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Avaliação do potencial de reúso agropecuário dos efluentes de estações de tratamento de esgoto da Embasa, situadas no semiárido Baiano

Resumo

Os crescentes problemas de escassez dos recursos hídricos, provocados pelo aumento da demanda devido ao crescimento populacional, a falta de gestão do uso e ao lançamento de esgotos que, mesmo tratados, têm levado ao comprometimento dos mananciais, levaram a que o reúso da água voltasse a ser considerado. Outro fator que contribuiu para o desenvolvimento das práticas de reúso foi o maior rigor das legislações ambientais em relação ao padrão de qualidade de lançamento dos efluentes e uma maior cobrança da sociedade para que as empresas do ramo do saneamento ambiental evoluam para o uso de técnicas menos impactantes. O estado da Bahia tem cerca de 70% de sua área incluída na região semiárida, onde vive, aproximadamente, a metade da população do estado, sendo que desta, pouco mais da metade vivem em áreas urbanas. As condições climáticas e geológicas do semiárido fazem com que a maioria dos rios seja intermitente, os quais se caracterizam por não ter vazão nos períodos de estiagem, o que requer na maior parte dos meses do ano um nível alto de tratamento para que não haja poluição destes mananciais, tendo em vista que o lançamento do efluente tratado diretamente no talvegue e solos dos cursos de água é ilegal e ambientalmente inadequado. Quanto maior o nível do tratamento, maiores são os custos associados, o que inviabiliza a adoção em grande escala pelas empresas de saneamento ambiental, cujo maior esforço está hoje em dia na ampliação do acesso ao esgotamento sanitário. Este trabalho tem por objetivo avaliar o potencial de reúso com fins agropecuários dos efluentes líquidos tratados pelas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) operadas pela Embasa. Para tanto, foram definidos atributos aos quais foram atribuídos pesos e notas para cada um, obtendo-se uma nota final classificatória do seu potencial de reúso para cada ETE estudada. Aos cinco atributos anteriormente definidos foi acrescido mais um: qualidade do efluente para irrigação, por entender que a qualidade da água de irrigação pode se tornar um fator limitante e pode, inclusive, inviabilizar a prática do reúso de efluentes com fins agropecuários. Com a utilização da ferramenta GIS, associou-se a cada faixa de notas um padrão de cor, aplicado às áreas estudadas. Através da ferramenta SIG (Sistema de Informação Geográfica), foram analisadas as relações espaciais entre as ETE’s e os respectivos atributos. Entre as quatro estações de tratamento, a ETE de Itaberaba foi a que obteve maior pontuação e, portanto maior potencial de reúso agrícola.

Introdução

Este trabalho tem por objetivo avaliar o potencial de aplicação na agropecuária dos efluentes líquidos tratados pelas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) operadas pela Embasa. Para tanto, foram definidos seis atributos aos quais foram atribuídos pesos e notas para cada um, obtendo-se uma nota final para cada área estudada. Com a utilização da ferramenta SIG (Sistema de Informação Geográfica), foram analisadas as relações espaciais entre as ETE’s e os respectivos atributos e, no final, associou-se a cada faixa de notas um padrão de cor. Esta ferramenta é específica para tratar dados com componentes espaciais, ou seja, dados que possuem uma referência geográfica com coordenadas. As vantagens na utilização de um SIG em estudos diversos, incluindo a área ambiental, são a visualização espacial dos dados, suas relações de proximidade e distância; bem como a observação visual e gráfica de fenômenos perceptíveis apenas através de imagem.

Na Bahia, o semiárido ocupa uma área de 393.056Km², cerca de 70% da área do estado; sendo o local onde moram 6.453.283 pessoas, aproximadamente metade da população do estado, das quais 53% em áreas urbanas (BRASIL, 2005; IBGE, 2002). Nesta região, nos frequentes períodos de estiagem, há significativa redução de vazão nos poucos rios perenes e, nos muitos rios intermitentes, o fluxo cessa por completo. Nestas condições, o lançamento de efluentes domésticos urbanos nos corpos d’água representa uma certeza de poluição, pois, considerando a razão entre a carga poluente e o volume de água nesta região semiárida, o corpo receptor tem pouca ou nenhuma capacidade de diluição desses efluentes líquidos, mesmo que previamente tratados. Souza e Mota, 1994, estimam que para absorver a carga orgânica lançada nos rios, estes teriam que ter uma vazão correspondente a 40 vezes à vazão dos efluentes. Portanto, para evitar que ocorra poluição nestes rios, o nível do tratamento tem de ser de tal ordem, que os custos associados os inviabiliza enquanto prática de tratamento de esgotos domésticos (SOUZA; MOTA, 1994; SOUZA et al., 2003).

O reúso de águas residuárias na agricultura nestas regiões semiáridas, como técnica de pós-tratamento, possibilita a adoção de técnicas de tratamento de baixo custo, a nível secundário, pois o efluente final, após percolar subsuperficialmente no solo, tem sua carga orgânica poluente reduzida. Isto se dá pelo fato do solo, dentro de sua capacidade e limite de absorção, atuar como meio filtrante [físico e químico], possibilitando que a adsorção do material orgânico em suspensão e dissolvido no efluente facilite pelas argilas eletricamente carregadas estimule a ação microrganismos decompositores que tratam o efluente.

Os microorganismos usam a matéria orgânica contida no efluente como alimento, convertendo-a em matéria mineralizada, nutriente, a qual fica à disposição para absorção radicular da vegetação.

A questão ainda a ser mais bem definida tanto técnica como legalmente, é até que ponto uma classe de solo específica, entre as treze atualmente catalogadas pela Embrapa, consegue absorver e tratar certo volume desse efluente das ETE sem, contudo, perder essa sua capacidade de meio filtrante.

Assim, a aplicação de águas residuárias na agricultura via irrigação, além de propiciar uma fonte permanente de água para a agricultura, possibilitando o desenvolvimento de atividades agrícolas de subsistência e comercial durante todo o ano em regiões onde o desenvolvimento sustentável e a geração de trabalho e renda tem a água como principal fator limitante.

Esse reúso agropecuário com efluentes tratados de ETE também pode permitir o enquadramento dos rios em classes de qualidade compatíveis com os usos mais exigentes a que forem destinadas e diminuindo os custos de mitigação da poluição das águas.

Igualmente, além de estimular essa prática não só importante, mas necessária ao estágio atual desenvolvimento da sociedade, o presente trabalho também propõe principalmente o uso de uma metodologia, claramente estabelecida por meio de uma matriz avaliativa do potencial de reúso de ETE, que pode, eventualmente, ser ajustada e adequada às diversas realidades e condições edafoclimáticas.

Autores: Evanildo Pereira de Lima e Helder Guimarães Aragão.

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