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Brasil trata apenas 39% dos esgotos e empresas já percebem oportunidades

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Crianças brincam em áreas da Favela da Funerária, no Parque Novo Mundo, zona norte da capital
Foto: Tiago Queiroz/ Estadão Conteúdo

São Paulo – Os investimentos em saneamento básico no Brasil seguem aquém do necessário para suprir a carência da população. Mais de 100 milhões de brasileiros vivem sem coleta de esgoto. Só 39% dele é tratado no País, segundo o Ministério das Cidades (2013). Atentas ao cenário, empresas já percebem oportunidades de negócios para inovar no setor.

Na opinião do gerente técnico do Portal Tratamento de Água, André Tuon, uma estratégia que poderia mudar o panorama no segmento seria por meio das parcerias público-privadas (PPPs). “São um modelo de contrato e uma alternativa para evitar problemas com as licitações, já que, nestes casos, evitam-se esses processos. Um bom exemplo é o Projeto Aquapolo, uma parceria público-privada entre a Odebrecht e a Sabesp e hoje o maior caso de reúso industrial da América do Sul”, destacou o executivo.

A respeito da preocupação das empresas de tecnologia no setor, ele comenta que existem várias experiências que chamam a atenção tanto para o saneamento básico, como ambiental, e vê movimentação em companhias como Atlas Copco, Vibropac, Prominas, Alfa Laval, Ecosan e WesTech, entre outras.

Modernização
A Centroprojekt do Brasil, de engenharia de saneamento ambiental, também é um exemplo curioso, com enfoque em retrofitting ou modernização. A empresa diz ter desenvolvido a primeira planta no Brasil para o mercado público para a produção de água potável.

O projeto envolve uma solução para implantar a tecnologia de Ultrafiltração (UF), que visa atender a Estação de Tratamento de Água (ETA) – Alto da Boa Vista, em São Paulo. A proposta foi desenvolvida para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), com custo médio de R$ 60 milhões e duração de até seis meses.

Conforme a executiva da Centroprojekt do Brasil, Anna Carolina Rapôso Camelo, o processo é constituído por um sistema com membranas de ultrafiltração de fibra oca, além de bombas, instrumentação e automação adequada, com capacidade de tratamento de até 1,0 m³/s para melhorar a capacidade da Estação. “Essa será a primeira planta UF no Brasil destinada ao mercado público, para a produção de água potável”, destacou ela.

O tema retrofitting no segmento tem chamado a atenção, tanto que foi destaque no 3º Encontro – Tecnologias para Saneamento Básico e Ambiental, promovido pelo Portal Tratamento de Água no mês de maio, na sede da Associação Brasileira de Indústria de Maquinas e Equipamentos (Abimaq), em São Paulo.

Na ocasião, por dois dias (13 e 14 de maio), vários profissionais debateram a busca da eficiência, comentou André Tuon, do Portal, destacando o retrofitting como fator para permitir oportunidades para o reúso e melhorias na qualidade dos mananciais.

“[No evento], tivemos a presença de representantes do Ministério das Cidades, do Fórum Mundial da Água, da Petrobras, do BNDES e da Fapesp, que explicaram sobre possibilidades de investimentos em infraestrutura. Uma dica é ficar de olho nas empresas. Quem aumenta a produção ou constrói novas fábricas terá de planejar o tratamento de efluentes. Tenho visto atividade na GE Water, Memphis, Biotecs, Andritz Separation, Veolia Water, Pentair, Koch Membrane e ADI Systems. Já vi casos de empresas que desenvolveram um sistema de reúso próprio e com o sucesso resolveram até comercializar a solução”, finalizou.

Falta incentivo
Apesar da movimentação para melhorar técnicas no ramo. falta muito para o País se destacar em termos de tratamento de água e esgoto. O Plano Nacional de Saneamento Básico estima que sejam necessários R$ 303 bilhões até 2033 para universalizar esses serviços – R$ 15 bilhões anuais. Hoje, entretanto, se investe perto de R$ 10 bilhões (números de 2013).

“Não temos dado exato do investido em 2014, mas a cifra deve ser similar a de 2013. Em 2015, certamente teremos queda nos aportes, devido aos agravamentos econômicos”, estimou ao DCI o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.

O especialista diz que em coleta e tratamento de esgotos, municípios como Franca, Limeira e São José do Rio Preto, em São Paulo; Maringá e Curitiba, no Paraná, e Niterói, no Rio de Janeiro têm indicadores acima da média no País. Já na Região Norte, a população tem os piores níveis, sobretudo Porto Velho (RO), Belém (PA) e Ananindeua (PA), onde quase não há coleta de esgotos e tratamento. “A causa do descaso é questão política e social. O cidadão que não cobra o saneamento e o político vê as obras com baixo poder eleitoral.” Para Carlos, no Brasil o setor público e privado devem se misturar. “Um precisa de comprometimento e eficiência e o outro de capilaridade e experiência para fornecerem maior qualidade à população.”

FONTE: DCI

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