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Fim de plástico descartável reduziria emissões, diz estudo

Fim de plástico descartável reduziria emissões, diz estudo

Eliminação gradual também poderia resultar na perda de até 13 mil postos de trabalho na cadeia setor

A eliminação gradual da produção de plásticos descartáveis no Brasil representaria 18 milhões de toneladas a menos de gás carbônico na atmosfera e uma redução de 3,2 milhões de toneladas de resíduos sólidos no meio ambiente. Por outro lado, também poderia resultar na perda de até 13 mil postos de trabalho na cadeia do plástico, segundo um estudo inédito feito pelas ONGs Oceana e WWF e pela consultoria econômica Systemiq.

O relatório, ao qual o Valor teve acesso, considera os efeitos da eliminação da produção de material plástico descartável no período entre 2025 e 2040. Entre os itens cuja fabricação seria interrompida nos cenários considerados, estão talheres, copos, tigelas, canudos, cotonetes, misturadores de bebidas e sacolas. A proposta é que os objetos sejam substituídos por materiais como papel, bambu, vidro e tecidos.

Pelas projeções, se tudo permanecer como está hoje, até 2040 o Brasil terá lançado 60,7 milhões de toneladas de resíduos sólidos na natureza. Mesmo considerando que os materiais alternativos ao plástico também geram resíduos, o volume cairia para 57,5 milhões de toneladas em um cenário de eliminação da produção dos descartáveis.

Até 13 mil postos de trabalho podem ser eliminados na cadeia do setor com medida

Já em relação às emissões de gases do efeito estufa, o relatório aponta para 678 milhões de toneladas de CO2 equivalentes na atmosfera até 2040 em se mantendo o cenário atual. Com a substituição do plástico descartável, o volume cairia para 660 milhões de toneladas, já considerando as 18 milhões de toneladas de gases emitidos pela produção dos itens alternativos propostos. A diferença equivale à emissão de 3,9 milhões de carros de passeio no período de um ano.

“Os resultados demonstram uma redução significativa do impacto ambiental, impulsionada pela eliminação gradual dos plásticos descartáveis, substituição de materiais, práticas de produção mais eficientes e transformação geral do sistema”, diz o relatório, que foi apresentado na última segunda-feira (11) a representantes dos ministérios do Meio Ambiente, Relações Exteriores, Casa Civil, Desenvolvimento e Ciência e Tecnologia.

O objetivo principal do documento é dar subsídios para uma posição mais ambiciosa do governo brasileiro nas negociações de um tratado internacional sobre a poluição plástica, no âmbito da ONU. A última rodada de tratativas ocorre no fim deste mês, na Coreia do Sul, mas há poucas chances de um consenso sobre a definição de limites à produção ou mesmo a aprovação de uma lista de produtos passíveis de eliminação.

A resistência vem especialmente de países produtores de petróleo, que é matéria-prima para a produção de plástico. Entre os principais argumentos contra a limitação da produção, está o impacto econômico. A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), que representa os fabricantes de plástico, preferiu aguardar a publicação do relatório para se posicionar.

O estudo estima que a produção de plásticos descartáveis representa hoje cerca de 6,8% do total fabricado pela indústria do setor e emprega de 15 mil a 24 mil pessoas. A eliminação da fabricação e a substituição por outros materiais representaria perda líquida de 13 mil empregos diretos até 2040.

No entanto, quando considerados os empregos indiretos, a diferença seria menor. O estudo usa um modelo econômico baseado na matriz de insumo-produto, que estimou que a perda líquida de empregos na economia seria de cerca de 1 mil posições. Esse modelo mapeia as relações entre indústrias, mostrando quanto cada setor depende de insumos de outros.

“Esse relatório preenche uma lacuna que faltava, que é a visão da oportunidade econômica da transição do plástico para o não-plástico. Também ajuda a desmistificar alguns dados que são trazidos pelo setor, de que a redução da produção teria grande impacto nos postos de trabalho”, argumenta Lara Iwanicki, gerente de Advocacy da Oceana, organização internacional focada na preservação dos oceanos.

Fonte: Valor


 

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