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Relação da qualidade da água e cobertura da terra em microbacia antropizada do cerrado mineiro

Resumo: O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade da água superficial e sua relação com a cobertura da terra no alto curso do ribeirão Conquistinha em área sob influência de atividade antrópica pela cidade de Uberaba-MG por meio de análise integrada dos recursos hídricos apoiada por geoprocessamento. Realizou-se campanhas mensais de coleta e análise da água superficial de acordo com padrões recomendados pelo Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, no período entre outubro de 2012 a setembro de 2013, em três pontos distintos. Concomitantemente produziu-se uma carta-imagem da cobertura da terra para as cinco categorias mais representativas referente ao período de junho de 2011 (i.e., data próxima à de amostragem), cujas proporções verificadas foram: 42,07% agricultura, 29,97% de pastagem, 20,17% de atividade humana, 7,70% vegetação nativa e 0,09% de superfície aquosa. A qualidade da água foi avaliada segundo o Índice de Qualidade da Água (IQA) e a carta-imagem produzida por processo de classificação de imagens do Sensoriamento Remoto. Os resultados das análises de água apresentaram valores que se restringem às classes inferiores adotadas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) para o IQA. Por meio de análise integrada dos recursos hídricos conclui-se que em regiões em que a presença humana é maior, também é a degradação da qualidade da água, já em regiões rurais, essa qualidade foi ligeiramente melhor. O planejamento urbano para o crescimento da cidade nesta direção deve ter cautela uma vez que a qualidade ambiental, especialmente quanto aos recursos hídricos, já se encontra comprometida.

Introdução: A água é um elemento indispensável à sustentabilidade da vida e um recurso fundamental para diversas atividades humanas. A poluição hídrica altera as características da água, o que limita seu uso pelo homem (Von Sperling, 1996; Sardinha et al.,2008). Sua condição qualitativa é avaliada por características físicas, químicas e microbiológicas, uma vez que a poluição de um manancial as altera (Cruz, 2003), e conhecer a qualidade da água é fundamental para a determinação da atividade causadora da poluição (Von Sperling, 2007), bem como para planejar ações mitigadoras. A qualidade da água está relacionada às condições naturais, a interferências dos seres humanos e o controle está relacionado ao planejamento global, em escala de toda a bacia e não apenas pontual (Von Sperling, 2007). Desse modo, a boa qualidade da água refere-se a um padrão próximo ao “natural”, antes do contato do homem com os cursos hídricos (Sardinha, et al., 2008). Nesse contexto, o planejamento integrado dos recursos hídricos é útil por considerar as relações entre solo-água e o homem. Dentre as várias formas de ocupação humana, a agricultura é a mais representativa, exercendo influência na utilização dos recursos hídricos e contribuindo com possíveis poluições difusas ao longo dos cursos d’água (Pinheiro et al., 2014). Para monitorar a qualidade da água o Índice de Qualidade da Água (IQA) é uma ferramenta útil, pois permite acompanhar alterações de qualidade hídrica a custos reduzidos (Toledo & Nicolella, 2002). Devido à natureza espacial intrínseca das informações acerca da Bacia Hidrográfica, o emprego de geotecnologias tem se tornado fundamental para estudos e análises relacionadas aos recursos hídricos. Segundo Galvíncio et al. (2006), os avanços tecnológicos promovidos pelos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e a disponibilidade crescente da qualidade dos Modelos Digitais de Elevação (MDEs) têm ampliado o potencial de sua aplicação para muitos hidrologistas, engenheiros hidráulicos, atividades relacionadas aos recursos hídricos e investigações ambientais. O estudo da qualidade da água e do uso do solo na bacia do ribeirão Conquistinha localizada nos municípios de Uberaba e de Delta, na região do Triângulo Mineiro, Estado de Minas Gerais é necessário, pois a empresa responsável pelo saneamento e abastecimento público da cidade de Uberaba iniciou em 2010 a construção de uma nova Estação de Tratamento Esgoto (ETE) no ribeirão Conquistinha (não concluída até maio de 2016) que, segundo estimativas, com sua instalação a cidade elevará sua capacidade para tratamento de aproximadamente 98% dos efluentes (CODAU, 2008). Atualmente estão em operação a ETE Francisco Velludo, que trata cerca de 76% de efluentes; e a ETE compacta Filomena Cartafina que trata cerca de 2%, enquanto o restante é lançado em mananciais superficiais sem qualquer tratamento (PMU, 2009). Assim sendo, há registros de lançamentos de efluentes sem tratamento, bem como disposição de resíduos sólidos nas margens e no próprio canal fluvial do ribeirão Conquistinha; tais práticas ocorrem na região de nascente, o que degrada a qualidade da água do manancial e produz consequências ambientais e sanitárias prejudiciais às populações e usuários à jusante, bem como indiretamente as populações dos dois municípios, uma vez que a região produz gêneros alimentícios consumidos em ambos núcleos urbanos. Estudos recentes (Xiao et al., 2016) afirmam que escalas espaço-temporais utilizando informações espaçotemporais são de vital importância para prover uma perspectiva acerca da relação entre o padrão da paisagem e a qualidade da água dos rios Adicionalmente, o ribeirão Conquistinha localizase no bioma Cerrado, o segundo maior bioma brasileiro, presente em 12 estados, caracterizado por apresentar grande quantidade de espécies de mamíferos, peixes, avifauna, anfíbios e répteis. Todavia algumas dessas espécies correm risco de extinção decorrente de ações antrópicas como o desmatamento para propiciar o avanço das fronteiras agrícolas (MMA, 2013). Fonseca (2012) relata que o cerrado apresenta particularidades e peculiaridades, sendo considerado como um ambiente ímpar, resultante de um processo evolutivo. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi identificar os tipos predominantes de cobertura da terra e analisar sua interferência na qualidade da água na região do alto curso da bacia hidrográfica do ribeirão Conquistinha com vistas a estabelecer um marco para comparação da qualidade ambiental após a instalação da ETE no local.

Autores: Frederico Borges Machado; Andrezza Marques Ferreira; Tássio Franchi; Renato Carneiro Fernandes da Silva e Leonardo Campos de Assis.

Leia o estudo completo: Relação da qualidade da água e cobertura da terra em microbacia antropizada do cerrado mineiro

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