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Cedae interrompe funcionamento da ETA do Guandu após encontrar detergente na água

De acordo com a companhia, decisão foi tomada por questões de segurança após substância ser identificada por análise laboratorial. Polícia vai ao local

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A Cedae informou que identificou, no fim da tarde desta segunda-feira, por meio de uma análise laboratorial, a presença de detergente na água bruta que chega à Estação de Tratamento do Guandu. Para garantir a segurança hídrica das regiões atendidas pelo Guandu, diz a companhia, a diretoria resolveu interromper o processo de produção na estação, e pede que a população poupe água. Várias regiões do Rio já começam a sentir a falta de abastecimento.

Nesta terça-feira, equipes da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) chegaram à estação, por volta das 6h30.

De acordo com a empresa, o detergente foi arrastado pelas fortes chuvas da noite do último domingo, e a Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Rio (Agenersa) e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) já foram acionados para iniciarem os respectivos procedimentos.

“Técnicos da Companhia permanecerão monitorando a captação de água até que a concentração destas substâncias não represente risco à operação da estação”, conclui a nota da Cedae.

Em nota, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que técnicos do órgão farão, na manhã desta terça-feira, a coleta de amostras de água no Rio Poços, ao lado do distrito industrial de Queimados, e na entrada da captação e água bruta da ETA Guandu para análise. Os resultados devem ficar prontos em 24 horas.

O Inea diz que foi informado “somente às 19h” desta segunda-feira pela Cedae que suspendeu a captação de água bruta do Rio Guandu, porque “foi encontrado detergente não degradável oriundo de carga orgânica nos rios Poços, Queimados e Ipiranga que desaguam no Guandu”.

‘Solução é abrir a barragem e deixar a água sair ‘

Um ex-funcionário graduado da Cedae, que não quer se identificado, afirma que, se forem rápidos na retirada do detergente, a população não deve sofrer com a falta de água.

— Estamos com os reservatórios cheios, porque tem chovido e as pessoas estão consumindo menos água por causa de geosmina. O comunicado da Cedae mostra que, agora, passaram a monitorar a água de forma correta, o que não estava sendo feito quando a população é que percebeu que a água estava com problemas (geosmina) — afirmou.

Um funcionário, que também prefere não se identificar, diz que a solução é a mesma que deveria ter sido adotada quando foi identificada a geosmina.

— É preciso executar um plano de contingência já previsto. A solução, nos dois casos, é abrir a barragem e deixar o água sair. Uma seis horas seriam suficientes e não haveria problemas de desabastecimento. Era o deveria ter sido feito no caso da geosmina em vez de gastar milhões com carvão ativado e as pessoas continuarem a receber água com mau cheiro e gosto ruim — concluiu.


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‘Preocupante ‘, diz especialista

Professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Uerj, Adacto Ottoni considera preocupante encontrar detergente não degradável no manancial da Cedae:

— Isso é consequência da poluição da bacia do Paraíba do Sul. A Cedae encontrou espuma, mas esses cursos d’água estão poluídos. Quando ocorre temporais, a chuva vai lavando o valão de esgoto, proveniente de indústrias e residência. E o que a Cedae não está monitorando? Depois da geomina, os técnicos da Cedae têm que monitorar continuamente, e não de seis em seis meses, todos os parâmetros para água bruta (sem tratamento) que constam da resolução 357, do Conama. Ou seja, monitorar todos os tipos de metais pesados, como mercúrio, chumbo, alumínio e arsênio, e pesticidas — diz o engenheiro sanitarista.

O engenheiro químico e professor da Uerj Gandhi Giordano também analisa. Ele vê como positiva a ação preventiva da Cedae, apesar de poucos detalhes sobre o que foi de fato encontrado terem sido revelados pela companhia até então. No entanto, alerta que uma grande concentração de surfactantes (detergentes) deve indicar que pode ter acontecido algum vazamento da substância na água bruta que chega à ETA.

— O reservatório não tem condições de uso e eles precisam realmente fazer uma limpeza. Se for para tomar uma atitude, acho uma iniciativa positiva. Mas é preciso limpar o reservatório. E eles podem, inclusive, encontrar ainda muita coisa, como a geosmina — diz, e acrescenta:

— A presença de surfactantes num rio como o Guandu é comum. No esgoto tem, mas não é suficiente para criar problema à Cedae. O que pode ter causado esta reação é uma concentração acima do normal. Neste caso, a substância forma inclusive uma espuma que é facilmente visível. É preciso ser pesquisado, mas isso pode indicar algum tipo de derramamento de detergente. Além de tomar uma atitude, é preciso também investigar. É um item novo, mas já estamos passando por este problema da geosmina, não precisamos de outro.

Especialista em recursos hídricos, o engenheiro e professor e Coppe/UFRJ Paulo Canedo destaca que a solução para o bacia do Paraíba é o saneamento de Queimados e Japeri. Mas lembra que as obras são caras e demoram quatro anos para ser concluídas. Para diminuir um pouco a fragilidade da água que fluminenses consomem o professor sugere que, enquanto a solução definitiva não é implementada se adote ao menos uma medida paliativa.

— É preciso fazer com que a água bruta não fique estagnada, que ela circule. Ela continuará poluída até que o saneamento de Queimados e Japeri melhore, mas, pelo menos, diminuiríamos os problemas, evitaríamos a proliferação de algas e facilitaríamos o tratamento.

Fonte: O Globo.

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