Investimentos buscam diversificar a captação e distribuição dos recursos hídricos por todas as regiões
Abastecer um Estado com quase 9 milhões de habitantes distribuídos em 184 cidades, num clima semiárido e após um longo período de seca, não é tarefa fácil. Por isso, o Ceará vem buscando diversificar, através de grandes empreendimentos, a distribuição de água para garantir a segurança hídrica de todos os territórios.
Somados, os investimentos atuais ultrapassam cerca de R$10 bilhões, segundo o titular da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), Fernando Santana. Em conversa com o Diário do Nordeste, ele detalhou o andamento das maiores obras da atualidade na área: Eixão das Águas, Cinturão das Águas, Malha D’Água e Ramal do Salgado.
De forma integrada, quando esse sistema está em pleno funcionamento, as águas do Rio São Francisco chegam até o açude Castanhão, o maior do Estado, via Cinturão das Águas (e futuramente via Ramal do Salgado); e de lá, por meio do Eixão, seguem até a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Apesar da importância dessas obras, a construção de novas etapas depende da captação de financiamentos. Por isso, lembra o secretário, o Governo se compromete com a qualidade das entregas para “servirem de exemplo” e o Banco Mundial, por exemplo, “veja que estão funcionando”.
O conjunto de obras, observa ele, visa a “ter água em abundância para que a gente não entre mais no risco de colapsar como já entramos em anos atrás”. Entre 2012 e 2018, o Ceará vivenciou seis anos de seca, o pior período de sua história.
Ao sul do Ceará, na região do Cariri, está a construção do Cinturão das Águas (CAC), hoje com execução em 86%. A estrutura abastecida pelo Eixo Norte do Projeto da Transposição do Rio São Francisco (Pisf), por meio da barragem de Jati, terá 145 km de extensão, compreendendo segmentos de canal a céu aberto, túneis e sifões.
Ele foi dimensionado para uma vazão de 30 m³/s (30 mil litros por segundo) e concebido para viabilizar maior capilaridade das vazões transpostas, ou seja, distribuir mais facilmente as águas do Velho Chico pelo interior cearense.
O Cinturão já faz a transposição de água para o Riacho Seco, saindo do leito natural até o Rio Salgado, Rio Jaguaribe e por fim, o Castanhão, mas também servirá para transportar a água da barragem Jati, no município de mesmo nome, até as nascentes do Rio Cariús, no município de Nova Olinda, na região do Alto Jaguaribe.
Na prática, o CAC leva a água do Projeto São Francisco a todos os municípios da bacia do Rio Salgado e aumenta a disponibilidade hídrica para múltiplos usos – consumo humano, pecuária, agricultura, indústria, etc. – na região do Cariri.
Fernando Santana afirma que a previsão de entrega da estrutura é junho de 2026. O investimento total é de R$2,4 bilhões, com estimativa de beneficiar cerca de 800 mil pessoas.
Ramal do Salgado
Outra importante obra para a garantia da segurança hídrica no Ceará é o Ramal do Salgado, também parte do Pisf. Com 35 km de extensão, ele sai do km 30 do Trecho IV (Ramal do Apodi), na divisa entre Ceará e Paraíba, e tem atualmente 10,45% de execução.
Com capacidade de vazão de 20 m³/s (20 mil litros por segundo), o Ramal promete mais eficiência para abastecer o Castanhão, que pode atender Fortaleza e sua Região Metropolitana.
Atualmente, a água que chega ao Castanhão precisa atravessar quase 200 km de extensão via Cinturão das Águas. Contudo, por meio do novo Ramal, a água deve chegar mais rapidamente, “economizando” cerca de 150 km do percurso das águas.
Segundo o Governo do Estado, o equipamento deve ser entregue em 2027 e beneficiar mais de 5 milhões de cearenses, em 54 municípios. A estrutura conta com mais de R$ 622 milhões investidos pelo Governo Federal.
Eixão das Águas
Falando em Castanhão, outra obra que se relaciona com o gigante cearense é a duplicação do Eixão das Águas, um grande canal de 256km que liga o açude à região de Fortaleza. Ao todo, ele deve alcançar 27 municípios e impactar mais de quatro milhões de pessoas.
Com a duplicação, a capacidade de adução passará de 11 m³/s para 22 m³/s (22 mil litros por segundo) e, consequentemente, aumentará a oferta de água do Castanhão para a RMF e para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).
No caminho, o canal também atende três distritos industriais (Maracanaú, Horizonte e Pacajus) e os distritos de irrigação Jaguaribe-Apodi e Tabuleiro de Russas. O investimento na duplicação é de R$1,2 bilhão, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O Eixão das Águas “original” foi construído entre 2003 e 2014, com metade da vazão permitida (3 bombas), o que era suficiente para a época. Com o aumento da demanda, a duplicação instalará mais três grupos de motobombas na estação de bombeamento e a segunda linha de tubulação em aço carbono.
Só usamos água do Castanhão quando os reservatórios que se avizinham a Fortaleza não têm a capacidade de abastecer. Há anos não usamos, mas se preciso for, teremos essa capacidade dobrada do Eixão. Com a duplicação, não teremos problemas de abastecimento por muitos anos à frente. Fernando Santana Secretário dos Recursos Hídricos do Ceará
A previsão é que os primeiros dois lotes da obra sejam concluídos em dois anos, no segundo semestre de 2026.
Malha D’Água
Por fim, o Projeto Malha D’Água busca maior abrangência e garantir água tratada para 179 cidades do Ceará. O objetivo é implantar sistemas adutores de água em mananciais de maior garantia hídrica, com a implantação das estações de tratamento anexas para enviar água já tratada aos núcleos urbanos integrados ao sistema.
Com isso, busca-se uma maior eficiência na gestão dos reservatórios, com a diminuição das perdas na perenização dos rios por meio da evaporação ou infiltração no solo.
Originalmente, ele foi planejado para ser implantado durante 25 anos, de 2016 a 2041. O desenho é ousado: criar 35 Sistemas Adutores Principais, com 4,3 mil km de linhas adutoras e 305 Estações de Bombeamento.
No entanto, o sistema piloto só foi inaugurado na última quarta-feira (18). Trata-se do Banabuiú-Sertão Central, que atenderá 9 cidades e 38 distritos – incluindo o município de Milhã, que corre risco de colapso hídrico nos próximos meses. Ao todo, foram investidos R$643 milhões.
“Não há nada mais inovador, nada de mais moderno nesse momento, do que o Malha D’Água no Estado do Ceará. É da mais alta tecnologia”, pensa Santana.
Fonte: Diário do Nordeste