BIBLIOTECA

Química Ambiental

QUÍMICA AMBIENTAL

Quem me conhece sabe que não escrevo artigo no LinkedIn porque simplesmente não é artigo. Entretanto, alguns projetos, mensagens e cafés dos últimos meses me fizeram ceder para um bem maior, prometo.

Considerando sem delongas reintroduzir a real Química Ambiental e não a confusão Brasil, dividi este material purificador em 2 partes. Na parte 1 falaremos sobre o que é Química Ambiental e na parte 2 ponderaremos sua importância global para todas as demais ciências.

No Brasil, em 1992, por ocasião da 2ª Conferência da ONU (ECO 92), a comissão de meio ambiente da SBQ (Sociedade Brasileira de Química) publicou a 1ª coletânea de trabalhos voltados para o diagnóstico de problemas ambientais no Brasil, trazendo um resgate histórico sobre a Química Ambiental no País. A criação da divisão de química ambiental na SBQ ocorreu em 1994 com o propósito de abrigar a produtividade técnica e científica de quem atuava nesta área.

Ainda em 1994, um artigo editorial do periódico ES&T (Enviromental Science and Technology) da ACS (American Chemical Society), o editor-chefe discorre sobre a aprovação da área de Química Ambiental nos cursos de bacharelado em Química nos EUA dada a grande importância desta área para aquela nação (MOZETO; JARDIM, 2002).

Na verdade, vários postulados pioneiros de Química Ambiental que boa parte da cadeia científica se baseia até hoje, vem de uma das literaturas-chave que difere da Química Clássica, o livro Química Aquática de W. Stumm & J. Morgan, editado em 1976 (MORGAN; STUMM, 1981).

É importante lembrar que a oferta de livros-textos sobre, aumentou, mas ainda sim temos carência de material em português (ALI; KHAN, 2017). Esta falta de conhecimento sobre o que ensinar fez com que, em alguns cursos, a ementa de Química Ambiental fosse uma colcha de retalhos, abordando assuntos dos mais variados (MOZETO; JARDIM, 2002). A propósito, não se deve confundir interdisciplinaridade da matéria ambiental, com a da Química Ambiental.

Assim, se tornou comum a pulverização no Brasil do conteúdo programático através da realização de palestras de convidados que, muitas vezes, uma tinha pouco ou nada a ver com as outras (MOZETO; JARDIM, 2002).

É um campo interdisciplinar na encruzilhada de importantes assuntos científicos centrados em química analítica avançada. Requer conhecimento de princípios fundamentais de muitas áreas temáticas, incluindo física, química orgânica, ciência do solo, bioquímica, toxicologia e ecologia (ALI; KHAN, 2017) (BAIRD, 2018). Se trata de rara ciência que une três grandes grupos de conhecimento fundamentais, os quais são a química, a física e a biologia, perfeitamente exemplificada na imagem de fundo deste “artigo”.

1. O QUE É QUÍMICA AMBIENTAL?!

Definida como o estudo das fontes, reações, transporte e efeitos das espécies químicas em água, solo, ar, ambientes de vida e os efeitos da tecnologia neles (BAIRD, 2018). Resumindo, não é a ciência da monitoração ambiental, mas sim de tornar compreensíveis os mecanismos que definem e controlam a concentração de espécies químicas no ambiente (MANAHAN, 2016).

Questões ambientais como essas provavelmente têm paralelos que existem onde você mora, e aprender mais sobre elas pode convencê-lo de que a Química Ambiental não é apenas um tópico de interesse acadêmico, mas que toca sua vida todos os dias de maneira muito prática, silenciosa e oculta (BAIRD, 2018).

A título de curiosidade da importância da Química Ambiental para outras nações e suas universidades, a University of Aberdeen do Reino Unido, diz se tratar do estudo dos efeitos que os produtos químicos têm no ar, na água e no solo e como eles afetam o meio ambiente e a saúde humana (https://www.abdn.ac.uk/study/undergraduate/degree programmes/597/F142/environmental-chemistry/)

O artigo Environmental Chemistry in the Twenty-first Century, publicado em 2017 na Environmental Chemistry Letters, revista científica que abrange as interfaces de geologia, química, física e biologia, de grande importância para o estudo de ambientes naturais e de engenharia, abordou a importância estratégia da ciência Química Ambiental no século 21, indicando ainda a sua interdisciplinaridade concreta e fundamentada (ALI; KHAN, 2017), conforme apresentado na Figura 1 abaixo.

Figura 1 – Esfera da química ambiental.

Fonte: ALI; KHAN, 2017

Portanto, a Química Ambiental domina muito bem o significado de se ter em mãos apenas a concentração de um analito em uma matriz, que pode representar apenas o standing crop químico (algo totalmente estático), enquanto que os fluxos representam a dinâmica de um ambiente em estudo (MOZETO; JARDIM, 2002) (MANAHAN, 2016). Neste sentido, questões de transferência de massa, particionamento e tempo, podem ser muito mais valiosas e importantes do que uma concentração obtida pela Química Analítica (BAIRD, 2018).

Assim, não basta somente gerar números ou resultados analiticamente precisos e exatos, se não se tem conhecimento dos significados biogeoquímicos e ecológicos dos mesmos (MOZETO; JARDIM, 2002) (ALI; KHAN, 2017) (BAIRD, 2018). Isto posto, diferentes áreas de conhecimento aplicado são de certa maneira dependentes da produção científica de Química Ambiental, que se traduz como sendo uns dos principais respondedores dos Grandes Porquês para as demais ciências ambientais e médicas.

2. IMPORTÂNCIA GLOBAL DA QUÍMICA AMBIENTAL

De maneira geral as ciências ambientais existem para compreender o meio ambiente. E é assim que é descoberto um impacto ambiental, que inclusive pode ser estimado usando o modelo de impacto ambiental (I), onde P (população) e A (afluência), resumido assim (BAIRD, 2018):

I = P x A x T

O comportamento das variáveis A e T não é simples, ou seja, nem sempre (positivo) linear. Eles não necessariamente causam um impacto negativo no meio ambiente. O papel da afluência ou consumo de recursos por pessoa depende do comportamento do consumidor, diferente para cada país. Logo, o papel da tecnologia depende da natureza da tecnologia, ou seja, se seu uso leva à proteção ambiental ou à degradação ambiental (ALI; KHAN, 2017). Isto posto, não seria só simplesmente trocar a matriz energética que se reduziria o impacto.

Estamos vivendo em uma era em que os humanos têm (afirmação) um impacto no planeta e mudou “Capital Natural”, inclui recursos naturais e serviços naturais (MANAHAN, 2016). As atividades antrópicas resultaram em muitos problemas ambientais com várias linhas de exemplos possíveis para citar neste texto.

Mas sem sobra de dúvida, dentre os problemas ambientais o cerne é o aquecimento global e mudanças climáticas, que são as Ciências Atmosféricas, uma das sistêmicas a qual Química Ambiental estuda, dentre outras indicadas na Figura 2 a seguir.

Figura 2 – Associação a muitas outras disciplinas.

Fonte: ALI; KHAN, 2017

Como curiosidade, por acaso você já se perguntou como se sabe sobre o aquecimento global ou mudanças das concentrações atmosféricas de CO2?! Núcleos de gelo, sedimentos lacustres e anéis de árvores podem ser usados como arquivos de informação em estudos ambientais e climáticos, mas não necessariamente representam uma dinâmica sistêmica de planeta.

Assim, a Química Ambiental estuda os processos químicos que ocorrem na natureza, sejam eles naturais ou ainda causados pelo homem, e que comprometem a saúde humana e a saúde do planeta como um todo (MOZETO; JARDIM, 2002). É um espelho que nos mostra as faces sombrias da ciência, especialmente da química convencional e força a indústria a praticar uma química mais amiga (ALI; KHAN, 2017), o qual é bem mais difundido pela palavra sustentável.

Por fim, existe um movimento generalizado em direção ao crescimento e implementação de tecnologias sustentáveis ou verdes. Essas tecnologias buscam reduzir o consumo de energia e recursos, usar e expandir recursos renováveis e reduzir a produção de resíduos. Em química (ciência exata), esses desenvolvimentos são conhecidos como química verde (green chemistry), que nem sempre é exata como vimos acima (BAIRD, 2018).

Todavia a green chemistry se distancia fortemente do conhecido green washing por justamente serem ações concretas fundamentadas em ciências, especificamente Química Ambiental.

REFERÊNCIAS
ALI, H.; KHAN, E. Environmental chemistry in the twenty-first century. Environmental Chemistry Letters, 15, n. 2, p. 329-346, 2017/06/01 2017.

BAIRD, C. Química ambiental. Reverté, 2018. 8429194258.

MANAHAN, S. E. Química ambiental. Bookman Editora, 2016. 8565837351.

MORGAN, J. J.; STUMM, W. Aquatic Chemistry-An Introduction Emphasizing Chemical Equilibria in Natural Waters. New York, NY, John Wiley & Sons, 1981.

MOZETO, A. A.; JARDIM, W. D. F. A química ambiental no Brasil. Química Nova, 25, p. 7-11, 2002.

Autor: Lucio Alexandre Gonçalves
Especialista em Química Ambiental
Gerente de Projetos | Meio Ambiente | Áreas Contaminadas | Mentoria Ambiental | Perícia Judicial
[email protected]
(17) 99732-7692

ÚLTIMOS ARTIGOS: