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Alumínio na Água de Abastecimento X Experiência Internacional

A idéia de que a contaminação da água de abastecimento público por alumínio simplesmente não pode ocorrer porque esse metal se precipita durante o processo de floculação, depositando-se no logo de fundo das estações de abastecimento de água (ETA) não encontra respaldo na experiência internacional.

Assim, por exemplo, uma ONG norte-americana que trabalha com bases de dados oficiais informa que entre 1998 e 2003, nos EUA, 48,9 milhões de pessoas em 2.635 cidades beberam água contaminada por alumínio, ainda que dentro dos padrões estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental – EPA, sendo que 695 mil, em 89 cidades, o alumínio residual da água de abastecimento estava acima desses mesmos padrões.

Esses números se baseiam em dados reportados pelas próprias empresas prestadoras dos serviços de abastecimento de água, que realizam os testes para a detecção de alumínio uma vez a cada a cada 2 ½ anos, ainda que testes “rotineiros” sejam exigidos pela norma. EWG é a sigla para Grupo de Trabalho Ambiental e as informações acima citadas encontram-se em www.ewg.org/tapwater/contaminants/contaminant.php?contamcode=1002.

Como nos EUA existem quase 40 mil empresas de abastecimento de água, a EWG afirma que no período – 1998 – 2003 – apenas 0,1% das mesmas – ou 65 empresas – reportaram resultados com a violação dos padrões de alumínio. Mas como o índice de medições era demasiadamente baixo, não é improvável que esse número seja bem maior.

Nos países sérios, os debates sobre este assunto ocorrem sem maiores constrangimentos e assim aconteceu na Irlanda do Norte em 1999 quando foi constatado que o padrão da União Européia para o alumínio residual na água de abastecimento era violado em 1 de cada 20 amostras realizadas. Um representante do Serviço de Águas do Departamento de Meio Ambiente apressou-se a dizer que os níveis encontrados não significavam um risco para a saúde, mas que era imprescindível que a empresa de abastecimento de água respeitasse os padrões da União Européia.

O governo também apressou-se a dizer que a maior parte do alumínio ingerido pelas pessoas vêm dos alimentos processados industrialmente e do próprio meio ambiente, colocando mais lenha na fogueira dos debates. Consultada a Sociedade para a Doença de Alzheimer, uma especialista informou que ainda existindo evidências “apenas circunstanciais” da relação entre a contaminação por alumínio e a doença, era necessário ressaltar que “o cérebro é uma parte muito delicada do organismo e não tem condições de absorver grandes quantidades de substâncias tóxicas”.

O debate tornou-se mais acirrado quando um representante do governo afirmou que elevadas concentrações de alumínio já se encontravam presentes havia mais de 100 anos no lodo de fundo do reservatório no qual a empresa de água fazia a sua captação. A contestação não tardou, ainda que se reconhecesse a possibilidade de que o alumínio estava sendo removido das rochas para o reservatório por chuvas ácidas. Quanta complicação!

Também nesse caso os debates se transcorreram normalmente, com as partes se concentrando em argumentos técnicos, e tudo foi resolvido quando o governo decidiu alocar 500 milhões de libras esterlinas para melhorar os sistemas de tratamento de água.Uma década depois, a notícia ainda pode ser encontrada na BBC, no link abaixohttp://news.bbc.co.uk/1/hi/northern_ireland/441226.stm.

Na Alemanha oriental, 2,7% das águas de abastecimento público excediam o padrão de 0,2 mg/litro, enquanto na Alemanha ocidental as concentrações encontradas eram de 0,01 mg/litro, conforme se pode ver em estudo preparado para a Organização Mundial da Saúde em 1998 (www.who.int/water_sanitation_health/dwq/chemicals/en/aluminium.pdf).

Aparentemente, não há nada de novo no ar sobre o assunto além dos aviões de carreira e formas mais acirradas de resistência aos debates públicos sobre assuntos de interesse coletivo.

O fato da maior parte da absorção de alumínio por seres humanos nos países desenvolvidos se dar através da ingestão de alimentos industrializados não eliminou a norma para a água de abastecimento, ainda que possa demonstrar grande incoerência nas políticas públicas para esse contaminante neuro-tóxico.

“O uso de sais de alumínio como coagulantes no tratamento de água pode resultar no aumento das concentrações de alumínio na água de abastecimento. Quando as concentrações residuais são elevadas, o alumínio pode ser depositado no sistema de distribuição.. A alteração desses depósitos podem ocorrer pela mudança na velocidade no sistema conferindo cor e turbidez indesejáveis à água da torneira (OMS, 1996). As concentrações de alumínio nas quais essas situações podem ocorrer são altamente dependentes de diversos parâmetros da qualidade da água e fatores operacionais na estação de tratamento de água.” (Aluminium in Drinking –water – Background document for WHO Guidelines for Drinking Water, 1998)

Publicado por Luiz Prado em Pensamentos e Revisão de Estudos Científicos, Meio Ambiente – Políticas Públicas e Saneamento Básico

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