Estudo aponta que, para reduzir o risco de infecção, as pessoas devem evitar atividades recreativas em águas afetadas por descarga de esgoto por pelo menos 2,5 dias durante tempo nublado e pelo menos 24 horas após dias ensolarados
Ondas de calor e tempestades intensas, consequências cada vez mais frequentes das mudanças climáticas, podem aumentar a probabilidade de exposição a humana a vírus associados ao esgoto, aponta um estudo recente realizado por cientistas da Universidade de Bangor, do Reino Unido.
As chuvas também podem resultar em sobrecarga dos sistemas de esgoto urbanos. Como resultado, esgoto bruto não tratado é lançado em rios, lagos e águas costeiras. Em artigo publicado no The Conversation, a pesquisadora Jessica Kevill relatou que os vírus associados ao esgoto podem persistir por dias em certas condições climáticas, aumentando os riscos à saúde de pessoas expostas a efluentes não tratados.
“O esgoto bruto contém urina e excrementos humanos, e carrega consigo uma rica carga de células mortas, resíduos de alimentos, produtos farmacêuticos, bactérias e vírus”, ela escreveu. “Embora a maioria dos vírus eliminados pelos humanos seja relativamente inofensiva, pessoas infectadas com vírus causadores de doenças – como enterovírus e norovírus – podem eliminar bilhões de partículas virais cada vez que vão ao banheiro.”
Os autores do estudo analisaram a persistência de patógenos associados ao esgoto em diferentes condições climáticas. Para isso, desenvolveram métodos que filtram vírus muito danificados para causar infecção, e se concentram somente nos vírus potencialmente infecciosos, e realizaram uma série de experimentos.
Esses experimentos foram projetados para simular eventos climáticos de curto prazo, como tempestades, e mudanças de longo prazo, incluindo o aumento das temperaturas.
“Introduzimos vírus associados a esgoto, como adenovírus e norovírus, em amostras de rios, estuários e água do mar, e rastreamos como eles se degradaram ao longo de duas semanas. Em um experimento, expusemos as amostras a diferentes temperaturas, enquanto em outro, simulamos a exposição à luz solar. Em vários intervalos, medimos os níveis de vírus intactos e potencialmente infecciosos para monitorar seu declínio”
— Jessica Kevill
A partir desses dados, foram calculadas as “taxas de decaimento T90”, que é o tempo que leva para as cargas virais caírem em 90%. As taxas foram medidas separadamente para vírus ainda capazes de causar infecções e para aqueles em todos os estágios de decaimento.
Pelas descobertas, os vírus entéricos (causadores de problemas estomacais) permaneceram infecciosos na água por até três dias em temperaturas de até 30°C. Em temperaturas mais baixas, eles duraram ainda mais, persistindo por até uma semana. Quando expostos à luz solar, sobreviveram menos de 24 horas em um dia ensolarado, e, em dias nublados, permaneceram viáveis por cerca de 2,5 dias.
O trabalho britânico revelou que a luz solar, particularmente a radiação UV, desempenha um papel crucial na aceleração da decadência viral, reduzindo significativamente as concentrações de vírus em poucas horas.
“Para reduzir o risco de infecção, nossa pesquisa sugere que as pessoas devem evitar atividades recreativas em águas afetadas por descarga de esgoto por pelo menos 2,5 dias durante tempo nublado e pelo menos 24 horas após dias ensolarados. E as mudanças climáticas podem piorar o problema: alguns verões podem ver um aumento na contaminação de esgoto, especialmente após chuvas pesadas após secas”, salientou Kevill.
Ela salientou que o problema não se limita ao Reino Unido, já que muitos países continuam a lançar esgoto não tratado ou parcialmente tratado em águas naturais, tornando-o uma preocupação global de saúde.
As descobertas, completou a pesquisadora, destacam a necessidade urgente de melhores práticas de tratamento de esgoto em todo o mundo, e demonstram a necessidade de governos e agências de saúde desenvolverem estratégias de gerenciamento de risco direcionadas que abordem as crescentes ameaças representadas pelas mudanças climáticas.
Fonte: Um Só Planeta