NOTÍCIAS

Revés em pacto lança debate sobre plástico no limbo

Revés em pacto lança debate sobre plástico no limbo

Falta de acordo em plenária de Genebra deixa incertezas sobre futuro de combate à poluição

O fracasso da negociação sobre um acordo global de combate à poluição plástica, na sextafeira, em Genebra, deixou o tema no limbo. A plenária foi encerrada sem acordo e, pior, sem que os países indicassem como seguir. Não está claro, sequer, se o presidente da conferência, o embaixador equatoriano Luis Vayas Valdivieso, continuará no posto.

“Aparentemente o mundo não está pronto para adotar um acordo”, lamenta a embaixadora Maria Angélica Ikeda, chefe dos negociadores brasileiros. Ela diz que o Brasil e outros países propuseram uma reflexão sobre o que já poderia ser incluído no acordo, e o que devia ser deixado para a Conferência das Partes resolver (a primeira COP do acordo, se tivesse sido adotado). “Porque o estado de maturidade da comunidade internacional em agosto de 2025 nos permitiria adotar alguns tópicos, e o resto iríamos amadurecendo para preparar as decisões da COP”. diz.

“Embora não tenhamos alcançado o texto do tratado que esperávamos, nós do Pnuma continuaremos o trabalho contra a poluição plástica -poluição que está em nossas águas subterrâneas, em nosso solo, em nossos rios, em nossos oceanos e em nossos corpos”, disse Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em nota. O comitê intergovernamental de negociação (INC, na sigla em inglês), “concordou em retomar as negociações em uma data futura a ser anunciada”, diz o texto.

A próxima sessão da Assembleia do Meio Ambiente da ONU, a Unea7, acontece em dezembro, no Quênia, e ali pode haver algum encaminhamento como a prorrogação do mandato do Comitê. O processo para que o mundo chegasse a um acordo global sobre o fim da poluição plástica começou em março de 2022. O prazo era até a INC-5, reunião de Busan, na Coreia, em novembro de 2024. A conferência, contudo, não chegou a acordo -mas aprovou um texto-base de discussão e adiou a decisão para Genebra, na INC-5.2.

“Estamos muito frustrados com o resultado do encontro em Genebra. Em seis reuniões, os países não conseguiram chegar a um consenso de um instrumento internacional efetivo para combater a poluição plástica. Na ressaca de Genebra mergulhamos em um ambiente de muita incerteza”, diz Pedro Prata, gerente sênior de políticas e instituições para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur.

O segundo ponto, diz, é que não houve consenso em nenhum dos três tópicos cruciais da negociação -a eliminação gradual de produtos e químicos problemáticos, critérios para design de produtos plásticos e embalagens, e uma diretriz clara de responsabilidade do produtor.

“Ou seja, quem polui paga pela contaminação para que se tenha um recurso suficiente e permanente para dar conta da poluição plástica”, explica. “E envolvendo tudo isso, não se chegou a um acordo sobre mecanismo de financiamento, ou como os países desenvolvidos podem garantir a transição econômica dos plásticos para os em desenvolvimento” diz.

Alexander Turra, professor titular do Instituto Oceanográfico da USP e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) defende “um freio de arrumação”, para não comprometer o processo depois do fracasso de Genebra.

“É preciso estabelecer uma plataforma de negociação entre esta sessão e a próxima, que terá que ser feita, para que se consiga avançar nestes desafios”.

Um deles, diz Turra, é a expectativa de se limitar a produção de plástico no mundo.

“Outro se relaciona aos produtos perigosos para a saúde que precisam ser compreendidos e eliminados do processo de fabricação e de uso”, segue.

“Já temos ciência suficiente para poder decidir, mas falta o acordo, que é brecado nas decisões econômicas e estratégicas dos países”.

“O Brasil sempre procurou convergência e queríamos muito esse acordo”, diz Angélica Ikeda.

“Apoiávamos medidas nacionais de globais de produção e estávamos preparados para discutir essas propostas. Mas éramos neutros porque o Brasil ocupava a co-presidência do grupo que discutia isso e como estratégia de negociação. Por causa do grande problema e onde os países desenvolvidos se uniam, que era o tema do financiamento”, diz ela.

Fonte: Valor


ÚLTIMAS NOTÍCIAS: