Uma ‘Arábia Saudita’ de energia limpa: Produção de biometano tem alta no Brasil a partir de aterros sanitários
Combustível renovável a partir do gás metano gera expectativas para a COP30
O lixo que a gente produz diariamente é um grande problema para o clima. Quando decompostos ou queimados a céu aberto, diversos tipos de lixo liberam metano, um gás 25 vezes mais tóxico que o CO2 e um dos responsáveis pelo efeito estufa. A purificação desse vilão ambiental, por outro lado, gera o biometano, um combustível renovável cuja produção reduz a emissão do gás nocivo na atmosfera.
Hoje, o Brasil produz 840 mil metros cúbicos de biometano por dia, segundo a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás). São 11 usinas de processamento no país (a maioria em aterros sanitários). Mas, quando 32 instalações que aguardam liberação começarem a funcionar, serão 1,4 milhão de metros cúbicos a mais de produção. De acordo com a Abiogás, o país pode chegar a 2030 produzindo oito milhões de metros cúbicos diariamente.
Há no Brasil cerca de 2,5 mil lixões, que já deveriam ter sido desativados, segundo a lei de 2010 que estabeleceu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Entretanto, muitos municípios ainda usam essas áreas para fazer o descarte inadequado de detritos. Num lixão, a matéria orgânica dos detritos é decomposta e libera metano para a atmosfera. É tudo que não queremos.
Um aterro sanitário, por sua vez, é projetado para evitar a contaminação do solo e realizar o gerenciamento dos resíduos, tornando possível o processamento do metano em biometano. Mas é preciso incentivo para que mais lixões sejam transformados em aterros e, então, em usinas de biometano.
— Só se pode descarbonizar a economia substituindo energia fóssil por renovável, e o biometano tem essa função. Cada aterro sanitário, hoje, é como um poço de petróleo de combustível renovável. Nós temos uma Arábia Saudita de energia limpa no Brasil — diz o presidente da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), Pedro Maranhão. — É uma pauta real para a COP30.
O Brasil produz mais de 77 milhões de toneladas de lixo por ano. A maior parte vai para aterros, mas 40% ainda são descartados de forma inadequada. Ano passado, foi sancionada a Lei do Combustível do Futuro, que definiu metas para reduzir a emissão de gases do mercado de gás natural através do uso de biometano. Até 2034, o biometano deve representar 10% do gás natural vendido no país.
Segundo empresas do setor, o desafio agora é estruturar a produção brasileira para aumentar a oferta. O biometano começa a ser gerado, em média, após três anos de acúmulo de lixo. A decomposição do material orgânico por ação de bactérias produz o biogás, que, depois, é refinado e transformado em biometano.
Créditos de carbono
O Marco Legal do Saneamento Básico estipulava o fechamento dos lixões no Brasil até 2021. A meta foi adiada, mas o prazo final expirou ano passado. Mesmo assim, há milhares de lixões no país.
— Ainda falta sensibilidade dos gestores, mas isso está mudando. O biometano pode acelerar essa mudança — afirma Pedro Maranhão.
A Marquise Ambiental é a segunda maior produtora de biometano do Brasil. Gera de 15 a 20% do gás distribuído no Ceará, com sua usina de Fortaleza. Outros dois aterros, em Osasco (SP) e Natal (RN), devem começar a produzir o combustível ainda este ano e há um projeto de instalação em Manaus (AM).
— O biometano será um atributo verde muito importante na transição energética do planeta, é um caminho sem volta — analisa Hugo Nery, presidente da Marquise Ambiental.
Um aterro preparado para produzir biometano captura até 90% do biogás, o que gera créditos de carbono. A regularização desse mercado é outro passo importante, explica Milton Pilão, CEO do Grupo Orizon, que já opera um aterro com produção de biometano e prevê duas novas instalações no segundo semestre.
— Empresas brasileiras esperam o avanço do mercado carbono, para ter a oportunidade de acessar mercados internacionais do setor.
Fonte: Um Só Planeta