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Cobras, carrapatos e besouros são aliados em novas frentes do combate à esquistossomose

Compostos de origem animal testados em laboratório conseguiram eliminar e impedir a reprodução do parasita causador da doença, com potencial para uso em novos tratamentos

Pesquisadores do Instituto Butantan e da USP demonstram, em artigo de revisão, o potencial ainda pouco conhecido de produtos de origem animal com ação contra o parasita causador da esquistossomose, doença cujo único tratamento disponível tem eficiência limitada. O estudo descreve os resultados positivos em testes de laboratório de compostos extraídos de besouros, carrapatos e cobras, que conseguiram eliminar e impedir a reprodução dos vermes. No Instituto Butantan, os cientistas descobriram que o veneno de serpentes do gênero da jararaca e da urutu é letal para os parasitas e agora pesquisam os componentes responsáveis por esse efeito, a fim de desenvolver novos tratamentos.

“A esquistossomose afeta aproximadamente 240 milhões de pessoas no mundo e está presente em 78 países, incluindo o Brasil. As principais limitações se devem ao fato de que o Praziquantel, única droga disponível para o tratamento da doença, apresenta pouca eficácia contra estágios juvenis do parasita e não previne a reinfecção”, afirma o pesquisador Murilo Sena Amaral, autor correspondente do artigo. “Além disso, já há relatos de tolerância dos parasitas ao medicamento. Nesse sentido, a descoberta de novos alvos terapêuticos contra o parasita é de extrema importância.”

“A pesquisa teve como foco compilar e apresentar dados da literatura científica que tratam de compostos e produtos naturais de origem animal que já foram testados e apresentaram potencial contra o parasita causador da doença, o Schistosoma mansoni”, relata o pesquisador. “Além disso, o estudo discutiu os desafios e avanços na busca por novas alternativas terapêuticas derivadas desses produtos e mostrou exemplos de testes inéditos de produtos e compostos de origem animal sobre esse parasita.”

Segundo Amaral, embora compostos naturais de origem vegetal sejam amplamente estudados para esse fim, os derivados de animais ainda recebem menos atenção.

“Isso acontece apesar de terem inspirado medicamentos já em uso comercial para outros fins, como o Enalapril [medicamento usado no tratamento da hipertensão e da insuficiência cardíaca]”, observa. “Nesse sentido, esses produtos naturais de origem animal representam uma promissora fonte de potenciais alternativas para o tratamento da esquistossomose.”

Bibliotecas biológicas

O pesquisador ressalta que os produtos de origem animal representam verdadeiras bibliotecas biológicas, sendo amplamente usados como estratégias de ataque ou defesa.

“Por essa razão, apresentam efeitos de particular interesse para o desenvolvimento de novas drogas, como efeito tóxico e indução à morte celular. Esses compostos incluem venenos, peptídeos antimicrobianos, entre outras substâncias”, enfatiza. “No entanto, a difícil obtenção desses produtos representa um obstáculo relevante. Já os compostos de origem vegetal, embora mais acessíveis, geralmente atuam de forma diferente, com mecanismos relacionados principalmente a propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.”

Os produtos naturais de origem animal analisados no estudo incluem o veneno da víbora Echis carinatus e compostos extraídos de artrópodes, como o carrapato Ixodes scapularis e os besouros Rhynocoris iracundus e Chalcophora mariana.

“Os experimentos demonstraram que essas substâncias reduzem a viabilidade dos parasitas, afetando sua movimentação e capacidade reprodutiva”, diz Agatha Fischer Carvalho, aluna do Instituto de Biociências (IB) da USP, primeira autora do trabalho. “Além disso, alguns desses compostos foram letais para os vermes em experimentos in vitro, reforçando seu potencial como candidatos para o desenvolvimento de novas terapias contra a esquistossomose.”

“No Instituto Butantan, nosso grupo de pesquisa investiga o potencial efeito antiesquistossomótico de venenos de serpentes do gênero Bothrops [cotiaras, jararacas e urutus]”, aponta Amaral. “Os resultados dos testes in vitro mostram que alguns desses venenos são altamente letais para os parasitas, revelando seu potencial significativo no combate à esquistossomose. O próximo passo será avaliar quais componentes desses venenos são responsáveis pelos efeitos esquistossomicidas.”

A pesquisa contou com a colaboração de cientistas da USP e do Instituto Butantan. Agatha Fischer Carvalho, primeira autora do artigo, é estudante do Instituto de Biociências (IB) da USP. No Instituto Butantan, Murilo Sena Amaral, líder do estudo, é pesquisador. O professor Sergio Verjovski Almeida, do Instituto de Química (IQ) da USP, também é pesquisador no Laboratório de Ciclo Celular do Instituto Butantan. A doutoranda Tereza Cristina Taveira Barbosa é aluna do Programa de Pós-Graduação em Toxinologia. Além disso, o Instituto Butantan tem um papel fundamental no fornecimento dos venenos de serpentes utilizados em testes realizados pelo grupo de pesquisa contra o parasita.

Fonte: Labnetwork


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