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Tecnologias de eletricidade limpa podem resolver a crise climática

Resumo

Enquanto o aquecimento global avança e começa a mostrar o quão dramático pode ser, um fato novo traz boa esperança. O custo tanto da eletricidade fotovoltaica quanto da eólica está caindo em ritmo muito rápido. Este é um muito oportuno exemplo do efeito do aprendizado na produção de bens. Enquanto a experiência avança, o custo de produção de cada unidade do referido produto decresce. Quantitativamente, esse fenômeno é descrito pela lei de Wright, que diz: cada vez que a produção acumulada de um produto dobra, o custo de cada unidade cai por fator fixo e especifico do produto. O efeito é mais perceptível em bens de produção comercial recente, como é o caso tanto de painéis solares quanto de usinas de eletricidade eólica. Eletricidade produzida tanto pela luz solar quanto pela força do vento já é mais barata do que a de usinas movidas por combustíveis fósseis, e seu preço continua a cair em ritmo incrível. E razoável prever que a neutralidade de carbono seja alcançada mais cedo do que o prometido pelos governos. O Brasil, intensamente ensolarado e com grande potencial eólico, vem explorando, embora com certo atraso, esses recursos para tornar sua eletricidade ainda mais limpa.

Introdução

A motivação deste artigo é trazer ao leitor dados amplamente reconhecidos que tem gerado uma onda crescente de otimismo no enfrentamento do enorme problema ambiental causado pelo excessivo uso de combustíveis fósseis.

Por dois séculos, carvão, e mais tarde petróleo e gás natural tem fornecido a energia necessária para o crescimento na era industrial. Esses fósseis são baratos e abundantes, mas infelizmente sua combustão gera gases de efeito estufa que tem gerado crescente aquecimento global. As calamidades do aquecimento chegaram mais cedo do que se pensava, e se mostram também mais severas.

Em meados do século passado, a fissão nuclear, principalmente do urânio, despontou como fonte muito promissora de energia. Mas os reatores nucleares geraram temor bastante generalizado na população e nos meios científicos. O controle da fissão nuclear não pareceu suficientemente seguro. Um reator descontrolado pode emitir enorme quantidade de material radioativo, capaz de causar grandes danos à saúde dos seres humanos e dos animais. Mesmo operando normalmente, reatores de fissão produzem lixo radioativo cujo armazenamento seguro é desafiador. Entre o perigo de acidentes com reatores, repentinos e de difícil controle, e o da queima de combustíveis fósseis, previsto para um futuro longínquo, optamos pelo último. Entre o urânio e o carbono, optamos por este, e pelo aquecimento que talvez nem se tornasse tão grave.

Na verdade, a queima de combustíveis fósseis, e mesmo de lenha e resíduos orgânicos tem outra grave consequência. A fumaça e outros produtos do fogo geram poluição do ar, que causa um número enorme de mortes a cada ano. Não é  fácil medir o número de mortes humanas resultantes da poluição do ar, e por isso as estimativas de diferentes instituições divergem consideravelmente.

Segundo a Organização Mundial as Saúde – OMS, em 2019 a poluição do ar ambiental (outdoor) causou 4,2 milhões de mortes. Max Roser e demais membros da organização Our World in Data estimam que a poluição do ar causou em 2017 4,9 milhões de mortes. Dessas, 3,4 milhões foram causadas por poluição ambiental e 1,5 milhões, por poluição doméstica (indoor) resultante da queima de lenha e resíduos orgânicos para cozinhar e aquecer moradias. Our World in Data publicou também um mapa das mortes por poluição ambiental, que mostra sua concentração em países de renda baixa e média. Na Índia, a poluição do ar causou em 2019 1,24 milhões de mortes, e o mesmo ocorreu na China.

Reduzir o uso de combustíveis fósseis passou a ser visto por quase todos como a mais importante medida a ser tomada pela humanidade. Nos anos recentes, vários países formularam planos de redução das suas emissões nacionais com vistas a obter a neutralidade do carbono (e de outros gases de efeito estufa) até 2050 ou 2060. A questão tem aspectos técnicos e políticos, e neste artigo o foco são os aspectos técnicos. Nossa tese é que a produção de eletricidade com fontes limpas está se tornando tão barata que esse tipo de meta provavelmente será atingido antes do prometido, por uma razão puramente econômica: emitir carbono está ficando mais caro do que não emitir.

Autor: Alaor S. Chaves.

 

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