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Utilização dos conceitos da ecoeficiência na gestão do consumo de água e da geração de efluentes hídricos no processo de fabricação de celulose kraft de eucalipto

A fabricação de celulose kraft, o consumo de água e a geração de efluentes hídricos

Quando comecei a ler sobre esse tema que vivencio em minha carreira profissional desde seu princípio, lá pelos idos anos dos 70’s, depareime com um artigo de nosso competente amigo Dr. Allan M. Springer, uma das maiores autoridades mundiais sobre combate e minimização da poluição hídrica em fábricas de celulose e papel. Essa personalidade do setor é 8 inclusive muito conhecida no Brasil e tem diversos de seus trabalhos citados em nossa seção de referências bibliográficas. Em seu artigo publicado em 1978 na revista finlandesa Paperi ja Puu, ele comentava a evolução na redução do consumo de água por tonelada de celulose produzida em fábricas nos Estados Unidos da América.

O que me surpreendeu foram os números. Em 1946, esse consumo foi reportado como sendo de 417,3 m³/odt (tonelada absolutamente seca); em 1956 de 177 e em 1972 de 112 m³/odt. Fantásticos e inimagináveis volumes de água sendo consumida para se produzir apenas uma tonelada absolutamente seca de celulose, vocês concordam? Por outro lado, a OECD – Organization for Economic Cooperation and Development, em um relatório realizado por especialistas do setor e publicado em 1973 relatava consumos específicos de água de 240 m³/adt (tonelada seca ao ar) de celulose. Além desse enorme consumo de água, ainda se referiram no relatório a valores que foram considerados normais para a época, para algumas cargas poluentes nos efluentes hídricos: SST (Sólidos Suspensos Totais) = 33,3 kg/adt e BOD5 (“Biochemical Oxygen Demand”) = 45 kg/adt.

Quando vejo esses números de cerca de 4 a 6 décadas atrás, posso comprovar como evoluímos muito nesses aspectos de consumo de água e qualidade de nossos efluentes, mas não me acomodo e nem me sinto ainda confortável com os valores atuais sendo praticados em muitas operações industriais. Hoje as melhores fábricas de celulose kraft branqueada de mercado com tecnologias estado-da-arte consomem entre 20 a 30 m³ de água/adt e possuem valores de SST de cerca de 1,0 a 1,5 kg/adt e de BOD5 de 0,5 a 1,5 kg/adt. Uma grande melhoria, não tenho dúvida alguma, mas com enormes oportunidades para se melhorar ainda mais.

Há um grande esforço sendo colocado nesse tema, e isso se tornou mais evidente a partir de segunda década dos anos 90’s, quando se incrementou o conceito de fechamento de circuitos e de fábricas de mínimo impacto ambiental, tudo resultante da nova consciência ambiental que prosperou a partir do grande evento “Earth Summit” de 1992, realizado no Rio de Janeiro/Brasil e por aqui conhecido como Eco 92. A década dos 90’s foi também bastante conturbada para o setor de produção de celulose e papel devido à famosa crise das dioxinas, compostos tóxicos altamente perigosos encontrados em efluentes de fábricas que usavam o cloro elementar em sua etapa de branqueamento da celulose. Isso obrigou o setor a programar esforços e muita pesquisa para minimizar o efeito tóxico de seus efluentes hídricos, bem como de reduzir as quantidades na geração dos mesmos.

Diversos eventos internacionais foram realizados para debater o tema consumo de água, fechamento de circuitos e geração de efluentes, entre os quais os mundialmente conhecidos eventos 9 sobre “Minimum Effluent Mills Symposiums” e “Closed Cycle Mills Sessions” promovidos pela nossa entidade parceira TAPPI – Technical Association of the Pulp and Paper Industry, nos Estados Unidos da América. Essa busca se propagou rapidamente para todos os países líderes em produção e geração de tecnologias em celulose e papel, tais como Finlândia, Canadá, Suécia, Japão e inclusive para o Brasil.

Hoje, o Brasil desponta no cenário mundial como um dos países com algumas das fábricas mais modernas para produção de celulose kraft branqueada, similarmente com o que acontece com Chile, Uruguai, Indonésia e China. Apesar de essas fábricas terem tido uma significativa evolução em relação às fábricas da década dos 90’s, ainda podemos trabalhar com muita certeza para melhorar ainda mais esses indicadores ambientais, tanto para fábricas existentes como para novos projetos industriais do tipo “greenfield”.

Autor: Celso Foelkel.

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