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Brasil ocupa 10ª posição entre 17 países latinos em ranking de saneamento

O país perde, por exemplo, para os vizinhos Venezuela, Bolívia e Peru, segundo o Instituto Trata Brasil. No atual ritmo, especialistas avaliam que governo federal não cumprirá meta de o saneamento básico até 2033.

Esgoto a céu aberto na favela do Moinho, na região Central de São Paulo (Crédito: Talis Maurício)

Esgoto a céu aberto na favela do Moinho, na região Central de São Paulo

Crédito: Talis Maurício

Por Talis Mauricio

Todos os dias, quando a Dona Maria da Conceição abre a porta de casa, ou melhor, do barraco onde vive, na Brasilândia, Zona Norte de São Paulo, se depara com a seguinte cena: crianças descalças brincando sem se preocupar em meio a ratos, baratas, lixo e esgoto.

“Eu reclamo com as crianças para elas não brincarem aí. Cai bola eles descem, não tem jeito. A gente mora num lugar desses né… faz 8 anos que moro aqui, quer dizer, me escondo, porque não tenho para onde ir.”

A vizinha, a auxiliar de limpeza Karen Bezerra, lembra que o serviço público na região quase foi feito corretamente.

“Aqui era uma favela. Eles canalizaram o rio, tiraram a favela, fizeram a avenida e deixaram o esgoto. O esgoto das casas cai tudo aí, na rua. Fica mau cheiro, tem bastante inseto, dengue.”

Se até a cidade mais rica do país apresenta falhas, imagine o resto do Brasil. Não é à toa que o país ocupa a 10ª posição em um ranking de coleta de esgoto com 17 países da América Latina. Perdemos para Venezuela, Equador, Peru e até Bolívia. No Brasil, segundo dados do governo federal, apenas 49% da população tem o esgoto coletado em casa. Em 2010, o índice era de 46%, ou seja, avançamos apenas três pontos percentuais ao longo de 5 anos. Um número alarmante, segundo o presidente do Instituto Trata Brasil, Edison Carlos.

“Éramos para liderar esse ranking e no final nós estamos aí com mais da metade da população que não tem sequer coleta de esgoto. Então, a ideia é chamar a atenção de que a gente precisa progredir nesse indicador se a gente quiser um dia realmente chegar ao nível dos países desenvolvidos. É um indicador parcial porque não fala do tratamento de esgoto, então a gente sabe que países como a Bolívia, mesmo o Peru e a Venezuela falta muito de tratamento de esgoto, mas o afastamento das casas lá está um pouco melhor do que no Brasil.”

A continuar nesse ritmo, o especialista em saneamento básico e economista Gesner Oliveira, que participou do levantamento, avalia que as metas estipuladas em 2013 no Plano Nacional de Saneamento Básico, o Plansab, não serão atingidas.

“A meta do Plansab, que já é uma meta modesta, é de chegar à universalização dos serviços de água e esgoto, que inclui coleta e tratamento de esgoto, em 2033. O ritmo de avanço é tão lento que coloca a meta da universalização apenas em 2052, o que é inaceitável do ponto de vista social e sanitário.”

O ranking da América Latina foi divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Trata Brasil, que também analisou a situação das 100 maiores cidades do país. O levantamento mostra que as principais capitais brasileiras não estão entre as 10 primeiras nos serviços de saneamento básico. Rio de Janeiro, por exemplo, sede dos jogos Olímpicos, é a 50ª colocada.

O estudo aponta ainda que, dos R$ 12 bilhões gastos com saneamento no Brasil em 2014, metade, R$ 6 bilhões, foi investido nas cem maiores cidades do país. O que demonstra um abismo cada vez maior entre regiões desenvolvidas e menos desenvolvidas.

Fonte: CBN

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