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Crescimento de Vetiver (Chrysopogon Zizanioides) em rejeitos do rompimento da barragem de Fundão no município de Mariana – MG

Resumo

O rompimento da barragem de Fundão, em 5 de novembro de 2015, gerou uma enxurrada de lama e rejeitos de minério de ferro, levando à destruição do subdistrito de Bento Rodrigues em Mariana-MG, causando danos humanos irrecuperáveis, assim como ambientais e socioeconômicos de extrema gravidade. A deposição de milhões de toneladas do rejeito de minério de ferro sobre a superfície da região soterrou a vegetação e o solo, reduzindo significativamente a possibilidade da regeneração natural. Dentre as técnicas de recuperação de áreas degradadas, a fitorremediação é a mais sustentável e a que apresenta os menores custos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência da adubação orgânica e da inoculação com micorrizas, no crescimento vegetativo de mudas de Vetiver. O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso, em esquema fatorial 4 x 2, sendo quatro doses crescentes de composto orgânico (0; 0,5; 1 e 2 kg), com ou sem inoculação de micorrizas, com quatro repetições. As mudas crescendo apenas sobre os rejeitos (0 kg de composto), apresentaram os menores resultados para o crescimento vegetativo em relação aos três parâmetros analisados (diâmetro, número e altura dos perfilhos), evidenciando a baixa fertilidade dos rejeitos. O composto orgânico utilizado, por sua vez, contribuiu para o crescimento das mudas de Vetiver, principalmente nas maiores doses (1 e 2kg de composto). A utilização de micorrizas não influenciou o crescimento vegetativo das plantas. No entanto, mais estudos precisam ser realizados para investigar o efeito dos rejeitos sobre as micorrizas inoculadas. O uso de plantas menos exigentes em fertilidade, associada ao uso de fertilizantes de baixo custo, como o composto de resíduos orgânicos urbanos ou rurais, pode dar uma contribuição significativa na retomada gradativa do potencial de recuperação das áreas afetadas pelo rompimento da barragem do Fundão.

Introdução

O rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro da mineradora Samarco, no dia 5 de novembro de 2015, despejou 34 milhões de m³ de lama. A enxurrada de rejeitos se espalhou pela região rapidamente causando a destruição de Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana-MG, resultando em mortes, devastação de nascentes e florestas, assim como a contaminação do solo e das águas ao longo da bacia do Rio Doce. O acidente é considerado a maior catástrofe ambiental do País, e provocou grandes prejuízos não só na esfera ambiental, mas também social e econômica. (BRASIL,2015).

De acordo com o Laudo Técnico Preliminar do IBAMA (2015) a contaminação gerada pelo rejeito de minério de ferro pode afetar o solo a longo prazo, por ser um material com característica inerte e não apresentar matéria orgânica, tais aspectos contribuem para a desestruturação e alteração do pH do solo. Consequentemente, impossibilitam a recuperação e desenvolvimento das espécies nativas, contribuindo também para a modificação da vegetação local e progressão de ecossistemas diferentes dos originais.

Dentre as técnicas mais comuns para recuperar os impactos negativos das áreas de depósitos de rejeitos de mineração é criar artificialmente uma nova camada superficial do solo. No entanto, os custos são bastante elevados, pois envolve o empréstimo de solo e de banco de sementes de outras áreas (GIL-LOAIZA et al., 2016). Comparada a essas estratégias de remediação, a fitorremediação apresenta baixo custo e é ambientalmente sustentável. De maneira geral, a seleção de plantas é um aspecto fundamental na manutenção a longo prazo de projetos de fitorremediação (KUMAR; MAITI, 2015).

Em geral, a fitorremediação utilizada em áreas degradadas por mineração, está associada a recuperação da resiliência do solo, pois a baixa fertilidade e a reduzida quantidade de matéria orgânica, dificulta a recolonização da microbiota do solo e, consequentemente a sua revegetação (GIL-LOAIZA et al., 2016; MINGORANCE; FRANCO & ROSSINI-OLIVA, 2016). Pode ser utilizada adubação mineral, deste que associada com a adição de material orgânico; adubação verde, adição de biossólido, composto orgânico, etc. O uso de micorrizas também é citado em vários trabalhos de recuperação de áreas degradadas, por auxiliar o estabelecimento das plantas, especialmente pelo fornecimento de fósforo (GAMALERO et al., 2009; BAHRAMINIA et al.; 2016).

Uma das plantas mais utilizadas em projetos de recuperação de áreas degradadas é o capim vetiver (Chrysopogon zizanioides). Esta planta é considerada uma das culturas mais versáteis do milênio com base em suas inúmeras qualidades, como um espesso e profundo sistema radicular e tolerâncias a condições adversas (elevados teores de metais pesados, solos ácidos ou muito alcalinos, grandes amplitudes de temperatura, etc) (KHAN, 2006; SAEB et al., 2015).

Segundo PEREIRA (2006), o vetiver é uma gramínea com alta capacidade de se estabelecer em ambientes de condições extremas. Seja em ambientes áridos ou com alta umidade, de caráter básico ou ácido (pH entre 3,5 a 9,6), podem vegetar solos moderadamente salinos até os muito salinos. Desenvolvem-se tanto em solos arenosos quanto em nos argilosos, sendo tolerante a metais pesados, como o cádmio, mercúrio, níquel, cobre, zinco, arsênico, cromo e selênio. O vetiver também possui uma forte associação simbiótica com uma vasta gama de microrganismos do solo, como os fungos micorrízicos arbusculares, presentes na sua rizosfera e que fornecem nutrientes e fitormônios ao desenvolvimento das plantas (SIRIPIN, 2000).

As barreiras de capim Vetiver, por exemplo, são eficazes em retardar o escoamento da água, reter sedimentos, estabilizar taludes, valetas e bacias de captação, proteger cursos d’água, e em um cultivo simultâneo com outras culturas, na proteção e melhora das características e propriedades do solo (CHAVES et al, 2013).

Assim sendo, o presente trabalho objetivou avaliar o desenvolvimento vegetativo de Vetiver (Chrysopogon zizanioides), tendo como substrato os rejeitos do rompimento da barragem do Fundão – Mariana (MG), e doses crescentes de composto orgânico, com e sem utilização de micorrizas.

Autores: Nathália Corrêa das Dores e Valéria Cristina Palmeira Zago.

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