Poluição das águas e do ar, congestionamentos, sistemas de drenagem insuficientes, lixo acumulado, má ocupação do espaço urbano, desperdício de energia, e problemas de mobilidade são alguns dos sintomas de um modelo de crescimento desordenado, causado por um processo acelerado de urbanização que não utilizou tecnologias e instrumentos de planejamento e gestão para integração entre homem & espaço urbano e homem & meio ambiente de maneira adequada.
De acordo com o núcleo de estudos para populações da ONU – Organização das Nações Unidas – a América Latina é a região que mais se urbaniza no mundo. Até 2030 este processo deverá chegar a aproximadamente 85%, percentual superior a média mundial de 70%, projetada para o mesmo período.
Aumento populacional não é uma exclusividade de megacidades e, segundo estudo da consultoria Mckinsey de 2009, nos próximos 15 anos, mais de 60% do crescimento econômico mundial estará concentrado em 600 cidades de pequena e média dimensão, marcadamente em mercados emergentes. No contexto brasileiro, cidades como Belo Horizonte, Belém, Brasília, Fortaleza, Salvador, Recife, Curitiba e Porto Alegre, deverão, proporcionalmente, crescer mais do que as megalópoles São Paulo e Rio de Janeiro, demonstrando um processo onde cidades de menor porte passam a ter mais importância econômica dentro do cenário nacional. Conforme o IPEA, entre 2002 e 2008 as cidades brasileiras entre 100 e 500 mil habitantes foram as que tiveram o maior incremento relativo, tanto em população quanto em PIB. Fatos que demonstram uma clara mudança no paradigma de desconcentração da produção e da população.
O IBGE já aponta como tendência o fato de futuramente termos a maior parte da riqueza do país, assim como de sua população, concentrada em tais municípios. Ao se pensar no potencial de degradação ambiental que tal conformação comporta, devido à processos de urbanização contraditórios, é muito importante analisar os casos já conhecidos e estudados de cidades maiores a fim de se evitar o mesmo caminho. Tais inchaços urbanos terão como imediata consequência implicações ambientais, econômicas, políticas e sociais, em um sistema interligado que obrigará os gestores públicos e privados a planejar e operar sistemas que atendam às demandas por serviços que estejam alinhados a uma governança ambiental.
Nem sempre é possível contornar soluções dispendiosas de engenharia de abastecimento de água, coleta de lixo, mobilidade ou mesmo redes de energia elétrica. Contudo, em cenários não consolidados, legislação referente à ocupação urbana e à proteção de mananciais, como o Plano Diretor e o Código Florestal, são fundamentais para se garantir um cenário menos impactante, salvando, inclusive, recursos financeiros públicos.
Sabidamente um dos maiores desafios em áreas urbanas é a questões relativas ao saneamento básico. Termo que por ser amplamente usado, acaba não se associando a sua real definição. Saneamento Básico se remete a ações referentes ao abastecimento de água potável, coleta e tratamento de efluentes, gestão de águas pluviais (a grosso modo ligados à rede de drenagem), gerenciamento de resíduos sólidos (incluindo limpeza urbana) e o manejo de vetores de pragas. Sendo esse último ligado às questões de higienização originados nas origens do saneamento. A totalidade desses cinco fatores são considerados básicos, por colocarem a vida em risco caso ausentes.
Contudo, diversos governos da América Latina e do Brasil tiveram por características primar por ações de abastecimento de água, não só por serem fundamentais, como também pela sua maior aceitação pública imediata. Deixando, outras sem atendimento conforme levantamento realizado em 2010 pela Economist Intelligence Unit (EIU). Nele constatou-se que as empresas de saneamento da região levam a qualidade da água muito a sério, dando menos atenção à manutenção da infraestrutura de distribuição e captação e coleta de esgotos. Segundo o estudo, a região se classifica bem em eficiência operacional e em serviços de saneamento, e a aparente abundância de recursos hídricos imprime uma falta de emergência na resolução de problemas relacionados às perdas técnicas.
É nesse cenário que um importante estudo da Siemens (à saber Índice de Cidades Verdes da América Latina) onde diversas as principais cidades da América Latina são comparadas frente a seu desempenho ambiental em várias, vem a tona. Apesar de apresentarem níveis diversos de adaptação e de infraestrutura instalada, as cidades de Belo Horizonte, Rio, São Paulo e Brasília são consideradas acima da média e Curitiba bem acima da média.
Tecnologia e governança pública como impulsionadores da preservação ambiental nas cidades
Diante dos desafios expostos anteriormente é possível afirmar que as soluções para as cidades passam diretamente pela implantação de tecnologias para a construção de cidades mais inteligentes e por referencial regulador apropriado.
Os investimentos mundiais em tecnologias voltadas para cidades atingiram US$ 8,1 bilhões no ano passado (2011), cifra que tende a saltar quase cinco vezes até 2016, quando alcançará US$ 39,5 bilhões, segundo projeções da ABI Research, consultoria responsável por estudos do setor.
Frente a esses dados é possível projetar um cenário no qual as tecnologias, como a instalação de sensores para detecção de perdas de água em sistemas de abastecimento, possam ser implementados em larga escala o que resultará no aproveitamento correto dos recursos hídricos em operações de saneamento.
Outro fator que pode contribuir de forma decisiva para a construção e manutenção de ambientes urbanos mais sustentáveis é o incentivo a uma ocupação urbana mais organizada que terá como consequência a menor degradação dos cursos de água bem como a melhora da qualidade do ar, devido a melhor gestão da mobilidade urbana e dos deslocamentos dos cidadãos.
Rio de Janeiro e São Paulo propõem projetos que, mesmo controversos, tem por fim mudar a estrutura urbana através de alterações das características de seus centros. Projetos como o Porto Maravilha e o Nova Luz tem o potencial de diminuir impactos de transporte e abastecimento decorrentes da subutilização da infraestrutura instalada nos centros dessas cidades. Mudanças em incentivos fiscais e estruturação física de edifícios visam, em ambos casos, atrair maior número de moradores para essas regiões já consolidadas, onde o investimento público para infraestrutura é mínimo.
Outro exemplo efetivo de movimentação das cidades na direção de práticas sustentáveis foi a reunião dos prefeitos do C40 (Climate Leadership Group), durante a Rio+20 realizada em junho de 2012 no Rio de Janeiro. Nesta reunião foi definida que as cidades que compõem o grupo irão promover ações para a redução de até 1,3 bilhão de toneladas de emissões de carbono até 2030 – número que equivale ao que países como o México e Brasil devem emitir juntos, nos próximos 18 anos. Para tanto, até 2020, a proposta anunciada é de reduzir até 248 milhões de toneladas de emissões de GEE.
Pesquisadores e especialistas no tema concordam que as cidades, pela sua inerente capacidade de se organizar e de provocar mudanças estruturais na sociedade, tem como missão a promoção do desenvolvimento de uma economia de baixo carbono, através da adoção de práticas sustentáveis que resultarão em uma boa qualidade de vida para os cidadãos e o estabelecimento de uma relação amigável com o meio ambiente.
Vinnicius Lopes Ramos Vieira
Atualmente é pesquisador do Núcleo de Estudos do Futuro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e responsável pelos projetos de pesquisa em infraestrutura na Hiria.
Mestre em Administração de Empresas pela PUC-SP, possui certificações emitidas pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento em integração política e econômica do Leste e Sudeste Asiático (2010) e pela Universidade de St. Gallen e Insper em integração econômica, política e jurídica da União Europeia (2011).
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Artur Sgambatti Monteiro
Artur é especialista de projetos pela AECOM onde desenvolve diversos projetos ligados à temática ambiental e urbana, incluindo a estratégia de sustentabilidade do Parque Olímpico das Olímpidas de 2016 para a prefeitura do Rio de Janeiro.
Formado em Gestão ambiental pela USP, Artur cursa MBA em Economia e Gestão da Sustentabilidade na Construção Civil na UFRJ, é profisional acredidado pelo USGBC trabalhando com certificação LEED e desenvolveu diversos projetos pela Bolsa de Valores de Frankfurt.
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