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Microalgas limpam esgoto sem uso de energia ou químicos

Solução natural utilizando microalgas reduz poluentes e pode transformar o saneamento em áreas com baixa infraestrutura

Uma alternativa ecológica e de baixo custo para o tratamento de esgoto doméstico está ganhando destaque entre cientistas: o uso de microalgas. Segundo um estudo recente, esses pequenos organismos verdes, popularmente conhecidos como “espuma de lagoa”, podem purificar águas residuais sem a necessidade de eletricidade ou produtos químicos, oferecendo uma solução viável especialmente para regiões com infraestrutura limitada.

Atualmente, o tratamento de esgoto depende em boa parte de grandes estações que utilizam processos complexos e consomem muita energia. Embora eficazes, essas estruturas são caras e muitas vezes inviáveis para áreas rurais ou cidades com poucos recursos. Em diversos países africanos, por exemplo, muitas comunidades enfrentam sérios problemas de saneamento por falta de sistemas eficientes — ou mesmo pela inexistência deles.

Em busca de alternativas sustentáveis, uma equipe de pesquisadores sul-africanos realizou testes na estação de tratamento de águas residuais de Motetema, na província de Limpopo, África do Sul. Lá, introduziram duas espécies de microalgas — Chlorella vulgaris e Chlorella protothecoides — em lagoas de esgoto bruto provenientes de cerca de 1.560 residências. O resultado foi promissor: sem o uso de equipamentos mecânicos ou aditivos químicos, as algas conseguiram remover patógenos e reduzir significativamente os níveis de amônia (99%), ortofosfato (83%) e nitrogênio (73%).

A técnica utilizada, conhecida como ficorremediação, baseia-se na capacidade das algas de realizar fotossíntese, produzindo oxigênio e alimentando bactérias aeróbicas que decompõem a matéria orgânica presente no esgoto. Além de ser um processo natural, ele contribui para evitar o crescimento excessivo de algas em ambientes aquáticos — fenômeno causado pelo acúmulo de nutrientes como fósforo e nitrogênio, que prejudica a vida marinha ao esgotar o oxigênio disponível.

Embora a utilização de algas no tratamento de esgoto não seja inédita — ela vem sendo adotada há décadas em países como EUA, Índia e regiões da Europa —, o projeto Motetema se destaca pela seleção criteriosa das cepas mais eficientes e pelo cultivo em larga escala em fotobiorreatores, que garantem o suprimento constante de microalgas para o sistema.

A cidade de Motetema, com cerca de 11 mil habitantes, trata diariamente quase o dobro da capacidade originalmente prevista para suas lagoas de esgoto. O método convencional, além de sobrecarregado, enfrentava desafios como cortes de energia, falta de manutenção e escassez de profissionais qualificados. Com o uso das microalgas, o tratamento passou a ser mais eficiente e sustentável, atendendo aos padrões ambientais e eliminando a liberação de efluentes contaminados no meio ambiente.

Apesar de exigir grandes áreas e algumas semanas para cada ciclo de purificação, o sistema tem alto potencial de replicação. Segundo a coautora do estudo, Yolandi Schoeman, engenheira ecológica e pesquisadora da Universidade do Estado Livre, “com o apoio de gestores públicos e políticas adequadas, essa solução natural pode beneficiar milhares de comunidades em toda a África rural, onde modelos tradicionais de tratamento são financeira e tecnicamente inviáveis”.

Além de reduzir o impacto ambiental, a ficorremediação também muda a percepção sobre as águas residuais, transformando o esgoto em um recurso valioso. A água tratada pode ser reutilizada na agricultura, na aquicultura ou até mesmo para recarga de aquíferos, contribuindo para o enfrentamento da crise hídrica em tempos de mudanças climáticas.

O estudo completo, intitulado “A África está pronta para usar a fitorremediação no tratamento de águas residuais domésticas como uma solução alternativa de base natural? Um estudo de caso”, foi publicado na revista Phycology.

Fonte: Ciclo Vivo


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