Mesmo quando a guerra acabar, a população ainda vai sofrer com os efeitos das substâncias tóxicas presentes na água e no solo liberadas por munições e explosivos
Os olhares da comunidade internacional pouco se desviam dos preocupantes acontecimentos diários da guerra na Ucrânia. Alguns cientistas, contudo, já estão pensando um pouco mais a frente.
Segundo especialistas, existe grande possibilidade de que elementos tóxicos presentes em armas e equipamentos de combate contaminem a água e solo do país, representando uma ameaça à população.
Granadas, minas e outros tipos de explosivos, por exemplo, liberam amianto no meio ambiente. Mesmo a munição usada pelos soldados, tanto russos quanto ucranianos, contém substâncias tóxicas.
Além disso, refinarias de petróleo foram bombardeadas durante a guerra, fazendo produtos químicos vazarem e permearem o solo e os sistemas hídricos.
Pelo menos 10,5 milhões de hectares de terras agrícolas na Ucrânia já foram prejudicados pelo conflito. Se contaminados, também há consequências para a segurança alimentar global.
Especialistas do Instituto Sokolovsky, da Academia Nacional de Ciências Agrárias da Ucrânia, estimam que o valor de prejuízo pela contaminação do solo chega a US$ 15 bilhões, cerca de R$ 77 bilhões.
Na medida em que esses produtos químicos atingem o solo e a água, é apenas uma questão de tempo para chegarem nos seres humanos e animais.
Entretanto, o efeito dessas substâncias ainda não é claro para os especialistas, já que não é possível prever como o meio ambiente vai lidar com os químicos e de que forma podem chegar até as pessoas.
O Trinitrotolueno, mais conhecido como o explosivo TNT, é um dos elementos mais perigosos das munições, sendo especialmente danoso para a fauna e flora oceânicas.
A substância, indicam cientistas, compromete a capacidade da vida marinha de se reproduzir, crescer e se desenvolver. Estudos também indicam que o TNT, bem como outros explosivos, podem ser cancerígenos.
Já as armas de fogo liberam metais pesados no meio ambiente, como mercúrio, chumbo arsênico e cádmio – esses dois últimos considerados cancerígenos.
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O mercúrio pode causar defeitos congênitos em fetos, enquanto o chumbo pode causar distúrbios de desenvolvimento e abortos espontâneos.
Em um dos principais pontos de conflito na Ucrânia, a cidade de Kharkiv, amostras do solo já denunciam alta quantidade de chumbo e cádmio.
Esses metais pesados ainda têm um efeito negativo para as bactérias do solo e podem causar problemas para as plantas, por inibirem a absorção de micronutrientes.
As substâncias tóxicas também podem ser carregadas pelo vento – especialmente as provenientes de explosivos – e espalhadas pela chuva, contaminando corpos de água até na superfície.
Caso as plantas que absorvem essa água sejam alimentos, como trigo ou vegetais, as substâncias podem ser consumidas pelas pessoas.
A expectativa dos especialistas é de que o Mar Negro, na costa sul da Ucrânia, fique cheio de elementos venenosos esquecidos.
Conforme munições se degradam e corroem, toxinas são liberadas na água e prejudicam o ecossistema marinho.
Para resolver esse problema, cientistas estudam maneiras de retirar os metais pesados do meio ambiente com a ajuda de bactérias. Porém, o processo é caro e demorado.
Fora que a “remoção” é apenas uma transferência dos químicos para outro lugar, onde vão causar menos danos. Mesmo se a Rússia perder a guerra, ucranianos ainda devem sofrer com os efeitos das substâncias tóxicas por muito tempo.
Fonte: veja
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