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Uso da radiação solar na desinfecção da água de poços rasos

Resumo

Uso da radiação solar na desinfecção da água  – Com o objetivo de avaliar a eficiência da exposição à radiação solar na desinfecção da água, amostras de água de poços rasos foram acondicionadas em garrafas “PET” (Polietileno Teraftalato) com volume de 2.000 mL, e expostas ao sol por 2, 5 e 12h. Antes da exposição, após a exposição e em amostras que permaneceram 2, 5 e 12h protegidas do sol (controles) foram determinados os números mais prováveis de coliformes totais e Escherichia coli e os números de microrganismos mesófilos. Foi verificado ainda o recrescimento bacteriano após 72h da exposição ao sol em amostras protegidas da ação da luz solar e a quantidade de energia recebida pelas amostras após os três tempos de exposição à radiação solar. Os resultados obtidos evidenciaram que a radiação solar foi eficaz na desinfecção da água com reduções, após 12h de exposição, de 98,2%, 99,9% e 100% nos números de microrganismos mesófilos, coliformes totais e E. coli, respectivamente. Foi verificada a ausência de recrescimento de todos microrganismos pesquisados após 12h de exposição ao sol. Os resultados evidenciaram que a exposição à radiação solar da água de consumo humano, acondicionada em garrafas PET, pode ser utilizada para diminuir o risco de enfermidades de veiculação hídrica.

Introdução

A água é o mais importante recurso natural do mundo e sem ela a vida não pode existir. Em 1854 uma epidemia de cólera em Londres causou 10.000 mortes e relacionou pela primeira vez uma doença com contaminação da água de consumo por bactérias entéricas através da poluição da mesma por esgoto doméstico (BATES, 2000).

Em relação a água de consumo humano, ISAACMARQUEZ et al. (1994) afirmam que ela é um dos mais importantes veículos de enfermidades diarreicas de natureza infecciosa, tornando-se primordial a avaliação da sua qualidade microbiológica. Dentre os mananciais de água subterrânea utilizados no meio rural nos Estados Unidos os poços rasos e as minas representam quase 100% das fontes de abastecimento individual cujas águas não são tratadas nem monitoradas regularmente, colocando em risco a saúde da população consumidora (SWOROBUCK et al., 1987; CASON et al., 1991). Em nosso país a situação é semelhante, ressaltando-se a afirmação de HOFFMANN et al. (1994) que no Brasil a proteção das águas subterrâneas tem sido negligenciada, apesar de sua grande importância do ponto de vista econômico e estratégico sendo, portanto, necessária uma maior proteção contra as diversas fontes de contaminação das mesmas.

AMARAL et al. (1994), analisando amostras de água de poços rasos, localizados na zona urbana do Município de Jaboticabal, SP, encontraram 92,1% das amostras fora dos padrões microbiológicos de potabilidade para consumo humano. AMARAL et al. (2000) em estudo realizado em propriedades suinícolas, situadas na região nordeste do Estado de São Paulo, verificaram que 62,5% das amostras das fontes de abastecimento estavam fora dos padrões de potabilidade em decorrência da presença de coliformes totais e coliformes fecais nas amostras analisadas.

GALBRAITHet al. (1987) citam que de 1937 a 1986, no Reino Unido, 43,0% dos surtos de doenças veiculadas pela água foram em decorrência da ingestão de água oriunda de fontes privadas, afetando em torno de 2.000 pessoas. EMBIL et al. (1984) e DENNIS et al. (1993) verificaram na Nova Escócia e Inglaterra relações positivas entre consumo de água oriunda de poços e a prevalência de giardíase e parasitimo por Ascaris lumbricoides, respectivamente, enquanto BERGEISEN et al. (1985) relacionaram a ocorrência de surto de hepatite A, nos Estados Unidos, com o consumo de água de minas não tratadas.

O processo de desinfecção pela energia solar tem 2 componentes principais a luz ultravioleta, que irradia os microrganismos e induz a formação de formas reativas de oxigênio e a radiação infra-vermelha que aquece a água. JOYCE et al. (1996) obtiveram eliminação da Escherichia coli em amostras de água de baixa turbidez após 7h de exposição solar da água contida em garrafas transparentes com volume de 2.000 mL.

Segundo WEGELIN et al. (1994) para que a desinfecção pela luz solar seja eficiente a água a ser desinfetada deve apresentar turbidez < 30 NTU. REED et al. (2000) avaliando a eficiência da energia solar na inativação de bactérias de origem fecal em trabalho realizado na Índia e na África do Sul verificaram que a agitação vigorosa do frasco de água, incorporando oxigênio, aumenta bastante a capacidade de desinfecção verificando a inativação completa desses microrganismos entre 3 e 6h de exposição da água ao sol.

CONROY et al. (1999) em estudo realizado com 349 crianças da comunidade Maasai na África verificaram que o consumo de água tratada pela exposição ao sol reduziu de maneira significativa o risco do aparecimento de diarréias nos que consumiram água exposta ao sol quando comparados com os que consumiram a água sem a exposição. CONROY et al. (2001) afirmam que a desinfecção solar da água pode auxiliar muito no controle de epidemias de cólera.

O presente trabalho  (Uso da radiação solar na desinfecção da água ) teve como objetivos verificar a eficácia da utilização da radiação solar na desinfecção de água de poços rasos contaminadas naturalmente por microrganismos indicadores, a possível existência do recrescimento bacteriano após a desinfecção e fornecer subsídios para a aplicação desse método de desinfecção com base na quantidade de energia recebida pela água e inativação dos microrganismos pesquisados.

Autores: L.A. Amaral, A.P. Nunes, J. Castania, C.S. Lorenzon, L.S.S. Barros, A. Nader Filho.

Uso da radiação solar na desinfecção da água


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