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Mais de mil municípios não têm água monitorada pelo governo federal

 Elogiado internacionalmente por seu programa para adaptação às mudanças climáticas, o Brasil acelera para cumprir, até o ano que vem, uma das metas relacionadas à saúde.

agua

O Programa de Vigilância da Água para Consumo Humano (Vigiágua) ainda não chegou a 1.440 municípios. O levantamento foi realizado em todas as cidades do país (5.570), além das 31 regiões administrativas do Distrito Federal.

No Plano Nacional de Adaptação, instituído em 2016, o Ministério da Saúde comprometeu-se a monitorar a qualidade da oferta de água e sua potabilidade em 4.760 municípios e regiões administrativas, o equivalente a 85% das unidades do país, até 2019. Hoje, 73,7% participam da iniciativa.

Enquanto se esforça para atingir a meta, o ministério criou, em parceria com a Fiocruz, um observatório que identifica padrões climáticos e seus efeitos sobre a saúde no país. Pesquisador do órgão, Christovam Barcellos alerta que a grande variedade de biomas complica o diagnóstico sobre os principais problemas de cada região, muitos causados pelo excesso ou por falta d’água.

— O semiárido nordestino e a Amazônia enfrentam secas severas em períodos de El Niño — destaca. — A floresta é muito mais vulnerável do que parece, porque a navegação nos rios pode ser interrompida, isolando comunidades ribeirinhas e impedindo o abastecimento de água potável. Entre as enfermidades relacionadas à água e ao saneamento estão a hepatite A e a esquistossomose.

SITUAÇÕES OPOSTAS

A estiagem, que também é cada vez mais comum no Cerrado, facilita a propagação de queimadas e o aumento de enfermidades respiratórias. Na Caatinga, que experimentou, nos últimos cinco anos, sua pior seca desde 1845, seu efeito é ainda mais grave. A região mais pobre do país pode registrar mais doenças não transmissíveis, como a desnutrição e o estresse mental.

O Rio de Janeiro e outras metrópoles litorâneas estarão sujeitas uma situação oposta. Os eventos extremos trarão mais chuvas, enchentes e deslizamento de encostas.

— É difícil quantificar o número de mortes causadas pelas mudanças climáticas, mas vemos como os desastres ambientais provocam centenas de vítimas. Nos últimos anos, milhares de pessoas foram mortas em chuvas na Região Serrana do Rio, em Alagoas e no Vale do Itajaí (SC) — enumera.

Nos últimos anos, quando decretaram estados de calamidade por conta das chuvas, Pernambuco e Alagoas registraram surtos de diarreia devido à falta de água potável, levando a população a buscar fontes contaminadas para consumo.

Efeitos climáticos e sociais

— Existe uma associação entre efeitos climáticos e sociais — sublinha. — No início da década de 2000, quando o país vivia um período de crescimento econômico e distribuição de renda, a população investiu na melhoria de suas casas, construiu cisternas e preparou-se para condições emergenciais que atenuariam os eventos climáticos extremos. Nos últimos anos, porém, a falta de diversidade da matriz energética e de políticas de renda mínima deixou os brasileiros mais frágeis.

Coordenadora do Laboratório de Geografia, Ambiente e Saúde na UnB, Helen Gurgel alerta que, embora o governo federal tenha um plano de adaptação às mudanças climáticas, a responsabilidade por sua implementação cabe aos municípios, que esbarram em diversos obstáculos para garantir que os programas delineados saiam do papel.

— Muitas vezes falta capacidade técnica, vontade política ou os gestores ignoram como a discussão sobre clima e saúde é importante. Vemos que alguns secretários que deveriam trabalhar nesta área sequer concluíram o ensino fundamental — lamenta a professora. — E os ministérios deveriam ser mais articulados. Este é um assunto que interessa às pastas de Saúde, Meio Ambiente e Integração Nacional. Ainda assim, fica em segundo plano em um momento de crise política e econômica.

Fonte: O Globo.

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