LEITURA RECOMENDADA

Falta de saneamento coloca em risco as áreas úmidas da América Latina

Dia Mundial das Zonas Úmidas

Diante da falta de saneamento que coloca em risco as áreas úmidas da região, a Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água, ALADYR, propõe acelerar a cobertura de saneamento junto com a capacidade de reúso de água e considera que os investimentos privados são essenciais para essa tarefa

Reserva ecológica de Puerto Madero – Cortesía Turismo Buenos Aires

Imprensa ALADYR – No âmbito do Dia Mundial das Zonas Úmidas, a Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (ALADYR) expressou sua preocupação com a cobertura insuficiente de saneamento na América Latina, que deteriora rapidamente a saúde das áreas úmidas da região. A organização enfatiza que a dívida da América Latina com as áreas úmidas é também a dívida dos governos da região com a cobertura de saneamento.

O tema deste ano para a comemoração internacional é Proteger as Zonas Úmidas para Nosso Futuro Comum.

“Não os estamos protegendo o suficiente. Somos a região que os degrada mais rapidamente, e isso tem a ver com a lentidão com que estamos avançando em nossas metas de cobertura de saneamento. Estamos poluindo-os além de seu fluxo ecológico”, disse Luiz Bezerra, representante da ALADYR no Brasil.

Luiz Bezerra, representante ALADYR no Brasil

 

As zonas úmidas são ecossistemas essenciais que atuam como reguladores do ciclo hidrológico, filtram poluentes e albergam uma grande biodiversidade devido às suas condições de inundação ou saturação de água por longos períodos de tempo. No entanto, a Convenção de Ramsar adverte que na América Latina mais de 59% desses ecossistemas foram perdidos desde a década de 1960 devido à urbanização, mudança no uso da terra e poluição da água.

O Pantamal do Brasil é a zona úmida maior do mundo - foto WWF (1)
O Pantamal do Brasil é a zona úmida maior do mundo – foto WWF

Segundo dados do Banco Mundial, aproximadamente 70% das águas residuais da América Latina são despejadas em rios sem nenhum tratamento algum, o que agrava a poluição desses ecossistemas vitais.

A ALADYR propõe uma solução baseada no reúso de águas residuais, que consiste na adaptação da infraestrutura de tratamento existente através da implementação de tratamentos terciários. Essa adequação permitiria elevar a qualidade da água a níveis favoráveis para irrigação e uso industrial, o que reduziria a pressão extrativa que pesa sobre as zonas úmidas e evitaria que os poluentes continuassem a danificá-las.

Embora existam casos de sucesso e reconheçam tentativas por parte das instituições, a Associação ressalta que os esforços nesse sentido têm sido insuficientes.
Lembram que, de acordo com o Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF), para alcançar a universalização dos serviços de água potável e saneamento na América Latina, estima-se que a região deva investir cerca de 0,3% de seu Produto Interno Bruto (PIB) anualmente, o que equivale a aproximadamente USD 12.500 milhões por ano até 2030.

“Apesar dos esforços, isso não está sendo cumprido”, opinaram.

A ALADYR observa que as necessidades de sustentabilidade e preservação não se refletem com força suficiente nas alocações orçamentárias dos países da região. A Associação recomenda que as nações latino-americanas abram suas economias e estabeleçam garantias e confiança para a participação privada estrangeira por meio de concessões, a fim de atrair mais recursos para enfrentar o problema.

O chamado não atendido

Acrescentaram que, embora existam exceções notáveis, como o Aquapolo Ambiental em São Paulo, Brasil, que reutiliza água para a indústria, e a Biofábrica La Farfana em Santiago, Chile, que promove o reúso agrícola, a região em geral está ignorando o apelo das Nações Unidas para considerar as águas residuais como um recurso. Em seu relatório de 2017, a ONU instou os países a gerenciar as águas residuais de forma sustentável para proteger os ecossistemas aquáticos.

As tecnologias atuais permitem que você pegue até mesmo o pior dos efluentes de esgoto – “imagine a água mais suja que puder”, e convidam a transformá-la em água própria para consumo humano, inclusive, qualidade ainda superior aos engarrafados importados que você encontra no supermercado.

A nível global, a reutilização média de águas residuais tratadas se encontra entre 15% e 20%, enquanto na América Latina o número mal chega a 4%, segundo dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Esse atraso se deve à falta de infraestrutura adequada, regulamentações insuficientes e baixo investimento em tecnologias de tratamento. O baixo nível de reutilização não só agrava a crise hídrica na região, mas também aumenta a pressão sobre as fontes naturais, como rios e zonas úmidas.

A ALADYR faz um apelo urgente aos governos e ao setor privado para que implementem soluções eficazes no tratamento e reúso de águas residuais, com o objetivo de proteger as zonas úmidas e garantir um futuro sustentável para a região.

As zonas úmidas urbanas também devem ser apreciadas

Angélica Rivera, diretora da ALADYR, aproveitou a oportunidade para chamar a atenção para as zonas úmidas urbanas como soluções baseadas na natureza para a resiliência climática das cidades.

Angélica Rivera – Diretora ALADYR

“São uma forma de lutar contra as mudanças climáticas e a escassez de água”, disse ela.

Explicou que um exemplo da incorporação desses ecossistemas à paisagem urbana é encontrado na Cidade Autônoma de Buenos Aires, Argentina, com a reserva de Puerto Madero.

“Diante das chuvas torrenciais, são capazes de absorver e reter água, evitar o escoamento e melhorar a filtragem e purificação, ajudando assim a reduzir o risco de inundações enquanto armazenam água para as estações secas”, detalhou.

Fonte: ALADYR


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Mais sobre este autor:

Fundada em 30 de novembro de 2010, no âmbito do II Seminário Internacional de Dessalinização na cidade de Antofagasta, Chile. A AADYR é uma associação sem fins lucrativos que promove conhecimentos oportunos e experiências em torno de tecnologias de dessalinização, reuso de água e tratamento de efluentes, a fim de otimizar a gestão hídrica na América Latina e garantir o acesso à água potável dentro de padrões de qualidade, eficiência, sustentabilidade, desenvolvimento econômico e futuro social.

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