Metas climáticas ameaçadas – Medidas para diminuir a dependência em relação à Rússia está gerando ações de curto prazo que favorecem produtores de energia suja e pioram a crise do clima.
A invasão da Rússia à Ucrânia gerou impactos econômicos em todas as partes do mundo, e um dos efeitos que ainda chamam pouco a atenção é o enfraquecimento da ação global para enfrentar as mudanças do clima
Foto Divulgação Climatempo
Para aumentar a independência em relação aos recursos naturais da Rússia, países da Europa e da Ásia, além dos EUA, estão investindo em novos projetos de combustíveis fósseis e de mineração, algumas das principais atividades que alimentam o aquecimento global que altera o clima da Terra.
Não é a primeira vez que o clima é deixado em segundo plano diante de conflitos políticos e econômicos – a razão da crise climática atual é exatamente esta.
Seria possível fazer diferente? A resposta é “sim”, segundo um novo estudo do think thank britânico Chatham House. A pesquisa analisa como a guerra está sabotando o combate às mudanças climáticas globais em três setores principais:
Mais combustíveis fósseis, com preços mais altos
A alta no preço dos alimentos e da energia já existia antes da guerra, e ela teve origem sobretudo na desorganização das cadeias de abastecimento causada pelo covid-19.
Em 2020, houve muitas promessas de reconstrução verde da economia após a pandemia, mas desde o ano passado, o que se vê é um aumento do investimento em combustíveis fósseis, maior causa das mudanças climáticas globais. A guerra e a consequente necessidade de diminuir importações da Rússia servem agora como justificativa para esses investimentos.
Mas os novos projetos em energia fóssil estão apenas favorecendo as receitas das empresas petroleiras e não estão ajudando a baixar os preços. Nos EUA, políticos discutem uma tributação maior às companhias de energia fóssil para impedir que elas sigam lucrando com a guerra.
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Queda na oferta de fertilizantes
O gás natural fóssil é a principal matéria-prima para a produção dos fertilizantes sintéticos, os mais usados pelo agronegócios industrial. Os preços extremamente altos da energia leva a preços extremamente altos dos fertilizantes, que por sua vez têm impacto imediato nos preços dos alimentos.
A falta de fertilizantes já está levando a safras menores, e as mudanças climáticas também estão reduzindo colheitas em várias partes do mundo. Este foi um dos principais alertas do relatório climático da ONU divulgado em fevereiro.
Uma estiagem severa em 2021 comprometeu a safrinha de milho no Brasil, e secas esperadas para este ano no meio oeste dos EUA, no Oriente Médio e no norte da África tendem a descompassar ainda mais oferta e demanda por grãos. A FAO estima que mais 13 milhões de pessoas a mais serão classificadas como subnutridas durante o próximo ano.
Alimentos mais caros
Expandir a área agrícola não levará necessariamente a uma produção mais alta, especialmente se os fertilizantes permanecerem caros. E abrir novas áreas agrícolas agrava os impactos no clima – 23% das emissões de gases de efeito estufa vêm da agricultura e de outras mudanças no uso da terra. Neste século, quase metade das novas áreas de cultivo agrícola no mundo substituíram vegetações originais que absorvem dióxido de carbono (CO2).
E mesmo que a produção cresça, o problema da fome em nível global não será solucionado. Isto dependeria uma uma mudança estrutural e de novos modelos de produção. Entre 1990 até o ano de 2014, o investimento em agricultura e a produção de alimentos cresceram em todos os grupos de países, e mesmo assim o percentual de pessoas em insegurança alimentar aumentou.
Medidas livres de arrependimento
Entre os exemplos do relatório do Chatham House de “medidas livres de arrependimento” para contornar a crise gerada pela guerra, estão a troca de fertilizantes sintéticos por orgânicos, o aumento da produtividade por hectare e a recuperação de terras degradadas.
No setor de energia, acelerar ao máximo a transição para energia renovável é a melhor resposta à dependência de combustíveis russos nas maiores economias, e isso inclui a eletrificação da frota de automóveis. A mudança para energia limpa também protege a economia das oscilações internacionais de preço típicas da energia fóssil. Outro aspecto fundamental é o aumento da eficiência energética em todos os setores.
Fonte: Terra