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Seminário Internacional “ Controle de Perdas e o Enfrentamento da Escassez Hídrica” – Segundo dia

O segundo dia de debates, do “ I Seminário Internacional de Perdas e o Enfrentamento da Escassez Hídrica”, realizado pela ABES no Hotel Holiday Inn, no Parque Anhembi em São Paulo, prosseguiu no dia 7 de julho com temas essenciais do setor, como os indicadores de perdas reais estabelecidos pela IWA – International Water Association, os avanços recentes nos conceitos e práticas às perdas aparentes, a regulação e análises econômico-financeiras.

Mais de um terço da água potável no mundo é perdido nos sistemas de distribuição de água, principalmente devido a vazamentos subterrâneos não detectados e a má administração.

O especialista austríaco em recursos hídricos, Roland Liemberger da IWA Water Loss Specialist Group, iniciou os debates e comentou sobre as duas décadas de conceitos e indicadores de perdas reais estabelecidos pela instituição. Ele discorreu sobre a experiência de redução de perdas em Manila, capital das Filipinas com 1,6 milhões de habitantes. A região metropolitana de Manila possui 19 milhões de habitantes. “Quando chegamos à Manila, havia perdas de águas que correspondiam a cinco vezes o consumo diário de água de uma cidade como Campinas, com a realização dos trabalhos, 240 mil vazamentos foram reparados e 1.360 Km de encanamentos substituídos. As perdas de água foram reduzidas para 770 milhões de litros por dia, o que corresponde a 2,5 vezes o consumo diário de água em Campinas”, disse.

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Liemberger fez críticas sobre o ILI (Índice de Vazamento de Infraestrutura), que é utilizado por profissionais experientes, e recomendado pela IWA e AWWA como o indicador de desempenho mais adequado para perdas reais (físicas). Em muitos casos, a má qualidade dos dados nos países em desenvolvimento, são frequentemente citados como motivação para não utilizar esse índice.

Foi destacado pelo especialista austríaco, os diversos projetos para a redução de perdas, como por exemplo a troca dos hidrômetros em Itapevi na região metropolitana de São Paulo, com 100% de êxito. Também a realização de outro programa em parceria com a Sabesp, estimulando o consumo responsável de água em 148 escolas públicas de São Paulo junto com a adaptação dos seus banheiros, reduzindo as perdas e o consumo em 50%.

Michel Vermersch, especialista da IWA, comentou os avanços recentes da entidade nos conceitos e práticas do combate às perdas aparentes.

“Devido a organizações como a IWA (International Water Association) atualmente possuímos um conhecimento razoável dos fenômenos que causam as perdas de água e dos resultados internacionais, uma vez que há estudos de avaliação comparativa (benchmarking). As metrópoles e os países que alcançaram resultados consideráveis são aqueles que usam as modernas tecnologias, e também aqueles que assimilaram a importância da gestão da mudança”, disse.

O Eng° francês afirmou, que no cenário brasileiro, inicialmente é preciso entender que o tratamento das perdas aparentes (comerciais) é tão importante quanto o tratamento das perdas reais (vazamentos). Deve-se compreender também que nenhum resultado sustentável pode ser atingido sem o desenvolvimento de cenários de um gerenciamento efetivo da “gestão da mudança”, envolvendo todos os seus componentes. Tais questões vêm sendo consideradas nos projetos em curso de desenvolvimento no Brasil como: Mudança Cultural, Mobilização Social, Treinamento e Motivação.

As tendências com respeito as perdas aparentes durante os últimos anos demonstradas:

  • Novas tecnologias de medição e localização que permitem reduzir e controlar as perdas aparentes: smart meters, AMR, GIS, etc.
  • Aumento da consciência da necessidade da participação comunitária e casos exitosos nessa área.
  • Aumento da consciência da importância da gestão da mudança para obter resultados sustentáveis.
  • Uso de Sistemas de Informação mais sofisticados e completos para integrar os dados da empresa e as possibilidades de controle.

“Em contrapartida, é necessário aumentar a confiabilidade das auditorias iniciais e dos dados de campo para não perder o contato com a realidade”, finalizou Vermersch.

O consultor português, Joaquim Poças Martins apresentou “Regulação do saneamento e as perdas – A experiência europeia”.

Para reduzir as perdas, o especialista aconselha realizar o cálculo do balanço hídrico, reparar todas as perdas visíveis, contabilizar toda a água, instalar uma sala de comando mesmo que seja só com um colaborador e fazer telemetria. “Na Cidade do Porto, começamos a fazer telemetria com uma motorizada para saber o consumo noturno. Um funcionário ia monitorar o consumo e voltava ao local duas horas depois. Basta fazê-lo uma vez por mês e ficamos com uma ideia das perdas reais”, destacou.

Para ele um erro frequente é o de planejar e investir em novas infraestruturas antes de implementar medidas de reestruturação e eficiência (sobredimensionamento de ETA, reservatórios e tubulações).

A existência de equipes de controle ativo de perdas e de equipes de reparação rápida de rupturas são também importantes na estratégia para combater às perdas, que o especialista compara a um conjunto de doenças para as quais já existem curas definidas e pouco caros. “As intervenções mais caras prendem-se com a substituição de tubulações e hidrômetros. “Os ganhos otimizados com a redução das perdas de água podem ser canalizados para fazer face a investimentos ainda necessários na rede ou reabilitação sem aumentar as tarifas”, comentou.

Joaquim Poças Martins salientou, que os dados de regulação permitiram, em Portugal, construir um modelo de cálculo das tarifas de sustentabilidade sem e com agregação. Este modelo determina para cada entidade gestora a tarifa de sustentabilidade por duas vias:

  • A partir das tarifas de entidade gestora de referência (yardstick ou frontier).
  • A partir dos custos atuais introduzindo medidas corretivas: correção de custos anormalmente baixos e altos, redução de perdas reais e aparentes, expansão dos sistemas, reabilitação das redes, otimização de custos de pessoal e de energia e cálculo das tarifas necessárias para a recuperação integral de custos por via do tarifário.

O americano Alan Wyatt, falou sobre análise econômico-financeira de programas de controle e redução de perdas. Para ele, observando os aspectos financeiros fica evidente que, a redução de perdas de água é a opção mais atrativa financeiramente no combate da escassez. O especialista utiliza o modelo financeiro para otimizar a gestão de perdas.

Segundo Wyatt:

  • As alterações climáticas e secas vieram para ficar e cada vez pior.
  • A redução de perdas pode ser muito rentável em comparação com outras medidas de eficiência hídrica.
  • As propostas mais caras serão frequentemente necessárias para atender a demanda.
  • Boas ações de planejamento são essenciais.
  • Instrumentos ideais no combate às perdas e os bancos de dados ajudam no planejamento, entretanto precisamos urgentemente de mais informações relacionados aos pontos de dados (coordenadas de um local).

Gheorge Patrick Iwaki

[email protected]

Responsável Técnico

Fonte: Portal Tratamento de Água

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