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Pesquisa da UFLA demonstra o potencial de aproveitamento de resíduos do tratamento de esgotos como fertilizante

Reaproveitamento de Resíduos do Tratamento Preliminar de Esgoto: Uma Nova Abordagem Sustentável na UFLA

No que diz respeito à saúde pública e à sustentabilidade ambiental, água e esgoto são pilares fundamentais e interligados: enquanto a água limpa e potável representa a própria existência humana, o tratamento adequado do esgoto é o contraponto que preserva sua pureza e evita contaminações. Na Universidade Federal de Lavras (UFLA), uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Tecnologias e Inovações Ambientais (PPGTIA) teve como objetivo caracterizar resíduos do tratamento preliminar da Estação de Tratamento de Esgotos da Instituição (ETE/UFLA), que ficam retidos já no início do tratamento, com o propósito de identificar possíveis formas de aproveitamento, em vez do descarte em aterros.

Com base nas análises realizadas, verificou-se então que os resíduos eram, em sua maioria, material orgânico e solo, o que possibilitou a utilização como adubo e substrato para a produção de plantas. O servidor técnico-administrativo da ETE/UFLA e mestre egresso do PPGTIA responsável pelo estudo, Henrique Louregiani Carvalho Pinto Filho, explica os resultados.

“Das possibilidades avaliadas para o aproveitamento dos resíduos do tratamento preliminar, os melhores resultados obtidos foram na adubação, ou seja, na aplicação como fertilizante desse material, que apresentava características de solo de textura média a argiloso, com presença de matéria orgânica e macro e micronutrientes. Com isso, foi possível alcançar bons resultados na adubação de vasos cultivados com capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum), que apresentaram ótimo crescimento em um curto espaço de tempo, superior até mesmo à adubação mineral.”

Novas possibilidades

Outro possível benefício dos resultados da pesquisa ressaltado por Henrique é indicar às instituições e às concessionárias responsáveis pela operação de ETEs uma nova possibilidade.  Destacam-se então a:

  • redução dos custos de transporte para aterros sanitários,
  • menor desperdício de recursos e
  • maior economia com o uso de fertilizantes para a produção de plantas.

Além disso, para a comunidade científica, há indicação de estudo para um “novo” resíduo.

Henrique ainda explica que resíduos grosseiros são, muitas vezes, inadequadamente descartados na rede de esgotos de cidades e instituições. Como exemplo, papéis e plásticos chegam até as ETEs, o que altera as possibilidades de aproveitamento. Outros materiais também acabam sendo encaminhados junto com a água de limpeza, como a areia. Assim, não encontram-se esses materiais em grande quantidade na composição dos resíduos removidos durante o tratamento preliminar da ETE/UFLA, o que está diretamente ligado à conscientização dos estudantes, servidores e demais frequentadores do campus.

“Com a pesquisa, foi possível observar que a comunidade acadêmica possui hábitos corretos de descarte de resíduos sólidos, em lixeiras e não em aparelhos com ligação à rede de esgotos, como vasos sanitários e pias. O fato de terem sido encontradas na ETE/UFLA baixas porcentagens de papéis, plásticos, trapos e outros tipos de resíduos grosseiros, ou seja, de grandes dimensões, evidencia as boas práticas oriundas da conscientização das pessoas e das medidas implementadas pelo Plano Ambiental da Instituição”, ressalta.

Produção Vegetal

Dada essa composição dos resíduos, a melhor opção foi o uso na produção vegetal, algo comprovado nos ensaios em campo com os vasos cultivados.

“Porém, em outras ETEs, nas quais há maior presença de materiais inadequadamente descartados na rede de esgotos, outras alternativas podem se mostrar igualmente ou, até mesmo, mais indicadas, como possíveis usos na construção civil e na geração de energia”, diz Henrique.

Futuros estudos serão importantes para a avaliação do impacto do fertilizante elaborado em outras plantas, mas os resultados encontrados são promissores.

Passo a passo

Após a coleta e a secagem de um dia dos resíduos sólidos da ETE/UFLA, Henrique utilizou uma técnica chamada de quarteamento para avaliar as características desses materiais. Trata-se de uma técnica que separa e divide em quatro pilhas os resíduos para a redução da quantidade para análise de suas características e quantificação.

Posteriormente, realizou-se então a avaliação da composição física (gravimétrica) e teor de sólidos dos resíduos retidos no gradeamento da ETE/UFLA. Assim observou-se as porcentagens de cada tipo de material encontrado, como papéis, plásticos, trapos, matéria orgânica, entre outros. O estudo avaliou, separadamente, o gradeamento grosseiro da ETE (que retém resíduos maiores) e também o fino, para remover os resíduos menores do que os retidos na etapa anterior.

Essa avaliação levou a análises físicas (densidade), químicas (presença de nutrientes e matéria orgânica) e microbiológicas (presença de microrganismos). A presença de microplásticos nos resíduos do tratamento preliminar também foi avaliada. Após todas essas etapas e diferentes tentativas de reaproveitamento dos materiais encontrados, Henrique adubou os vasos de capim-elefante com o peneirado do resíduo do tratamento preliminar, o que levou ao principal resultado da pesquisa.

A dissertação de mestrado “Caracterização e avaliação do aproveitamento de resíduos sólidos do tratamento preliminar da estação de tratamento de esgoto de uma instituição de ensino”, escrita por Henrique, sob orientação do professor da Escola de Engenharia (EEng/UFLA), Mateus Pimentel de Matos, está disponível gratuitamente no Repositório Institucional da UFLA.

Fonte: Portal da Ciência


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