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Ativistas do clima miram acionistas de gigantes poluidoras

Grandes operadoras de energia seguem expandindo combustíveis fósseis, com lucros recordes. Enquanto alguns ativistas protestam em museus, outros têm apelado diretamente aos investidores para exigir corte nas emissões

Ativistas do clima

Enquanto alguns ativistas do clima têm feito manchete nos últimos meses com atos de desobediência civil, outros estão levando sua causa aos acionistas das principais empresas poluidoras da Europa, da gigante alemã da energia RWE à petroleira francesa TotalEnergies.

Nas assembleias gerais anuais (AGA) dessas multinacionais, representantes do grupo Fridays for Future (também denominado Greve pelo Futuro), fundado por Greta Thunberg, têm exigido planos concretos para redução de emissões de CO2 e o fim da “lavagem verde” (greenwashing) – pseudo-medidas sem real relevância ambiental.

Com o apoio de climatologistas, nessas ocasiões os ativistas também exigem de montadoras como a Mercedes e a Volkswagen ações radicais para cortar emissões. Durante a AGA do Deutsche Bank em maio, a porta-voz do Fridays for Future Luisa Neubauer denunciou “contos de carochinha de mudança verde” propalados pela instituição.

Sozinhas, 100 multinacionais produzem, ao todo, 71% das emissões carbônicas globais, enquanto companhias de combustível fóssil tiveram recordes de lucros durante a crise energética, registrou Pauline Brünger, ativista do Fridays for Future que se pronunciou na assembleia de acionistas virtual da RWE, no início de maio.

Após ser convidada a falar por um “acionista crítico”, ela acusou a firma de fazer lobby há décadas contra a ciência e as metas do clima. Segundo a ativista, a recusa da RWE de assumir responsabilidade pelo próprio impacto climático ficou evidente com a decisão de expandir uma mina de carvão a céu aberto na localidade de Lützerath, no oeste alemão. O projeto prossegue, apesar de intensas manifestações de resistência em janeiro.

“Nenhuma outra companhia em toda a Europa emite tanto [CO2] quando esta”, condenou Brünger. “Nenhuma outra companhia deste continente tem uma dívida tão alta com as gerações presente e futuras.”

Enchentes graves e a seca na África, e a aceleração do derretimento do gelo ártico têm sido associadas às mudanças climáticas impulsionadas pela ação humana. Cientistas alertam que a perigosa marca de 1,5 ºC de aquecimento global em relação à era pré-industrial poderá ser ultrapassada mais cedo do que se espera, devido ao fracasso em cortar as emissões de dióxido de carbono.


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“Sou a voz dos que não têm voz”

O incentivo ao ativismo climático junto a acionistas tem uma história. Larry Fink, diretor executivo da BlackRock, a maior firma de gestão de capital do mundo, afirma que iniciativas pelo clima são positivas para os acionistas, pois asseguram lucratividade no longo prazo.

A BlackRock é a segunda principal detentora de ações da ExxonMobil, maior companhia petroleira não estatal do mundo. Em 2021 ela apoiou a ascensão de acionistas pró-clima ao conselho consultivo, os quais conseguiram fazer aprovar uma medida previamente rejeitada para realinhar as práticas comerciais à transição energética. No entanto, o estilo de ativismo acionista de Fink tem sido tachado de lavagem verde, devido aos investimentos da BlackRock em combustíveis fósseis.

A confederação alemã Kritische Aktionäre, de acionistas éticos, atualmente compra títulos de empresas para adquirir o direito de se manifestar nas assembleias, e apoia a campanha para influenciar os acionistas nas AGAs.

Mas, quando não conseguem um lugar à mesa, o Fridays for Future e outros grupos ativistas também têm apresentado suas exigências às portas das assembleias.

Em 26 de maio, a líder do Fridays for Future em Uganda, Patience Nabukalu, falou do lado de fora da AGA da gigante francesa do petróleo TotalEnergies, que está por trás de um oleoduto previsto para atravessar florestas tropicais virgens do Congo.

Sua colega Luisa Neubauer posicionou-se solidária, tendo registrado que o Deutsche Bank é um grande financiador da petroleira francesa. Alguns ativistas que tentaram bloquear o acesso à AGA foram atacados com sprays de pimenta pela polícia.

“Eu sou a voz dos que não têm voz”, anunciou Nabukalu diante das dependências da TotalEnergies, “porque nossos líderes […] não se importam com o povo, mas sim com os lucros.”

Dias antes, em Londres, acionistas ativistas interromperam em grande número a assembleia geral da Shell e tentaram invadir o palco onde se encontravam os executivos da multinacional do petróleo. A empresa registrou lucros recordes de quase 40 bilhões de dólares em 2021 e anunciou a intenção de intensificar sua produção de combustíveis fósseis.

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