40 milhões de toneladas de lixo se acumularam no local; risco de contaminação de lençóis freáticos e mananciais é monitorado
SÃO PAULO – Depois de mais de 60 anos de atividades, o lixão da Estrutural, em Brasília, foi finalmente fechado no dia 20 de janeiro deste ano. “Viramos essa página vergonhosa da história da nossa cidade”, disse o governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg, em cerimônia que marcou o encerramento das operações do segundo maior depósito de lixo a céu aberto do mundo. Com 201 hectares, a área está próxima ao Parque Nacional de Brasília e a cerca de 15 quilômetros da Esplanada dos Ministérios. A partir de agora, o lugar passa a ser o destino final apenas de resíduos da construção civil.
Legado
Mas o legado de poluição deixado pelas mais de 40 milhões de toneladas de lixo acumuladas no local não se resolverá de um dia para o outro. “A remediação do impacto ambiental pode levar de 30 a 50 anos. Serão necessárias várias etapas de contenção de vazamentos, emissões e tratamento da área, é como um quebra-cabeça de custo elevado”, disse à EXAME.com Gabriela Otero, coordenadora do departamento técnico da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
O lixão e a água
Uma das grandes preocupações de quem acompanha os impactos ambientais gerados pelos resíduos que permanecerão no lixão da Estrutural é a água da região. Segundo levantamento do Correio Braziliense, o depósito está instalado entre duas bacias que deságuam no Lago Paranoá: o córrego do Acampamento, no Lago Norte, e a Cabeceira do Valo, no Lago Sul. “Há estudos mostrando que a contaminação subterrânea se iniciou há algum tempo, de forma incipiente”, disse Sérgio Koide, engenheiro civil e doutor em recursos hídricos, ao Correio Braziliense.
Não ajuda que o Parque Nacional de Brasília, vizinho do lixão, abriga o sistema Santa Maria/Torto, o segundo maior reservatório do Distrito Federal e responsável pelo abastecimento de 25% da população da capital, também de acordo com o Correio Braziliense. A Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal), que monitora os recursos hídricos que servem à cidade, nega que haja qualquer contaminação do lençol freático na região.
Com o fechamento do lixão da Estrutural, interrompe-se o lançamento de mais lixo na região, mas os riscos criados pelas 40 milhões de toneladas de lixo que ali estão há 60 anos permanece – em especial para a água. O monitoramento intensivo do local pelas próximas décadas será fundamental para garantir a segurança ambiental.
Política Nacional de Resíduos Sólidos
Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010, o País deveria acabar com os lixões até 2014. O prazo foi adiado e, hoje, a data limite é julho de 2018 para capitais e municípios em regiões metropolitanas e 2021 para cidades menores. Não se sabe se os novos prazos serão cumpridos.
Fonte: Juntos pela água