Pesquisa em Maceió aponta existência do material também em cordões umbilicais
Pela primeira vez no Brasil, pesquisadores identificaram a presença de microplásticos em placentas e cordões umbilicais de gestantes, revela artigo publicado nesta sexta-feira (25) na revista “Anais da Academia Brasileira de Ciências”.
O estudo, feito em Maceió (AL), analisou amostras coletadas em 2023, de dez mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes. Segundo o artigo, as gestantes pertenciam à grupo socioeconomicamente vulnerável, de menor renda. Foi identificada a presença de 229 partículas de microplásticos, 110 nas placentas e 119 nos cordões umbilicais. O polietileno, presente em embalagens plásticas descartáveis, e a poliamida, comum em tecidos sintéticos, estão entre os materiais mais encontrados.
“Embora artigos recentes tenham demonstrado a presença de microplásticos no tecido placentário em várias populações, o presente estudo é o primeiro a relatar isso na placenta de mulheres grávidas no Brasil”, diz o artigo, assinado por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e da Universidade do Havaí em Manoa.
O biomédico Alexandre Urban Borbely, professor da UFAL e co-autor do estudo, afirma que os pesquisadores analisaram apenas cerca de 40 gramas de placenta e 40 gramas de cordão umbilical. Estima-se que a quantidade real de partículas de microplásticos por órgão seja ainda maior.
Segundo o artigo, em oito das dez amostras a quantidade de microplásticos encontrada em cordões umbilicais foi maior do que em placentas, o que indica que essas partículas podem atravessar a barreira placentária e chegar até o feto. Borbely diz que isso levanta dúvidas sobre possíveis impactos no desenvolvimento gestacional e na saúde futura da criança.
“Não tem como imaginarmos ainda o que eles [microplásticos] causam, mas estudos em animais de laboratório e modelos experimentais com células humanas já mostram que eles podem estar ligados a alterações”, afirma.
O estudo aponta a poluição marinha como possível origem da contaminação.
“Localizada perto da linha do Equador, na costa nordeste do Atlântico do Brasil, Maceió tem uma rica cultura marítima, onde peixes, mexilhões e caranguejos são comumente consumidos pela população”, diz o artigo, que, mencionando estudos anteriores, afirma que 75% do lixo na orla da cidade é composto por plásticos.
Os pesquisadores destacam, entre outras coisas, a urgência de o Brasil adotar ações que melhorem a gestão de resíduos. Também enfatizam a necessidade de regular os plásticos descartáveis e monitorar a contaminação por microplásticos.
Fonte: Valor