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Biofuture Summit 2017

Foi realizado nos dias 24 e 25 de outubro, no Hotel Estanplaza International em São Paulo, o encontro internacional Biofuture Summit 2017

Governos de 20 países, representantes do setor privado e pesquisadores debateram as melhores formas de encarar um desafio relevante para o futuro do planeta: a criação de uma bioeconomia de grande escala, sustentável e de baixa emissão de carbono.

As discussões da Cúpula de São Paulo colaboraram para a elaboração da Declaração de Visão da Biofuturo, a ser apresentada para endosso durante a COP23, reunião internacional sobre mudança do clima que acontece em novembro, na Alemanha. Ela prevê maior participação da bioenergia, biocombustíveis e bioprodutos avançados como alternativa aos combustíveis fósseis, para contribuir na mitigação dos efeitos danosos das emissões de gases de efeito estufa.

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Um dos casos de destaque no Biofuture Summit 2017 foi o RenovaBio, programa que propõe uma política inovadora para os biocombustíveis de baixo carbono em elaboração pelo governo brasileiro. Foram apresentados e debatidos, diretamente pelos responsáveis de cada país, programas e políticas similares implementados pelos EUA, Índia, Canadá, Reino Unido e Itália, entre outros.

A cúpula de São Paulo é o primeiro encontro da Plataforma para o Biofuturo, iniciativa internacional coordenada atualmente pelo governo brasileiro. Dá seguimento aos compromissos estabelecidos na Rio+20, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e no Acordo de Paris.

Abrange alguns dos países mais relevantes para mercados e inovação em biocombustíveis avançados e biomateriais: além do Brasil, Argentina, Canadá, China, Dinamarca, Egito, Estados Unidos, Filipinas, Finlândia, França, Índia, Indonésia, Itália, Marrocos, Moçambique, Países Baixos, Paraguai, Reino Unido, Suécia e Uruguai.

De acordo com as projeções das agências internacionais de energia, o uso da bioenergia como parte do consumo de energia do mundo precisa dobrar em 2030, se o mundo quiser evitar a elevação da temperatura acima de 2ºC.

O Painel 1 discutiu “Os cenários climáticos e a necessidade de ampliar a bioeconomia avançada”.

Sakari Oksanen, Diretor-Geral Adjunto da The International Renewable Energy Agency (IRENA) iniciou a conferência. “A ameaça do clima não será resolvida sem a bioenergia. Os automóveis elétricos chegarão inevitavelmente, mas a indústria, os transportes aéreos, os transportes pesados e os navios também necessitam de soluções de energias renováveis. Precisamos de energia biológica para combater as alterações climáticas”, disse.

Oknasen também afirmou, que são necessárias tecnologias avançadas de conversão de biocombustíveis, para diversificar a gama de matérias-primas e incluir a exploração de resíduos florestais e de madeira. Os biocombustíveis devem tornar-se rentáveis, se o investimento feito chegar as plantas industriais.

“Nós simplesmente não temos escolha. Temos que expandir massivamente a bioenergia e fazê-lo rapidamente “, afirmou Paolo Frankl, Chefe da Divisão de Energias Renováveis ​​da International Energy Agency (IEA). “A bioenergia sustentável, é um componente indispensável do portfólio, onde são necessárias tecnologias com baixa emissão de carbono em cenários de mitigação da mudança climática”, afirmou Frankl, com base nos resultados de um relatório-chave sobre o assunto. “E há uma diferença importante, entre o que precisamos e o que está acontecendo hoje, em termos da velocidade de implantação e da escala de investimentos em bioenergia”.

Políticas de apoio aos biocombustíveis avançados

Paolo Frankl destacou, que é necessária uma mudança de passo nas políticas de apoio aos biocombustíveis avançados, para que a indústria demonstre economias de escala e proporcione reduções de custos necessárias para a competitividade. Também, oportunidades maciças de diversidade tecnológica e inovação no contexto de bioeconomia.

Finalizou a apresentação destacando quatro áreas-chave de ação política:

  • Expandir a implantação de tecnologias existentes

  • Suporte específico para comercializar novas tecnologias

  • Desenvolver cadeias de abastecimento sustentáveis e sistemas de governança de sustentabilidade adequados

  • Construir a capacidade técnica e regulamentar numa gama muito mais vasta de países e regiões

  • Plataforma Biofuture pode desempenhar um papel fundamental na criação de perfil e estimular o acesso a políticas

“O risco tecnológico não é mais o principal desafio, como foi há alguns anos atrás, mas o acesso a fontes de capital “, disse Bernardo Gradin, CEO da GranBio, empresa brasileira de biotecnologia industrial que cria soluções para transformar biomassa em produtos renováveis, como biocombustíveis e bioquímicos. A empresa opera a primeira planta em escala comercial de etanol celulósico, ou de segunda geração (2G), do Hemisfério Sul. A fábrica – batizada de Bioflex 1 – está em funcionamento desde setembro de 2014, em Alagoas. A produção do biocombustível feito com a palha da cana-de-açúcar, matéria-prima que até então era descartada ou queimada nos canaviais, coloca a companhia entre as empresas mais sustentáveis do planeta no setor.

O executivo destacou, as questões que limitam atualmente a expansão dos biocombustíveis:

  • Custo e acesso de capital para tecnologias de estágio inicial

  • Falta de instrumentos de mercado sobre preços de carbono

  • Energia como prioridade de segurança nacional – cadeia de suprimentos

  • Ativismo da indústria estabelecida e grupos de interesse

  • Pobre cooperação entre países

Bernardo Gradin frisou, que a agilidade na implantação de biocombustíveis é fundamental para alcançar metas de descarbonização e também uma oportunidade única de combinar exigências ambientais com externalidades sociais.

O Painel 2 –  “Superando os desafios atuais e estruturando as opções políticas futuras”, teve como questão central debater soluções concretas para a superação das barreiras, especialmente as legislativas.

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Kees Kwant, presidente da International Energy Agency Bionergy (IEA Bionergy) destacou, que cada país precisa de uma abordagem específica, devido às características climáticas, de mercados e recursos.

Outro ponto salientado, foi a inovação com uma agricultura inteligente, onde um sistema monitora e une dados meteorológicos para auxiliar o agricultor no processo de avaliação das principais condições da produção; a conversão avançada em biorefinarias; produtos, substancias químicas e energia.

Kwant destacou a Governança de Sustentabilidade, com o incentivo de boas práticas e uma visão de longo prazo, em conjunto com adequada comunicação a todos os setores da sociedade. Encerrou a palestra, ressaltando os mercados para produtos e combustíveis com baixo carbono.

Rasmus Valanko, diretor de Clima e Energia do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), apresentou o Below50 , projeto que busca criar demanda para combustíveis que, como o etanol e o biodiesel, emitam 50% menos CO2 do que os combustíveis tradicionais. O Below50 se propõe a:

  • Aumentar o número de empresas que optam pelos combustíveis Below50;

  • Criar oportunidades intersetoriais via cadeias de suprimentos;

  • Demonstrar que os combustíveis Below50 possuem um apelo econômico, social e ambiental;

  • Abordar as barreiras legislativas e financeiras no abastecimento dos combustíveis Below50.

Para Valanko, a colaboração intersetorial e entre os países é essencial para que o mercado avance. “Dizer o que precisa ser feito não é mais suficiente, precisamos saber como fazer e o Below50 traz essa perspectiva”, afirmou.

Debate sobre o RenovaBio

Plinio Nastari, representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), aprofundou o debate sobre o RenovaBio.

O RenovaBio é uma política de Estado que objetiva traçar uma estratégia conjunta para reconhecer o papel estratégico de todos os tipos de biocombustíveis na matriz energética brasileira, tanto para a segurança energética quanto para mitigação de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa.

Diferentemente de medidas tradicionais, o RenovaBio não propõe a criação de imposto sobre carbono, subsídios, crédito presumido ou mandatos volumétricos de adição de biocombustíveis a combustíveis. Possui como objetivos:

  • Fornecer uma importante contribuição para o cumprimento dos Compromissos Nacionalmente Determinados pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris

  • Promover a adequada expansão dos biocombustíveis na matriz energética, com ênfase na regularidade do abastecimento de combustíveis; e

  • Assegurar previsibilidade para o mercado de combustíveis, induzindo ganhos de eficiência energética e de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa na produção, comercialização e uso de biocombustíveis.

“O programa propõe uma regulação baseada em dois pilares: a introdução de eficiência energética no uso e produção de bioenergia; e o reconhecimento da capacidade de mitigação de cada um dos biocombustíveis. Através desse estímulo, o RenovaBio trará competitividade às nossas empresas e preços mais baixos para os consumidores”, frisou.

“Tendo pouca terra para poupar e muitas pessoas para alimentar, a Índia está apostando nas tecnologias de segunda geração e no uso de resíduos para ampliar sua bioeconomia usando arroz, palha de milho e outras matérias-primas”, disse Ramakrishna Y.B, presidente do Grupo de Trabalho em Biocombustíveis do Ministério do Petróleo e Gás Natural da Índia.

“O objetivo na Índia é alcançar rapidamente uma mistura de 10% de bio-etanol em gasolina e 5% de mistura de biodiesel ao óleo diesel até 2022. As companhias de petróleo indianas devem criar 12 plantas de segunda geração em 11 estados do país “, finalizou.

Gheorge Patrick Iwaki

[email protected]
Responsável Técnico

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