Resumo
Com esse estudo objetivou-se avaliar a qualidade das águas de pesquepague quanto a presença de agrotóxicos e cafeína, determinar a toxicidade dessas águas para Daphnia magna e Lemna minor e avaliar o risco ambiental dos contaminantes prevalentes para D. magna, L. minor e Oreochromis niloticus. Para tanto, amostras de águas e de sedimentos de fundo dos tanques de peixes dos pesque-pague foram coletadas trimestralmente entre Junho/2014 e Maio/2015. As determinações dos resíduos de agrotóxicos e de cafeína foram realizadas por LCMS/MS. As maiores contaminações das águas ocorreram, em ordem decrescente, com a cafeína e com os herbicidas tebutiuron, metolacloro, hexazinona, atrazina, ametrina e clomazone. Os fatores que mais influenciaram a contaminação das águas por agrotóxicos foram as características físicas e químicas dos herbicidas, quantidade de área cultivada com cana-de-açúcar no entorno dos pesque-pague e a coincidência ente as maiores precipitações pluviais e as aplicações dos agrotóxicos. Os lançamentos de efluentes de Estações de Tratamento de Esgoto em águas superficiais que margeiam os pesque-pague foi o fator responsável pela contaminação das águas com a cafeína. As águas dos pesque-pague não apresentaram toxicidade para D. magna e L. minor e a baixa concentração de nutrientes nessas águas foi um fator relevante para a inibição de crescimento de L. minor. O tebutiuron é o agrotóxico prevalente nas águas dos pesque-pague e é mais tóxico para os organismos-teste que a cafeína. Pela toxicidade aguda, o tebutiuron se classifica como de alto risco de intoxicação ambiental para L. minor e um risco de intoxicação ambiental aceitável para D. magna e O. niloticus.
Introdução
O crescimento populacional ocorrido nas últimas décadas, em decorrência dos avanços na saúde e nas melhorias de condições de vida, associado a crescente demanda por alimentos, têm proporcionado grandes transformações no meio agrícola. Dentre essas, a dependência de insumos, principalmente produtos fitossanitários, como os agrotóxicos.
O uso dos agrotóxicos tem provocado uma série de perturbações e transformações negativas no ambiente, principalmente nas redes hidrográficas; que são os receptores finais das substâncias produzidas e liberadas no ambiente. Um empreendimento diretamente dependente das redes hidrográficas é o pesque-pague. Nos pesque-pague se praticam uma modalidade de pesca esportiva, ou hobby, denominada também de pesca de lazer ou pesca amadora.
Na região Sudeste do Brasil, a maioria dos pesque-pague se insere em áreas de intenso cultivo de cana-de-açúcar, onde predomina o controle químico das plantas daninhas com os herbicidas. O uso intenso de herbicida na cultura de cana-de-açúcar pode resultar em contaminações das águas dos pesque-pague, principalmente na estação das chuvas.
Nas águas dos pesque-pague ligados às redes hidrográficas que passam dentro ou nas proximidades de áreas urbanas também podem se esperar contaminações com substancias emergentes, como a cafeína.
A cafeína é uma substancia indicadora da contaminação das águas com esgotos domésticos, inclusive por efluentes de estações de tratamento de esgoto (ETE) das cidades. Mesmo que os níveis de cafeína presentes no ambiente aquático não apresentam risco a saúde humana e animal, essa substância é indicadora da presença de outros contaminantes de origem urbana que causam muitos efeitos indesejáveis para os seres vivos.
Diante da possibilidade da presença de contaminantes tóxicos nas águas dos pesque-pague e de efeitos nos organismos da biota dos ecossistemas aquáticos, estudos ecotoxicológicos têm sido utilizados em análises ambientais, e em etapas que envolvem todos os processos e as transformações químicas dos compostos tóxicos no ambiente.
Por meio de estudos ecotoxicológicos se podem determinar o grau de toxicidade de diversos corpos hídricos contaminados com os compostos tóxicos específicos e a capacidade dos agentes tóxicos em produzir efeitos deletérios aos organismos vivos expostos. Os resultados dos estudos ecotoxicológicos são utilizados como referência para a gestão ambiental dos impactos antrópicos nos ambientes.
Para a gestão ambiental da qualidade das águas dos pesque-pague, a avaliação quantitativa da contaminação das águas de afluente e dos tanques de pesca por contaminantes tóxicos de origem agrícola e urbana é fundamental para se determinar riscos de intoxicação da biota aquática e da população humana usuária das águas, e para se recomendar e implementar ações mitigadoras.
Autora: Maria Amália da Silva Santarossa.