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Hidrogeologia do Semiárido Cearense

Resumo

O semiárido cearense apresenta um baixo potencial hídrico superficial, aumentando a dependência da população às águas subterrâneas. O Aquífero Fraturado, constituído pelo embasamento cristalino, é o de maior ocorrência na região e apresenta baixa produtividade e teores excessivos de sais. O presente trabalho propôs avaliar os condicionantes regionais que controlam as produtividades nos aquíferos no semiárido com base nas informações de mais de 6 mil poços tubulares. A correlação entre a litologia, clima e geomorfologia demonstrou que a primeira exerce o papel principal no controle das potencialidades hídricas, sendo o clima o seu segundo fator de influência. Os maiores valores de mediana da capacidade específica (Q/smed) de 15,32 m³/h/m e 0,83 m³/h/m foram verificados em rochas carbonáticas e sedimentares em clima úmido/subúmido, respectivamente. Desta forma, suas produtividades são mais evidentes em climas mais úmidos, logo que sua permeabilidade intrínseca e produtividade estabelecem uma relação diretamente proporcional com a disponibilidade de chuvas. De maneira geral, os metassedimentos (Q/smed 0,099 m³/h/m) se apresentaram mais produtivos quando comparados aos gnaisses e migmatitos (0,051 m³/h/m) e às rochas plutônicas (0,052 m³/h/m). Nos gnaisses e migmatitos o clima aparentou não ter uma influência efetiva na produtividade. As águas subterrâneas da região têm elevada salinidade, confirmada em 210 análises hidroquímicas. O mecanismo de salinização dos aquíferos no semiárido provavelmente está associado aos sais aerotransportados do mar, com predominância para o cloreto e sódio, e às elevadas taxas de evaporação, como pode ser confirmado pelas maiores concentrações de cloreto na água de poços localizados mais próximos à costa. O mecanismo de recarga em rochas mais permeáveis pode favorecer a redução de salinidade (maior infiltração), como o verificado em metassedimentos, quando comparadas às maiores concentrações verificadas em gnaisses e migmatitos.

Introdução

O semiárido cearense apresenta um baixo potencial hídrico superficial e um déficit hídrico natural na maioria dos meses do ano, aumentando a dependência da população às águas subterrâneas. O aquífero fraturado, constituído pelo embasamento cristalino, coberto por solos rasos e que perfaz cerca de 75% do território estadual, tem baixa produtividade, ademais de apresentar em muitos de seus poços teores excessivos de sais. De outro lado, a região semiárida apresenta um elevado percentual de população rural, que perfaz mais de 30% dos mais de 8 milhões de habitantes do estado, distribuída de forma difusa no território, com alto nível de pobreza, o que dificulta o seu abastecimento por sistemas tradicionais centralizados de captação e rede de distribuição de água. Esta região também está sendo afetada pelas mudanças climáticas globais, com redução do volume de chuvas, aumento de sua irregularidade e da temperatura, agravando ainda mais a disponibilidade hídrica e aumentando a vulnerabilidade social (Hirata e Conicelli, 2012).

O presente trabalho identifica as feições litológicas, climáticas e geomorfológicas que controlam regionalmente a produção das captações subterrâneas, resultando em uma cartografia das regiões do semiárido cearense em função da potencialidade hídrica subterrânea. O trabalho tem como objetivo avaliar os condicionantes regionais, com foco na setorização da potencialidade hídrica subterrânea. Ademais, o trabalho aborda a hidroquímica das águas subterrâneas oriundas dos poços tubulares do Programa Água Doce (PAD), de forma a avaliar a relação da distribuição espacial dos grupos de água e os aspectos litológicos e geográficos. O PAD, criado em 2003 pelo Governo Federal e coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, promove o uso sustentável dos recursos hídricos subterrâneos associado à uma política permanente de acesso à água de qualidade e aos aspectos sociais na gestão de sistemas de dessalinização.

Autor: Daniela Barbati Osorio.

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