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Avaliação Preliminar da Qualidade das Águas do Ribeirão Morangueiro por Descarte Irregular de Lodo de Estação de Tratamento de Água

Resumo

O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade da água do ribeirão Morangueiro em Maringá-PR, tendo em vista o descarte irregular de efluentes da lavagem de filtros e decantadores de uma estação de tratamento de água, com geração potencial de concentrações de alumínio anômalas. A determinação dos parâmetros físico-químicos da qualidade da água foi realizada por meio de uma sonda multiparâmetros e a concentração de alumínio foi determinada por absorção atômica por chama. Os resultados obtidos in situ demonstram que os parâmetros físico-químicos analisados apresentaram-se em conformidade com a legislação Brasileira para os parâmetros pH, turbidez, oxigênio dissolvido, sólidos dissolvidos totais, salinidade e temperatura. Porém, foram encontradas concentrações de alumínio muito superiores ao máximo permitido (até 6,6 vezes) para corpos hídricos de classe 2 segundo a resolução CONAMA 357/2005, indicando a alta poluição do ribeirão pela atividade antrópica. Desta forma, foi possível concluir que a qualidade da água do ribeirão Morangueiro está altamente alterada pela presença elevada de alumínio, podendo levar a graves consequências ao longo prazo, sendo necessárias medidas corretivas e estudos mais aprofundados sobre o impacto ambiental dos despejos irregulares.

Introdução

A crescente e constante degradação da qualidade da água dos mananciais de abastecimento tem levado as empresas de saneamento a utilizarem cada vez mais produtos químicos no tratamento da água. Consequentemente, isto faz com que ocorra o aumento na geração de lodo das estações de tratamento de água, que por falta de tecnologias e devido ao alto custo, é frequentemente lançado nos corpos hídricos (Kondageski et al., 2013).

Existem vários tipos de coagulantes utilizados pelas estações de tratamento de água. Os coagulantes mais utilizados durante o tratamento de água são à base de alumínio, devido ao baixo custo e alta eficiência no processo. Porém, sua utilização gera grande quantidade de lodo, que acumula nos decantadores e filtros, sendo que o efluente gerado é composto por materiais concentrados existentes na água bruta (bactérias, algas, vírus, partículas orgânicas, colóides, areias, argilas, siltes, cálcio, magnésio, ferro e manganês), acrescido de uma alta concentração de coagulantes, tais como sais de alumínio ou ferro, e de outros produtos químicos utilizados durante o processo de tratamento da água (Andreoli et al., 2013; Andrade et al., 2014). Esse lodo é basicamente líquido, com teor de sólidos totais variando de 0,1 a 4,0% nas águas de descartes de decantadores, e entre 0,004 a 0,1% para as águas de lavagem de filtros (Kondageski et al., 2013).

Os impactos na qualidade da água devido ao lançamento do lodo gerado por estações de tratamento de água dependem das características do lodo e da relação entre o volume do lodo lançado e da capacidade de autodepuração do corpo receptor. O principal argumento para justificar o lançamento deste lodo nos rios era fundamentado no fato de que os principais componentes do lodo faziam parte da própria composição da água do rio. Porém, devese considerar que, além dos componentes removidos da água do rio, o lodo também é formado pelos produtos químicos utilizados durante o processo de tratamento. Além disso, o tratamento remove as impurezas do rio e, portanto, não faz sentido incorporá-las novamente no rio. Neste contexto, a captação reduz a vazão do rio e, dessa forma, a manutenção da mesma quantidade de impurezas aumentaria consequentemente a concentração de impurezas (Andreoli et al., 2013).

O alumínio está entre os elementos mais comuns no meio ambiente, ocupando o terceiro lugar depois de oxigênio e silício e primeiro entre os metais. Ele pode entrar nos corpos d’água e riachos da superfície por causa da dissolução parcial de argilas e silicatos de alumínio ou com precipitação e efluentes de diversas plantas industriais (Linnik & Zhezherya, 2013). Sabe-se ainda que o alumínio não é um elemento biogênico, e não é retirado das massas de água, como é o caso de outros metais, como ferro, manganês, zinco etc, visto que, acredita-se que o alumínio como componente da matéria em suspensão não apresenta biodisponibilidade para os plânctons (Linnik & Zhezherya, 2013).

A concentração de alumínio na água está relacionada com aspectos organolépticos, porém, há estudos de toxicologia ambiental realizados nos últimos anos que indicam que o alumínio pode ser uma causa de muitas doenças em seres humanos, animais e plantas. De fato, o alumínio é reconhecidamente tóxico para humanos, sendo capaz de causar em doenças degenerativas neurológicas como o Alzheimer (Bondy, 2010; Wang et al., 2019; Krupińska, 2020).

Outros estudos indicam que o alumínio solubilizado nas águas dos rios podem também causar alterações nas guelras e fígados de peixes apresentando toxicidade em concentrações elevadas (Pereira et al., 2007; Oberholster et al., 2012; Benavides et al., 2016; Chen et al., 2017). A bioacumulação e stress oxidativo causado pela presença de alumínio em diversos organismos aquáticos foram reportados por diversos autores (Radić et al., 2010; Fernández-Dávila et al., 2012; Oberholster et al., 2012; Rybak et al., 2017).

O crescimento das concentrações de metais presentes nos corpos hídricos vem se tornando objeto de preocupação e discussão na comunidade acadêmica, pelas descobertas, relacionando os efeitos tóxicos que podem expressar-se de forma aguda ou crônica (van Dam et al., 2018; Su et al., 2019). Além disso, as características topográficas, o controle de características físico-químicas como pH, condutividade, oxigênio dissolvido, turbidez, sólidos dissolvidos e temperatura da água têm sido utilizadas como indicadores de degradação do meio ambiente e tais estudos têm aumentado nos últimos anos (Frascareli et al., 2018).

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi realizar a avaliação da qualidade da água do ribeirão Morangueiro e analisar os possíveis impactos gerados pelo despejo irregular de efluente de lavagem de filtros e decantadores de uma estação de tratamento de água (ETA) no município de Maringá-PR. As principais hipóteses de trabalho são: (i) a ETA do município de Maringá-PR descarta de forma incorreta seu efluente; (ii) o descarte irregular altera a qualidade da água do ribeirão Morangueiro; (iii) concentrações elevadas de alumínio podem ser encontradas associadas ao descarte irregular e aos fatores regionais de produção agrícola comprometendo a qualidade da água do corpo hídrico.

Autores: Alisson Diogo dos Santos da Silveira; Maria Lúcia Hiromi da Silva Okumura & Natália Ueda Yamaguchi.

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