Resumo
O tratamento de efluentes é um ramo da engenharia sanitária que precisa aprimorar-se constantemente conforme o aumento da geração de efluentes poli-contaminados. Um efluente poli-contaminado apresenta em sua composição diversos poluentes como nutrientes, nitrogênio e fósforo, metais e matéria orgânica, portanto um tratamento simplificado não irá alcançar o padrão de lançamento. Para a seleção de um tratamento adequado neste efluente é importante realização de uma caracterização química, física e ecotoxicológica. Portanto o objetivo do presente trabalho foi avaliar o teste de fitotoxicidade com germinação e elongamento de raízes de alface na determinação da toxicidade do efluente de banheiros de aeronaves. A escolha deste ensaio foi devida as seguintes características do efluente: cor, pH elevado e alta concentração de nitrogênio amoniacal. O efluente estudado nesta pesquisa foi proveniente do banheiro de aeronaves do Aeroporto Internacional de Guarulhos – “Governador André Franco Montoro”, localizado na região metropolitana de São Paulo, Brasil. O organismo bioindicador foi a semente de alface conforme o método da USEPA (seed germination and root elongation). O efluente de banheiro de aeronaves apresentou uma composição semelhante a urina humana com um pH igual a 8,9 e uma elevada concentração de nitrogênio amoniacal (4215 mg L-1) e fósforo (430 mg L-1). O efluente de banheiro de aeronaves apresentou uma toxicidade alta (UT = 40) no ensaio de fitotoxicidade e expressou a complexidade do efluente analisado. Conclui-se que o efluente de banheiro de aeronaves é tóxico e precisa passar por um tratamento para a remoção de seus principais contaminantes.
Introdução
O tratamento de efluente pode ser avaliado a partir de ensaios químicos, físicos e biológicos. Dentro dos ensaios biológicos, os ensaios ecotoxicológicos, são um procedimento útil na determinação da eficiência do tratamento do efluente.
Ensaios ecotoxicológicos em efluentes líquidos devem abranger bioindicadores de diferentes níveis tróficos, como produtores, consumidores primários, secundários e decompositores, de ambiente terrestre e aquático para determinar os possíveis impactos negativos causado pelo lançamento de efluentes no ambiente. Esta ampla gama de organismos é necessária para representar a relação de multiplicidade dos ecossistemas, pois somente um organismo não representaria todos os efeitos possíveis sobre ecossistema (COSTA et al., 2008).
A escolha dos organismos bioindicadores para ensaios ecotoxicológicos com efluentes heterogêneos deve ser criteriosa. No Brasil a resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) nº 430 de 2011 estabelece que “os ensaios de ecotoxicológicos deverá ser realizado em organismos aquáticos de pelo menos dois níveis tróficos diferentes”. No entanto essa resolução não específica quais organismos devem ser empregados. Segundo Oliveira-Filho (2013) é recomendável a realização de ensaios ecotoxicologicos com três organismos de níveis tróficos distintos. A determinação da toxicidade de efluentes poli-contaminados como o lixiviado de aterro sanitário necessita de no mínimo quatro organismos de diferentes conforme Bernard et al. (1996). De acordo com a complexidade do efluente a ser analisado é imprescindível estimar a toxicidade em vários organismos bioindicadores, portanto é fundamental pesquisar novos métodos para a determinação da toxicidade.
Os ensaios ecotoxicologicos podem ser realizados em organismos decompositores, (Vibrio fischeri conhecido como sistema Microtox®, Pseudomonas putida); microalgas (Chlorella vulgaris); microcrustáceo (Daphinia similis, Ceriodaphinia dúbia), peixes (Danio rerio, Poecilia reticulata) (Oliveira-Filho, 2013).
Um organismo internacionalmente empregado nos ensaios de toxicidade é a bactéria de vida marinha Vibrio fischeri. A realização de toxicidade com este organismo apresenta as seguintes desvantagem: alto custo, necessidade de ajuste de pH e efluente colorido interfere no resultado. Além disso, a concentração de sais no efluente também pode interferir no negativamente no ensaio, devido ao estimulo ao organismo teste. Na determinação da sensibilidade de diversas ao lixiviado de aterro sanitário, Kalčíková et al. (2011), encontraram que os organismos com menores sensibilidades foram Artemia salina e Vibrio fischeri, pois organismos de ambientes marinho geralmente apresentam uma menor sensibilidade em efluente com elevada salinidade. Sendo assim, esse organismo dever ser utilizado em amostras líquidas sem cor e baixa concentração de sais.
Os ensaios ecotoxicológicos com organismos aquáticos já estão estabelecidos e normatizados internacionalmente. Contudo, ensaios com organismos terrestres, são utilizados extensivamente no meio científico e precisam ser padronizados. Os ensaios de fitotoxicidade, estudos de toxicidade com plantas, são simples e versáteis, foram utilizados com diversos resíduos líquidos em diferentes espécies de plantas. Young et al. (2012) utilizaram o ensaio para avaliar a toxicidade de efluente de reatores anaeróbio tratando resíduos agrícolas. Lin & Xing (2007) empregaram o teste de germinação e crescimento de raízes com seis espécies para avaliar a toxicidade de Nano partículas. O teste de toxicidade com planta aquática (Lemma minor) e terrestre (Brassica rapa e Lepidium sativum) mostraram ser sensível e confiável na avaliação da toxicidade de lixiviado de aterro sanitário in natura e tratado (DEVARE & BAHADIR, 1994). Esse método de fitotoxicidade com semente é padronizado pela US EPA, no entanto ainda não foi normatizado no Brasil. Portanto, o objetivo do presente trabalho foi determinar a toxicidade de efluente de banheiro de aeronaves com o teste de germinação e crescimento das raízes de alface (Lactuca sativa).
Autores: Jorge Luiz da Paixão Filho e Adriano Luiz Tonetti.