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O que é a mineração em águas profundas?

Entenda como funciona a mineração em águas profundas, uma atividade que ameaça diretamente a biodiversidade marinha

Você já ouviu falar da mineração em águas profundas? Essa atividade consiste em enviar máquinas gigantescas para o fundo do oceano, onde elas irão escavar, dragar e minerar em busca de metais e minérios. Tudo isso no mesmo espaço onde uma infinidade de espécies marinhas vivem em harmonia, garantindo a saúde dos mares.

Empresas e governos estão pressionando para que a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA na sigla em inglês) avance com a autorização de licenças para a mineração em águas internacionais. Uma grande ameaça ao bioma marinho e te explicamos o porquê.

Como funciona a mineração em águas profundas?

Milhares de metros abaixo da superfície, existem depósitos de minérios como manganês, cobalto, níquel, cobre, lítio e outros elementos raros que se acumularam no fundo do oceano ao longo das décadas.

Eles formam os chamados nódulos polimetálicos – compostos de metais e minérios em formato arredondado que se apresentam em diversos tamanhos, de micronódulos até nódulos maiores medindo cerca de 20 cm. O tamanho mais comum mede de dois a oito centímetros, similar ao de uma batata.

Para encontrá-los, máquinas gigantescas “garimpam” o leito marinho e os retiram de lá bombeando o material extraído para um navio por meio de vários quilômetros de tubulação.

O que as empresas farão com os minérios retirados do fundo do mar?

O objetivo é processar os minérios para vendê-los para a indústria da tecnologia. Metais como níquel, cobre, cobalto, lítio e manganês são usados em produtos eletrônicos como smartphones e computadores, assim como para o desenvolvimento de baterias no geral, incluindo carros elétricos.

Ou seja: as empresas querem mais matéria-prima para obter lucro, custe o que custar para o meio ambiente.

Quais os impactos da mineração em águas profundas para a vida marinha?

As possíveis consequências da mineração no oceano são graves. É um bioma do qual a humanidade ainda conhece muito pouco – estima-se que conhecemos mais sobre a superfície da Lua do que das profundezas do oceano.

Os nódulos metálicos levaram milhares de anos para se formar e estão em um ecossistema extremamente sensível, que se desenvolve em condições muito específicas. Os pesados equipamentos da mineração poderiam causar, por exemplo, danos irreparáveis para organismos do fundo do mar, incluindo a destruição de seus habitats.

O Oceano Pacífico, onde os metais foram encontrados a 4 mil metros de profundidade, é o local onde o polvo fantasma põe seus ovos. Apenas uma das centenas de intrigantes e diferentes espécies que existem no fundo do oceano e que estão ameaçadas por essa atividade.

A poluição sonora e luminosa gerada pela mineração pode afetar as criaturas marinhas e a imensa biodiversidade do oceano. Os mamíferos marinhos, como as baleias, por exemplo, usam o som como principal meio de comunicação e detecção no oceano, sendo diretamente impactadas pela perturbação sonora causada pelas máquinas.

A pluma de sedimentos que resulta do próprio processo de extração e vazamentos de substâncias potencialmente tóxicas dos navios podem atingir espécies para além das que vivem no mar profundo. Isso porque, em função das correntes marítimas, a poluição pode viajar por quilômetros.

A mineração em águas profundas também poderia colocar em risco os meios de subsistência das comunidades costeiras e pesqueiras das ilhas do Pacífico, onde estão sendo realizados testes de exploração, comprometendo a segurança alimentar dessas populações ao afetar os estoques pesqueiros.

A quem interessa a mineração em águas profundas?

As principais interessadas na regulamentação da mineração em águas profundas são empresas do Norte Global, principalmente a canadense The Metals Company, a Global Sea Mineral Resources e a Loke Marine Minerals.

O setor tem usado um discurso de maquiagem verde para pressionar a liberação da mineração em águas profundas, argumentando que a exploração desses minérios irá potencializar a transição energética e a diminuição do uso dos combustíveis fósseis.

No entanto, a transição energética que precisamos deve ser limpa, justa e sustentável. Existem outros caminhos para limitar a demanda pelos minerais, como, por exemplo, o desenvolvimento de baterias mais eficientes, assim como sua reciclagem e reutilização.

Embora as baterias sejam necessárias no processo de eliminação gradual dos carros à combustão, repensar nossos sistemas de transporte e o modo como vivemos nas cidades também é essencial.

Precisamos de menos carros nas ruas, priorização de transportes públicos que funcionem com energias renováveis e cidades mais preparadas para ciclistas ou para a mobilidade a pé.

E o que podemos fazer para impedir que a mineração em águas profundas aconteça?

Embora testes estejam em andamento na Zona de Clarion Clipperton, no Pacífico, a mineração em águas profundas ainda não é permitida pela legislação internacional. No próximo semestre, a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos realizará uma reunião para decidir sobre o assunto.

O que está em jogo precisamente são as águas que estão para além das denominadas Zonas Econômicas Exclusivas (ZEE) – faixas localizadas além das águas territoriais sobre a qual cada país costeiro tem exclusividade para a utilização de recursos naturais.

Por isso precisamos pressionar os governos mundiais para que se posicionem contra a mineração em águas profundas e não cedam à pressão e ganância das empresas. O Brasil faz parte do conselho da ISA e terá um papel importantíssimo para impedir que os oceanos sejam alvo da mineração.

Fonte: neomondo


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