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Pneu, carcaça de ave e resto de fruto substituem combustíveis fósseis

Pneu, carcaça de ave e resto de fruto substituem combustíveis fósseis

Redução de custo é apelo importante em alternativas sustentáveis

A redução dos custos de produção e a agenda de descarbonização mobilizam projetos milionários em empresas para usar diversos tipos de resíduos para gerar energia, em substituição ao combustível fóssil. As iniciativas garantem destinação adequada para resíduos considerados prejudiciais ao meio ambiente e visam, na maioria dos casos, o autoconsumo e sem prejuízo da eficiência energética.

Detentora de quase 18% do mercado brasileiro de denim, matéria-prima para produção de jeans, a Capricórnio Têxtil investiu R$ 12 milhões na substituição de gás natural por biomassa como combustível da caldeira da planta de São Carlos (SP), responsável por quase 60% da produção total da empresa. Desde 2022, a energia é gerada a partir de cavaco de madeira reciclada, obtido com a poda de árvores realizada pela prefeitura e por empresas do município.

O projeto foi motivado inicialmente por razões econômicas, conta João Bordignon, diretor de marketing e sustentabilidade da Capricórnio Têxtil.

“O preço do gás natural teve um aumento considerável em 2022”, diz.

Os gastos com aquisição de combustível caíram bastante desde o início da operação com biomassa: o desembolso, que antes girava em torno de R$ 2 milhões por mês, passou a ser de R$ 850 mil mensais. Segundo o executivo, o projeto se pagou em um ano.

A empresa ainda vislumbrou a possibilidade de avançar na descarbonização da sua cadeia produtiva; as emissões de escopo 2, que estão associadas ao consumo de energia elétrica, caíram em 87%. Para quase zerar a pegada de carbono, faz parte dos planos instalar uma caldeira de biomassa na fábrica de Bragança Paulista (SP). Segundo Bordignon, a expectativa é que o projeto seja aprovado no máximo até 2026. O investimento é estimado em R$ 4 milhões.

A Agric, comprada pela em 2023, deve iniciar no segundo semestre a produção de biometano em Campos Novos (SC), onde já produz biogás e biofertilizantes. Além de suprir a demanda do mercado – tem capacidade projetada para 25 mil m3 /dia de biometano, tratar 350 toneladas de resíduos por dia e comercializar 3,5 mil toneladas de adubos por mês -, o objetivo é gerar energias elétrica e térmica oriundas de resíduos agroindustriais (carcaças de aves e de suínos), que são abundantes na região, para suas instalações.

O sistema de geração de energia para autoconsumo tem capacidade instalada de 1,1 megawatts de potência e pode ser duplicada. Já a potência térmica obtida gira em torno de 1 milhão de quilocalorias/hora, diz Luiz Fernando Tomasini, gerente para negócios de biogás do grupo Energisa.

“A energia gerada será utilizada para movimentar as máquinas de produção de biofertilizante. E parte do biometano produzido abastecerá a frota de caminhões que transportam os produtos até os clientes”.

O investimento inicial foi de R$ 60 milhões, mas pode chegar a R$ 80 milhões com expansão e modernização da planta, aquisição de reatores de grande porte, gerenciamento automatizado e engenharia de processos para máxima eficiência energética e qualidade dos subprodutos. Para diminuir o impacto ambiental do combustível fóssil, que representa 40% das suas emissões, a Votorantim Cimentos produz biomassa a partir de diferentes tipos de resíduos em suas 23 unidades de coprocessamento.

No Pará, usa mais de 10 mil toneladas de caroço de açaí por ano para gerar a energia que abastece a planta instalada no município de Primavera, enquanto na fábrica de Salto de Pirapora (SP) é grande o consumo de pneus em fim de vida útil. Os resíduos sólidos urbanos e agrícolas são a principal fonte de energia para as instalações na região Sudeste.

Em 2023, mais de 1 milhão de toneladas de resíduos garantiram o fornecimento de 34% da energia demandada pelas fábricas do grupo. Os combustíveis alternativos reduzem os custos de produção porque, em geral, são mais baratos, afirma Fábio Cirilo, gerente de ecoeficiência e energia da Votorantim Cimentos. Um aspecto crítico talvez seja a eficiência energética: à exceção do pneu, os demais resíduos têm poder calorífico menor que o do combustível fóssil.

“Mais isso a gente compensa com volume maior de coprocessamento.”

Fonte: Valor


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