BIBLIOTECA

Microbiologia de reatores UASB: diversidade de protozoários ciliados em estações de tratamento de esgotos do interior do estado do Rio de Janeiro

Resumo

Os protozoários ciliados participam do processo de digestão anaeróbia em reatores UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket – reatores anaeróbios de manta de lodo e fluxo ascendente). Entretanto, sua diversidade e função nestes reatores ainda é pouco conhecida. Este trabalho teve como objetivo caracterizar a fauna de ciliados do lodo de reatores UASB de três Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) de pequeno porte situadas no interior no Estado do Rio de Janeiro que tratam esgotos sanitários. Cada uma das ETEs é composta por reatores UASB, seguidos de biofiltros aerados submersos nitrificantes de fluxo ascendente, acompanhados de decantador secundário. Foram realizadas análises qualitativas da microbiota de amostras frescas e de cultivos preparados em laboratório. A fauna de ciliados dos reatores UASB das ETEs estudadas foi representada por ciliados bacterívoros e ciliados predadores. Estes últimos indicam, provavelmente, uma boa condição da microfauna dos reatores UASB estudados. Os resultados apresentados indicam o potencial uso dos ciliados como bioindicadores do desempenho dos reatores UASB, e contribuirão para a produção de um índice de qualidade dos lodos anaeróbios através da análise qualitativa e quantitativa destes organismos.

Introdução

A ocorrência de protozoários ciliados em Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) é conhecida há quase um século, desde a instalação das primeiras estações por lodos ativados em 1922 (MADONI, 2011). Sua presença também já foi registrada em filtros percoladores, reatores biológicos rotativos de contato – biodiscos, reatores por batelada sequenciais, lagoas de estabilização, tanques Imhoff e wetlands (RIVERA et al., 1988; RONCON et al., 2007; LACKEY, 1925; AGERSBORG & HATFIELD, 1929; PAPADIMITRIOU et al., 2010).

Os ciliados são utilizados como bioindicadores de desempenho de lodos ativados, onde sua participação no tratamento é bem compreendida e descrita (MADONI, 2011). Entretanto, a diversidade e a função destes organismos em reatores anaeróbios, como o reator UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket – Reator Anaeróbio Ascendente de Manta de Lodo), são ainda pouco conhecidas (PRIYA et al., 2007).

O tratamento de esgotos por reatores UASB é reconhecido como um dos métodos que causam menos danos ao ambiente (NAIR & AHAMMED, 2013) e é indicado para aplicações em países em desenvolvimento por causa do baixo custo operacional e pouca geração de resíduos deste tipo de reator. O UASB é um reator anaeróbio de manta de lodo, caracterizado por conter câmara de digestão, separador trifásico, zona de sedimentação e zona de acumulação de gás (JORDÃO & PESSÔA, 2011; VON SPERLING, 2005).

A digestão anaeróbica pode ser considerada um processo onde vários grupos de microrganismos trabalham em sinergia na conversão da matéria orgânica complexa em produtos finais, como metano, dióxido de carbono, sulfeto de hidrogênio, água e amônia (CHERNICHARO, 2007). Os ciliados participam deste processo de três formas: (1) consumindo bactérias e contribuindo para o seu controle e renovação populacional, (2) abrigando, dentro de suas próprias células, bactérias metanogênicas imprescindíveis ao tratamento e (3) consumindo matéria orgânica dissolvida. Além disso, os ciliados excretam compostos que podem aumentar a atividade bacteriana (NISBET, 1984 apud MADONI, 2011), aumentando a mineralização de carbono, especialmente, em sistemas de alta taxa (CURDS, 1982), como é o caso dos reatores UASB.

Os ciliados de reatores UASB são pouco conhecidos, e a relação entre densidade destes organismos e o desempenho dos reatores é desconhecida, o que justifica este trabalho.

Assim, o objetivo deste trabalho foi ampliar o conhecimento da microbiologia dos reatores UASB através da caracterização da fauna de ciliados do lodo anaeróbio de três Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) no interior no Estado do Rio de Janeiro.

O desenvolvimento deste trabalho contou com o apoio da Companhia Estadual de Águas e Esgotos – CEDAE, e, em especial, da Gerência de Controle de Qualidade e Obras do Interior e da Gerência Serrana, da Diretoria de Distribuição e Comercialização do Interior, e dos laboratórios da Gerência de Tratamento de Esgotos da Diretoria de Esgotos.

Autores: Tiago Abreu Viana; Suzane A. da Silva e Inácio Domingos da Silva-Neto.

ÚLTIMOS ARTIGOS: