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Essa água é boa pra beber?

Para nós que trabalhamos com tratamento de água e efluentes, é muito comum ouvirmos a pergunta: “Essa água aqui, é boa pra beber?”

Também é muito comum, ouvirmos a resposta: “Ah, pode beber sim, essa água vem daquela mina ali atrás e é muito boa. Pode ficar tranqüilo”.

Na verdade, o que a pessoa está querendo saber é se a tal água pode ser ingerida sem causar-lhe nenhum dano à saúde. E, para tanto, não podem existir subjetivismos do tipo “água boa” ou “água ruim”. Existe sim, o conceito técnico e preciso de “água potável”.

Não basta olhar para uma água perfeitamente transparente e sem odor e dizer que ela é potável. Excesso de sais dissolvidos, metais pesados e vírus como da Hepatite não são visíveis e não têm cheiro.

É justamente para evitar avaliações subjetivas e equivocadas que existem as normas de qualidade e, no Brasil, a norma federal que determina o que é água potável é a Portaria 518, de 25 de Março de 2004, do Ministério da Saúde. Ela representa a última atualização de normas anteriores, cujo início foi o Art. 2.º do Decreto n.º 79.367, de 9 de março de 1977. Trata-se de uma regulação de alto nível que acompanha perfeitamente os padrões de qualidade internacional. Não vamos transcrevê-la aqui, não apenas por ser bastante extensa (34 páginas em letras miúdas), mas porque vocês podem conhecê-la nos portais tratamentodeagua.com.br e meiofiltrante.com.br. O objetivo aqui é destacar alguns pontos interessantes, começando pelo seguinte: não basta ter normas e leis de alta qualidade se não houver uma fiscalização eficiente.

No que se refere ao tratamento de água, fiscalizar significa fazer “Análises Físico-Químicas e Microbiológicas” que possam comprovar que a água em questão atende aos padrões de potabilidade. Para tanto, deve-se recorrer a laboratórios certificados que tenham todos os equipamentos necessários e a equipe devidamente treinada e qualificada.

Outro ponto interessante: A falta de ferro na alimentação pode causar problemas de saúde como a anemia, por exemplo. É verdade, e é por isso que os médicos nos recomendam a ingestão de feijão e espinafre. O ferro é, na verdade, o elemento químico mais abundante no planeta, lembrando que todo o núcleo da Terra é composto por uma massa gigantesca chamada “NiFe”, composta principalmente por ferro e níquel em temperaturas elevadíssimas, capazes de mantê-la em estado líquido. Pois bem, o ferro também aparece nas águas tanto de superfície (rios e lagos) quanto subterrâneas (poços) e nem por isso devemos ficar felizes. A Portaria 518 determina que a concentração máxima de ferro na água potável deve ser de 0,3 mg/L.

Mas e se ingerirmos água com 0,5 mg/L de ferro? Vamos morrer? E se ela tiver menos que 0,3 mg/L? Vamos ficar anêmicos? Calma!! Nem uma coisa, nem outra. Apesar do ferro ser o que denominamos “metal pesado”, ele não é tóxico e perigoso como o mercúrio e o chumbo que, mesmo em baixíssimas concentrações, podem causar danos irreversíveis à saúde, podendo levar até à morte. Tanto que a Portaria 518 prevê as concentrações máximas de 0,001 mg/L e 0,01 mg/L, respectivamente para cada um deles. Por outro lado a ingestão continuada de uma água pobre em ferro pode muito bem ser compensada com uma alimentação rica nesse mineral.

Vamos a um outro ponto interessante: as bactérias. Ao contrário do que se pensa, nem toda bactéria nos faz mal. Tanto que se analisarmos uma amostra de nossa saliva, encontraremos bactérias. O problema do ponto de vista sanitário, são as bactérias patogênicas, ou seja, aquelas que realmente podem nos causar doenças. Dentre elas, temos as bactérias do tipo coliforme fecal, como a Escherichia coli, que causa diarréias e também as “cianobactérias”, capazes de produzir toxinas perigosas como as “microcistinas”, causadoras de tumores.

A Portaria 518 utiliza unidades como “VMP” (valor máximo permitido em 100 mL de amostra) e “UFC” (unidades formadoras de colônias) e determina os limites e procedimentos adequados para o ponto crucial do problema: identificar a presença de bactérias que habitam o intestino de animais de sangue quente (homens, porcos, bois, etc.) e a presença de cistos de Giardia spp e oocistos de Cryptosporidium sp. São os indicadores de organismos patogênicos que podem nos causar problemas.

Nas próximas edições vamos falar um pouco sobre os processos de tratamento de água e o que se tem feito não só no Brasil, mas pelo mundo afora.

Eduardo Pacheco

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