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Comparativo econômico entre o custo estimado do reúso do efluente de ETE para fins industriais não potáveis e o valor da água potável para a região Sudeste do Brasil

Resumo

Na atualidade é relevante que se discuta a importância do reúso de efluente tratado em cenários distintos. Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo avaliar de forma estimada o custo do reúso do efluente das Estações de Tratamento de Esgoto – ETEs, a partir do transporte entre o consumidor e o gerador. Para essa estimativa, foi adotado o custo de transporte de água em caminhão pipa apresentado pelo SINAPI, nos quatro estados da região sudeste do Brasil. Ainda foi possível comparar este custo com o valor das tarifas da água potável praticadas pelas companhias de cada estado em questão. Para a estimativa do valor das águas regeneradas adotou-se a premissa de que este custo inclui apenas o transporte até o consumidor e a desinfecção do efluente secundário deveria ser adotada na própria operação da ETE. Acredita-se que essa medida possa, de certa forma, estimular a inclusão da prática do reúso do efluente tratato na cultura brasileira. Verificou-se na pesquisa que essa comparação permitiu estimar a distancia máxima possível entre o gerador e o consumidor da água de reúso, que mantivesse vantagem financeira em oposição ao consumo da água potável. Desta forma, concluiu-se que para os estados constituintes da região sudeste, a média da distância mais vantajosa economicamente ficou estabelecida em torno 77,5 km. Para o estado de São Paulo esse valor foi de 100 km, para o estado do Rio de Janeiro 110 km e, para Espírito Santo e Minas Gerais, 50 km.

Introdução

A escassez hídrica usualmente é atribuída aos estados que compõe a região nordeste, entretanto São Paulo viveu sua maior crise hídrica desde 1930. O sistema Cantareira, que abastece milhões de pessoas, bateu um verdadeiro recorde negativo referente ao seu nível de água e foi necessário operar com seu nível morto. Esta situação se torna ainda mais alarmante já que segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento-SNIS (2014), a região sudeste consome cerca de 187,9l hab/dia, sendo a região com o maior índice. Em contrapartida o Nordeste possui o menor índice com 118,9 l/hab.dia.

Sabe-se que o crescimento desordenado implica diretamente na escassez da água já que há uma grande concentração populacional em determinadas áreas. A região sudeste representa a segunda menor área do país e paradoxalmente é considerada a mais populosa. Embora o país possua grandes reservas de água doce, a maior parte deste volume está concentrado na região norte, exatamente a menos habitada. Além disso, a crescente impermeabilização das metrópoles agrava ainda mais esse cenário na região sudeste, já que, a água não é adequadamente absorvida pelo solo e com isso não há recarga dos seus aquíferos.

As consequências da crise hídrica são preocupantes, já que a água possui importância vital para os seres vivos e meio ambiente, além de afetar diretamente a agricultura, pecuária, indústria e serviços, e com isso a economia. Por isso é essencial buscar alternativas que minimizem esta situação. A prática de reúso além de todos os seus benefícios ambientais indiscutíveis, se apresenta como uma inteligente ferramenta na resolução deste problema.

Atualmente, o mercado brasileiro de produção de água de reúso ainda é muito incipiente, entretanto está ocorrendo uma crescente evolução neste assunto. Segundo Araujo et al (2016) o Rio de Janeiro já faz uso desta prática nas Estações de tratamento de esgoto – ETE Alegria e Penha. Estas utilizam após o tratamento secundário a cloração para a desinfecção de seu efluente para produção de água de reuso. A ETE Alegria destinou sua água de reuso na construção civil, especificamente na construção do Porto Maravilha, já a ETE Penha aplica seu efluente reusado principalmente na limpeza urbana.

O projeto AQUAPOLO, desenvolvido em São Paulo representa um dos principais exemplos do país voltado à água de reúso oriunda de efluente das ETEs. Este é realizado através da parceria entre a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP e a Foz do Brasil, empresa de engenharia ambiental da Odebrecht. As águas regeneras deste projeto possuem destinação ao setor da indústria e utiliza a técnica de membranas de ultrafiltração e osmose inversa, segundo a Revista Especializada em tratamento de água e efluentes – TAE (2012).

O Espirito Santo até o momento não apresenta um programa de reuso de efluentes de ETE operada pela Companhia Espírito Santense de Saneamento – CESAN, porém a empresa Arcelor Mittal Tubarão, situada no estado, passou a praticar o reuso desde 2006, com a instalação da Estação de Tratamento de Água – ETA de Reuso. Essa estação complementou o sistema de tratamento de água interno, proporcionando a reutilização de efluentes de esgoto, água de chuva e de alguns setores industriais segundo informações dispostas na web site da Arcelor Mittal Tubarão (2016).

Para que a prática de reuso seja desenvolvida de forma adequada é necessária à criação de uma legislação federal mais especifica e eficiente com normas e diretrizes que definam os conceitos, parâmetros e restrições ao reúso das águas. Até o momento existem algumas legislações estaduais e/ou municipais que abordam apenas alguns parâmetros de qualidade para a água de reúso. No Brasil o principal instrumento utilizado para a prática é a Norma Brasileira – NBR 13.969/97(ABNT, 1997), na qual possui o item 5.6 que aborda o tema reúso de efluentes com o título “Reúso Local”. Em 2005, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH implementou a Resolução CNRH nº 54 (Brasil, 2005), na qual define as modalidades de reúso, porém não apresenta parâmetros de qualidade de água. Atualmente, a legislação mais recente sobre o assunto é a legislação municipal de São Paulo n° 16.174, publicada em abril de 2015.

Sabe-se que a região sudeste é uma área caracterizada pelo desenvolvimento urbano, apresenta a maior densidade populacional do país, como já mencionado anteriormente e possui parte significativa das indústrias presentes no Brasil. Por isso os Estados do São Paulo, Rio de Janeiro, Espirito Santo e Minais Gerais são considerados grandes consumidores da água. Portanto o presente artigo tem como finalidade estudar economicamente a viabilidade da água de reúso proveniente das estações de tratamento de esgoto – ETE para utilização do setor indutrial na região Sudeste brasileira, por meio da comparação entre o custo estimado da água de reúso e o valor água potável. Ressalta-se que esta comparação foi realizada de forma estimada e pretende utilizar os dados apresentados para estimular a incorporação da água de reúso na cultura brasileira.

Autores: Bruna Magalhães Araújo; Bruna Magalhães Araújo e Frank Pavan de Souza.

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