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Traçando um novo rumo para salvar as águas da América

TRAÇANDO UM NOVO RUMO PARA SALVAR AS ÁGUAS DA AMÉRICA

Entrevista com J. Charles Fox

Entrevista com J. Charles Fox, Administrador-Assistente do Escritório de Recursos Hídricos na Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos [U.S. Environmental Protection Agency].
Fox diz que os Estados Unidos estão recuperando a qualidade da água dos seus rios, lagos e riachos, traçando um novo rumo que tem como prioridade as estratégias de colaboração baseadas nas bacias hidrográficas como um todo e nas comunidades que elas mantêm. A entrevista foi concedida a Jim Fuller.

Pergunta: O presidente Clinton disse que 40 por cento das águas da nossa nação ainda estão poluídas demais para que se possa pescar ou nadar nelas – 25 anos depois que a Lei da Água Limpa [Clean Water Act] foi aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos. Que progresso foi feito no sentido de combater a poluição da água?

Fox: Progredimos muito neste país. Investimos literalmente bilhões de dólares no controle da poluição da água nos últimos 25 anos. Em 1972, o Rio Potomac estava sujo demais para nadar, o Lago Erie estava morrendo, e o Rio Cuyahoga, em Ohio, estava tão poluído que pegou fogo. Desde a promulgação da Lei da Água Limpa, progredimos muito no sentido de melhorar a qualidade, em geral, dos rios, lagos e riachos da nossa nação. Dobramos o número de cursos d’água onde se pode pescar e nadar com segurança, reduzimos os despejos industriais em milhões de quilos por ano, e mais do que dobramos o número de americanos que dispõem de tratamento adequado de esgoto. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer. E é disso que trata a Lei da Água Limpa – ter um compromisso, como nação, de ter águas nas quais se possa pescar e nadar com segurança.

P: Qual é o Plano de Ação da Água Limpa [Clean Water Action Plan]?

Fox: O Plano de Ação da Água Limpa é uma nova iniciativa, de grande envergadura, anunciada pelo presidente Clinton em fevereiro de 1998, para melhorar a qualidade da água dos rios, lagos e riachos da nação. Para implementar essa iniciativa, o presidente alocou 651 milhões de dólares no orçamento do exercício de 2000 – e pediu um aumento total de 2,3 bilhões de dólares, em um prazo de cinco anos, para limpar as bacias hidrográficas no país inteiro. Na verdade, dobramos o valor disponível para reduzir o que chamamos de poluição não originária de um determinado ponto trata-se dos despejos contaminados gerados pelas fazendas, pelas ruas das cidades, e por outras fontes, que contaminam as nossas águas.

O governo está, também, dirigindo suas atenções para uma série de iniciativas referentes à água potável, que foram acrescentadas às emendas da Lei da Água Potável Segura [Safe Drinking Water Act] promulgadas pelo Congresso em 1997. Essas iniciativas determinam a alocação de mais de dois bilhões de dólares em assistência financeira anual aos governos estaduais e locais, para que eles aperfeiçoem seus sistemas de água potável assim as pessoas terão a certeza de que, quando abrirem a torneira, estarão obtendo água que podem usar com segurança, para beber e para tomar banho, de chuveiro ou de banheira.

P: De que forma o Plano de Ação de Água Limpa difere das tentativas anteriores de lidar com a poluição da água? Fox: O Plano de Ação de Água Limpa tem encontrado excelente receptividade por vários motivos. Em primeiro lugar, pela primeira vez, os vários programas de todos os órgãos do governo federal são agrupados com o intuito de resolver os problemas de poluição da água neste país. Já ficou claro para todos que a EPA, por si só, não tem condições de proporcionar água limpa para o público americano. Só podemos fazer isso na medida em que trabalharmos em conjunto com o Departamento de Agricultura e com o Departamento dos Transportes. Portanto, o Plano de Ação é muito animador sob esse ponto de vista. Ele também é muito animador pelo fato de que proporciona novas verbas para todos os órgãos do governo – verbas que, em seguida, são repassadas para os governos estaduais para que possamos trabalhar em conjunto para atingir os objetivos referentes à qualidade da água.

Um dos fatos mais significativos é que, pela primeira vez, estamos examinando a bacia hidrográfica como um todo. Isso significa que já não estamos mais examinando somente os problemas que se originam de uma determinada fábrica ou fazenda. Em vez disso, estamos analisando todos os vários problemas de poluição de água que afetam uma região ou uma comunidade – desde a floresta até a fazenda e até os bairros da cidade – para que se possa criar soluções específicas para os problemas peculiares da região. E temos sido extremamente bem sucedidos no nosso trabalho com os governos estaduais. Fiquei muito surpreso ao ver que apenas seis meses depois que o presidente anunciou o Plano de Ação, tínhamos recebido planos de prioridade para bacias hidrográficas de todos os 50 estados e de muitas tribos indígenas. É muito bom ver esse tipo de entusiasmo. Todos parecem perceber que trabalhar junto para resolver os problemas de poluição da água é do interesse de todos.

P: O senhor pode descrever algumas medidas estipuladas pelo Plano de Ação da Água Limpa? Fox: O Plano de Ação inclui 111 novas medidas principais para restaurar e proteger nossas fontes de água. Trata-se de medidas específicas que devem ser implementadas por todos os órgãos governamentais, dentro de certos prazos. Esses compromissos se estenderão até o próximo século. Há uma ênfase em se tentar combater os despejos poluídos de fontes como as ruas das cidades, os quintais suburbanos, e as fazendas. Por exemplo, ao trabalharmos com o Departamento da Agricultura, pela primeira vez, nós emitiremos licenças de despejos para literalmente milhares de estabelecimentos onde se alimentam animais – como grandes fazendas de suinocultura, de criação de gado bovino, laticínios, e granjas – que produzem quantidades significativas de dejetos, os quais acabam indo até os cursos d’água. Essa estratégia conjunta também incluirá recomendações para novos regulamentos que serão aplicáveis aos estabelecimentos que alimentam animais, além de medidas que podem ser tomadas voluntariamente por pequenos produtores rurais no país inteiro.

Outro item prevê o desenvolvimento, pela EPA, de novos padrões de qualidade de água para assegurar que seja seguro nadar nas praias, e um novo sistema, baseado na Internet, para proporcionar ao público informações sobre as suas praias – se é seguro ou não nadar nelas. A Internet também será usada para fornecer informações sobre a saúde dos sistemas aquáticos em mais de 2.000 bacias hidrográficas no país inteiro.

Estamos também tentando fazer um trabalho melhor no sentido de educar as pessoas sobre a sua relação com a qualidade da água. Nas áreas urbanas, por exemplo, os moradores freqüentemente trocam o óleo dos motores dos seus carros e derramam o óleo usado nos esgotos pluviais, pensando que os despejos serão tratados em uma estação de tratamento de efluentes. No entanto, muitos esgotos pluviais são ligados diretamente a um curso d’água local, e portanto, derramar o óleo em um bueiro ou ralo é a mesma coisa que derramá-lo em um rio. Queremos educar as pessoas sobre as maneiras pelas quais elas podem contribuir para resolver os problemas de poluição da água.

P: O Plano de Ação também proporciona maiores incentivos a fazendeiros e outros proprietários de terras, para a adoção de práticas que protegem a qualidade da água. Por exemplo, o senhor poderia falar sobre as maneiras pelas quais os fazendeiros estão tendo incentivos para a criação de áreas de proteção de florestas e gramíneas ao longo dos rios e riachos? Fox: Um dos avanços tecnológicos interessantes que temos visto na área de controle de poluição da água é que algumas das técnicas que foram usadas para proteger a qualidade da nossa água nas décadas de 1930 e 1940, na verdade, fazem muito sentido hoje. Instalando o que chamamos de faixas de proteção ao longo dos cursos d’água, podemos, por um lado, reduzir a quantidade de poluição que é despejada dos campos de uma fazenda em um riacho, e por outro lado, criar áreas ribeirinhas onde os animais silvestres podem viver. Essas zonas de proteção – cuja largura pode variar de 30 a 60 metros – podem, além disso, proporcionar os nutrientes essenciais para os peixes, bem como outros benefícios para a prevenção e controle de inundações, enquanto reduzem a poluição que chega até a água. Trata-se de uma tecnologia maravilhosa.

P: Qual é a importância da restauração dos pântanos na luta contra a poluição da água? Fox: Um dos itens na agenda presidencial determina a criação de 40.000 hectares de pântanos por ano a partir de 2001. Isso inclui um aumento de 50 por cento nos pântanos restaurados pelo Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos. Trata-se de uma meta ambiciosa. E isso significa que precisamos fazer um ótimo trabalho no que se refere a melhorar e ampliar os pântanos, em vez de apenas assistir ao seu desaparecimento, que é o que temos feito neste país nos últimos 100 anos. Os pântanos que existem hoje representam apenas uma fração dos que existiam 200 anos atrás. Agora sabemos que os pântanos são uma parte incrivelmente importante do nosso ecossistema – que eles proporcionam controle de inundações, o habitat para a vida selvagem, e benefícios advindos da qualidade da água. Atualmente, muitos americanos estão percebendo que os pântanos são, também, um ambiente agradável para se observar os pássaros. Esses valores são muito diferentes dos que tínhamos apenas 50 anos atrás quando os pantanais eram considerados áreas alagadiças que tinham que ser drenadas para proteger a população contra os mosquitos. E portanto, estamos trabalhando de maneira agressiva para expandir as áreas pantaneiras. Isso exigirá novos e significativos compromissos financeiros por parte do governo, para a aquisição de terras e para a criação de parcerias com os estados e proprietários de terras agrícolas onde muitos desses pântanos serão restaurados. Esperamos que, trabalhando em conjunto, possamos atingir a meta presidencial.

P: Na sua opinião qual é a maior história de sucesso na luta contra a poluição da água? Fox: Uma das mais extraordinárias vitórias que vimos, nos últimos 25 anos, foi a melhoria na capacidade de tratamento de efluentes, na esfera municipal, em todo o território americano. Em conformidade com as disposições da Lei da Água Limpa, investimos mais de 75 bilhões de dólares para construir e atualizar estações de tratamento de efluentes, quase dobrando o número de pessoas atendidas por meio do tratamento secundário – um nível básico de tratamento de efluentes – para mais de 150 milhões. Fazemos um excelente trabalho no controle da poluição da água dos municípios por meio dos sistemas de esgotos. E ao mesmo tempo, compreendemos que os nossos municípios precisam investir, continuamente, nesse tipo de infra-estrutura básica, para que possamos atingir nossas metas referentes à poluição da água no futuro. E isso é um desafio, porque os investimentos na infra-estrutura são incrivelmente altos além disso, eles representam decisões difíceis a serem tomadas pelos governos estaduais e municipais. Mas essas decisões são de enorme importância para o futuro das águas da nossa nação.

Também temos visto investimentos cada vez maiores na tecnologia de controle da poluição da água no mundo inteiro. Nesse aspecto, temos uma parceria sofisticada e cada vez mais bem sucedida com o México, para o trato dos problemas de poluição da água ao longo da fronteira dos Estados Unidos com o México. Na verdade, esta é uma importante iniciativa deste governo. Investimos dezenas de milhões de dólares para aperfeiçoar e atualizar as estações de tratamento de efluentes para os moradores de ambos os lados da fronteira. Além disso, temos vários fóruns bilaterais que têm obtido resultados significativos, trabalhando em problemas ambientais prioritários. Mesmo assim, ainda há muitos desafios que enfrentamos na região da fronteira dos Estados Unidos com o México – uma área dos dois países que tradicionalmente tem sido mal atendida em termos de infra-estrutura básica de água. As pessoas que vivem nessa área têm necessidades muito significativas que precisam ser atendidas.

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Jim Fuller escreve sobre assuntos referentes ao meio ambiente e outras questões globais para a Agência de Divulgação dos Estados Unidos.

Fonte: http://usinfo.state.gov/journals/itgic/0399/ijgp/ij039903.htm

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