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Principais questões ambientais causadas pelos efluentes de fábricas de celulose da américa latina

Resumo

Os efluentes de fábricas de celulose apresentam uma grande variedade de compostos químicos, provenientes de diferentes setores da fábrica, que podem ser tóxicos à biota aquática do corpo receptor, mesmo após o seu tratamento. Os principais problemas desses efluentes estão correlacionados com a alta carga orgânica, a coloração marrom escuro, presença de AOX, e de poluentes tóxicos.

Neste estudo buscou-se avaliar os efeitos dos efluentes de celulose na reprodução de peixes em países onde os efeitos reprodutivos na biota aquática e as indústrias estão bem estabelecidos (Canadá, Nova Zelândia), em comparação com países onde as fábricas são recém-construídas e de última geração, porém com poucos dados de efeitos (América Latina). Além disso, objetivou-se esclarecer, por meio de dados laboratoriais de ensaios de toxicidade, se o potencial tóxico agudo dos efluentes das fábricas de celulose da América Latina está diminuindo e ainda qual área da fábrica e qual grupo químico mais contribuem para a toxicidade aguda do efluente tratado.

Os resultados demonstram que a presença de sólidos suspensos nos efluentes pode interferir na reprodução de peixes, o que corrobora com estudos realizados no Canadá, onde verificou-se que a redução da carga orgânica proporcionou o maior potencial em redução dos efeitos sobre a reprodução de peixes nos testes laboratoriais. Para a avaliação de ecotoxicidade notou-se que o potencial tóxico agudo dos efluentes das fábricas da América Latina tem diminuído ao longo dos anos, sendo os efluentes setoriais do condensado, chorume e branqueamento ácido, os que mais contribuem para a toxicidade do efluente final. As principais causas da toxicidade aguda dos efluentes foram os sólidos dissolvidos, amônia, metais, oxidantes, compostos voláteis do processo e da ETE e sólidos suspensos da ETE.

Introdução

Os benefícios econômicos da indústria de celulose e papel a levaram a ser um dos segmentos industriais mais importantes do mundo. No entanto, nos últimos anos, as fábricas de celulose e papel estão enfrentando desafios com os mecanismos de eficiência energética e gestão dos poluentes resultantes, considerando os feedbacks ambientais e as exigências legais em curso. (Kamali and Khodaparast, 2015).

Os efluentes das fábricas de papel e celulose podem ser altamente tóxicos e constituem uma fonte importante de poluição aquática. Na produção de polpa de celulose e papel existe a formação de centenas de compostos produzidos em diferentes estágios do processo produtivo, que podem causar efeitos adversos aos organismos tanto da estação de tratamento de efluentes (ETE) quanto do corpo receptor do efluente. Os efeitos ambientais dos efluentes de fábricas de celulose e papel foram atribuídos aos produtos químicos introduzidos durante o processo de fabricação, aos compostos naturais liberados a partir de material vegetal fornecido às fábricas, às interações destes compostos uns com os outros e às interações com a biota no efluente da fábrica durante o tratamento de águas residuais (Hewitt et al., 2006).

Os principais problemas desses efluentes são o alto conteúdo orgânico, a coloração marrom escuro, o AOX, e os poluentes tóxicos. As fontes mais significativas de poluição na indústria de celulose e papel são as etapas de digestão de madeira, polpação, lavagem de celulose, branqueamento e secagem.

Os efluentes, apesar de serem tratados, podem causar impactos nos rios ou mares nos quais são lançados, devido ao seu grande volume e por possuírem uma matéria orgânica biorrecalcitrante proveniente do uso da madeira, principal matéria-prima nos processos de fabricação de celulose (Rabelo, 2005).

Vários desses compostos encontrados nos efluentes de celulose e papel podem ser tóxicos à biota aquática, causando efeitos agudos e crônicos, principalmente aos peixes. Estudos conduzidos na Suécia no início dos anos 1980 forneceram algumas das primeiras evidências de que os efluentes de algumas fábricas de celulose eram capazes de induzir respostas tóxicas em peixes em concentrações muito baixas no ambiente receptor. Em resposta a tais achados, foram iniciados estudos no Canadá e encontrados os impactos do efluente de fábricas de Kraft branqueado tratado primariamente na função reprodutiva em peixes. (McMaster ME, et al., 2006).

Nos últimos anos, surgiram preocupações sobre o destino e os efeitos dos efluentes das fábricas de celulose e papel no meio ambiente. Países de todo o mundo começaram a concentrar a sua atenção na implementação de programas de regulamentação e monitoramentos. Em resposta, a indústria começou a implementar uma variedade de tecnologias de processo e tratamento projetadas para minimizar ou eliminar os impactos potenciais. No Canadá, por exemplo, novas regulamentações mais rígidas foram elaboradas, as quais incluíram requisitos para o monitoramento de efeitos ambientais (EEM) em todos os locais – o que permitiu avaliar a eficácia dos limites de controle para a proteção e habitat dos peixes e da utilização humana dos recursos relativos à pesca.

No Brasil, em 1986, uma Resolução Federal estabeleceu o nível de qualidade da água para seu uso com base em parâmetros químicos. Esta resolução foi revisada em 2005, incluindo ensaios de ecotoxicologia para monitorar efluentes e corpos de água. Posteriormente, esta resolução foi revista em 2011, incluindo a avaliação de pelo menos dois níveis tróficos e limitando o fluxo de efluente de acordo com os resultados tóxicos.

Os bioensaios que avaliam o efeito da toxicidade representam uma importante ferramenta na gestão de fábricas de celulose e papel, pois permitem diagnosticar efluentes com potencial tóxico ao corpo receptor, além de auxiliar na identificação de compostos que geram a toxicidade nesses efluentes.

O objetivo deste trabalho foi avaliar os efluentes dos países onde os efeitos reprodutivos na biota aquática e onde as indústrias estão bem estabelecidas (Canadá, Nova Zelândia), em comparação aos países em que as fábricas são recém-construídas e de última geração, com poucos dados de efeitos (Brasil). Além disso, explorar extrativos de madeira como fonte de compostos disruptores endócrinos em efluentes tratados. Neste trabalho, buscou-se também esclarecer, por meio de dados laboratoriais de toxicidade, se o potencial tóxico agudo dos efluentes das fábricas de papel e celulose da América Latina está diminuindo e ainda qual área da fábrica e qual grupo químico mais contribuem para a toxicidade aguda do efluente tratado.

Autores: Tatiana Heid Furley; Fernando Aquinoga de Mello e Joselaine Broetto Lombardi Siqueira.

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