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Tecnologia brasileira recicla baterias de lítio

Energy Source

Fabricantes não precisam mais mandar componentes descartados para outros países

Reciclagem Lítio

Para os consumidores, levar o celular usado até um ponto de descarte parece o fim do aparelho. Para os responsáveis pela reciclagem de equipamentos eletrônicos, no entanto, é o começo de uma jornada que até pouco tempo atrás só terminava na Bélgica ou na Coreia do Sul. É que sem tecnologia para tratar as baterias de lítio – que equipam smartphones e notebooks, entre outros dispositivos – o Brasil precisava exportá-las para esses países, onde eram queimadas. Mas as coisas mudaram.

Agora, as baterias percorrem um trajeto bem mais curto e menos dispendioso até São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, onde ficam as instalações da Energy Source. Fundada em 2016, no próprio município, a companhia desenvolveu um processo de reciclagem que dispensa a queima das baterias e, por isso, tem emissão zero de carbono.

A Energy Source segue o conceito de economia circular, cujo objetivo é estender a vida útil dos produtos para reduzir a extração de matéria-prima da natureza.

A empresa deu os primeiros passos com atividades de reuso ou “segunda vida”, que visam dar uma finalidade diferente da original a baterias cuja capacidade está esgotada ou perto disso.

Em 2019, a direção da Energy Source percebeu que havia uma lacuna no segmento de reciclagem e começou a buscar uma solução para suprir essa ausência. Na reciclagem, as baterias são destruídas e os metais, recuperados. O resultado do esforço veio um ano depois, quando a empresa registrou a patente de uma tecnologia desenvolvida em parceria com a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp).

 


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A reciclagem proporciona um índice de aproveitamento maior que o da extração do material na natureza, afirma David Noronha, cofundador e CEO da Energy Source. São necessários 100 quilos de minério para extrair 1,61 quilo de lítio, ao passo que, com a reciclagem, a cada 100 quilos de material são recuperados 7 quilos de óxido de lítio.

“É por isso que nos definimos como uma mineradora urbana”, diz o empresário.

No Brasil, o processo de logística reversa de produtos eletrônicos e pilhas é feito pela Green Eletron, que não tem fins lucrativos. Criada em 2016 pela Abinee, a associação dos fabricantes de eletroeletrônicos, a organização é responsável por coletar os aparelhos e encaminhá-los aos parceiros de reciclagem.

Entre 2017 e o ano passado, a Green Eletron coletou 1,3 mil toneladas de dispositivos eletrônicos. No caso das pilhas, cujo trabalho de reciclagem foi assumido pela organização em 2018, o total soma 2 mil toneladas desde então, informa Ademir Brescansin, gerente executivo da entidade.

Um acordo setorial fechado com o Ministério do Meio Ambiente em 2019 estabelece as metas de reciclagem de produtos eletrônicos no país. Está previsto aumento gradual no volume do material a ser reciclado nos próximos anos – 1% de tudo o que foi fabricado em 2021; 3% neste ano; 6% no ano que vem; 12% em 2024; e 17% em 2025. Os postos de recolhimento, que atualmente somam mil pontos em 220 cidades, precisam a chegar a 5.050, distribuídos por 450 municípios, até o ano de 2025.

Um dos principais empecilhos ao avanço da reciclagem de eletrônicos no país é o desconhecimento do assunto pela população, diz Brescansin. Quase 90% dos brasileiros mantêm guardados na gaveta celulares e outros dispositivos eletrônicos que já não usam mais, cita o especialista, com base em uma pesquisa feita pelo Instituto Radar Brasil. Os aparelhos ficam esquecidos por um bom tempo: mais de um ano para 30% dos consumidores.

O levantamento também mostra que 33% das pessoas só relacionam a expressão “lixo eletrônico” às práticas de spam e às mídias sociais, e que 71% dizem não encontrar informação suficiente sobre o assunto.

“O consumidor ainda não percebeu os benefícios [da reciclagem] para o ambiente e a economia proporcionada pelas técnicas de reaproveitamento”, afirma o gerente executivo da Green Eletron.

As baterias de lítio têm ocupado cada vez mais espaço no esforço de reciclagem à medida que seu uso se dissemina na manufatura. A nova fronteira é a dos automóveis elétricos.

Pressionadas a parar de fabricar veículos a combustão entre 2030 e 2040 na maioria dos países europeus, as montadoras estão investindo nos carros a bateria, o que está provocando uma corrida pelo lítio, entre outros recursos naturais.

A previsão da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) é que 50 minas de lítio terão de ser abertas até 2030 para que a indústria automobilística atinja suas metas.

Como todo esse material terá de ser descartado em algum momento, a demanda acelerada desperta preocupações sobre a reciclagem baterias.

Uma das questões é a segurança dos usuários. Em geral, as baterias de lítio não são perigosas quando estão dentro de um aparelho. Mas é preciso que sejam corretamente armazenadas e transportadas após seu descarte, de maneira a evitar o risco de que sejam perfuradas e explodam, alerta Brescansin.

A estratégia da Energy Source é estabelecer uma frente única para o tratamento das baterias sob os chamados três “Rs”: reuso, reciclagem – alvo do acordo com a Green Eletron – e reparo.

No caso de reuso está um projeto que a Energy Source anunciou em abril, em parceria com a BMW e a WEG. O sistema utiliza 24 módulos de baterias retiradas do modelo BMW i3, que é elétrico, e os integra a 18 painéis solares da WEG. O resultado é uma estação de recarga para veículos elétricos inédita no mundo e que está em teste na fábrica da montadora alemã em Araquari (SC).

Neste ano, a Energy Source ingressou na terceira vertente, a de reparo. As baterias são corrigidas e voltam a ser empregadas em sua finalidade original. No caso dos carros elétricos, retornam aos veículos. A Renault tornou-se, recentemente, a primeira cliente do centro de diagnóstico e reparo aberto pela companhia.

Como muitas empresas de tecnologia, a Energy Source nasceu numa garagem. O espaço, de 10 metros quadrados, ficava na casa do cofundador e ex-sócio Peter Matthiessen, conta Noronha. As instalações foram ampliadas várias vezes e, atualmente, ocupam uma área de 4,5 mil metros quadrados.

Não há planos para construir centros semelhantes em outras partes do país porque, por enquanto, o volume interno não justificaria o investimento, afirma o CEO da Energy Source.

A companhia já começou, porém, a explorar as oportunidades de internacionalização: abriu uma operação no Paraguai, onde pretende estabelecer uma central para os demais mercados da América Latina. Um dos motivos que levou à escolha do país para estabelecer a base regional é a legislação, que é mais flexível que a brasileira, explica Noronha.

Os esforços de internacionalização serão financiados com os recursos obtidos pela Energy Source este ano em sua primeira rodada de captação. A empresa recebeu aporte, de valor não revelado, do fundo Commitment Equity Partners. O plano, afirma Noronha, é usar os recursos para acelerar o ritmo de crescimento.

Fonte: O Valor


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