Resumo
O crescimento das cidades tem gerado problemas relacionados à qualidade e quantidade da água para consumo. A contaminação da água dos rios devido à poluição urbana encarece o tratamento e agrega um alto valor econômico à água potável. Além disso, a ampliação das áreas impermeáveis e a falta de planejamento de uso e ocupação do solo aumenta a ocorrência de enchentes. Nesse contexto, a coleta de água da chuva auxilia na redução do escoamento superficial durante os eventos de precipitação, reduzindo o pico de vazão dos córregos e rios. O aproveitamento de água de chuva é vantajoso, fazendo uso de estruturas já existentes para coleta – telhado, calhas, condutores e lajes – ocasionando baixo impacto ambiental, de forma que o sistema funciona como complemento aos tradicionais. Realizou-se uma extensa revisão bibliográfica, de trabalhos publicados no Brasil, buscando contabilizar os parâmetros estudados e considerando a média dos valores para viabilizar a comparação com os padrões de potabilidade da portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde. Foram estudados 12 trabalhos, classificados de acordo com a localidade e tipo de análise feita (água atmosférica e/ou água captada) e verificou-se o atendimento a três condições: todos os trabalhos têm dados de água atmosférica dentro dos padrões de potabilidade; a média dos parâmetros de água captada atende a esse padrão; e todos os trabalhos têm dados de água captada dentro desse padrão. Observou-se que os dados estão geograficamente bem distribuídos na parte oriental do Brasil, locais que apresentam maiores problemas em relação aos recursos hídricos, decorrentes da alta densidade populacional (Regiões Sul e Sudeste) e balanços hídricos negativos (Região Nordeste); as pesquisas realizadas no Brasil foram concomitantes com o que a literatura descreve, apresentando como maior risco a contaminação por microrganismos. Um eventual sistema de tratamento domiciliar, desenvolvido para o tratamento da água captada por meio dessas superfícies, necessariamente deveria ter eficiência na remoção de tais organismos. Alternativas para o tratamento desse tipo de água já existem, embora exijam investimentos. Políticas públicas podem incentivar o desenvolvimento de sistemas mais econômicos, o que poderá, no futuro, ser uma grande ferramenta no Brasil para o problema da falta de disponibilidade hídrica principalmente no sertão nordestino.
Introdução
O crescimento das cidades gera problemas relacionados à qualidade e quantidade da água para consumo. O desenvolvimento urbano e a ocupação desordenada resultam no lançamento de partículas para a atmosfera que, ao longo do tempo, são depositadas sobre as superfícies e durante eventos de precipitação são carreadas para os cursos d’água, sendo fonte de poluição difusa. A contaminação da água dos rios encarece o processo de tratamento e agrega a água potável um alto valor econômico. Além disso, o crescimento da área impermeável é propulsor de enchentes, aumentando do pico de vazão em rios e córregos. A coleta de água da chuva é um artifício valioso para a diminuição no volume escoado para os rios urbanos, podendo amenizar as vazões de 20% até 100 % (FLETCHER, 2008).
Recentemente inúmeras pesquisas vêm sendo apresentadas no sentido de captar esse recurso para seu eventual uso no próprio ciclo domiciliar. A modalidade mais comum de captação é a da superfície do telhado, pois essa superfície representa 50% da área impermeável (FLETCHER; ANDRIEU; HAMEL, 2013), sendo, portanto, uma forma importante de auxílio, tanto para minimizar a ocorrência de enchentes devido à sobrecarga do sistema de drenagem urbano, quanto para reduzir o consumo de água de boa qualidade para usos não muito nobres.
As intervenções antrópicas na bacia resultam na alteração de suas características naturais e consequente diminuição da qualidade da água atmosférica (GALFI et al, 2016) (WU et al, 2012), dessa forma é importante considerar a urbanização da região como fator primordial na análise da qualidade de água.
Embora a qualidade da água captada pela chuva quase sempre não é adequada para o consumo humano, principalmente enquanto ao risco biológico (MEERA; AHAMMED, 2009), a mesma apresenta bons indicadores em comparação com outros tipos de água de reuso – eg. água cinza – por isso é interessante utilizar tal recurso para um uso mais nobre deixando a água cinza para outros fins, gerando assim uma eficiência no ciclo do consumo da água.
Dentre as vantagens do aproveitamento de água de chuva pode-se salientar: o uso de estruturas já existentes para coleta tais como telhado, calhas, condutores e lajes, ocasionando baixo impacto ambiental para a obtenção de água de boa qualidade com pouco ou sem nenhum tratamento, sendo que o sistema funciona como um complemento aos sistemas tradicionais, fornecendo água em situações de emergência (SIMIONI et al., 2004).
Um estudo sobre o comportamento padrão da qualidade da água captada é de extrema importância para o desenvolvimento de procedimentos padrões de uso doméstico e desenvolvimento de novas tecnologias que podem ser acopladas no domicílio para o tratamento.
Autores: Mauricio Antonio Santini Junior; Thaís Tonelli Marangoni e Jefferson Nascimento de Oliveira.