020. Em 2021, a previsão é de R$ 820 milhões.”

Fonte: G1.


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