A transição energética e a construção da bioeconomia são processos complementares que devem ser incentivados de forma conjunta
A transição energética e a construção da bioeconomia são processos complementares que devem ser incentivados de forma conjunta.
A bioeconomia oferece processos menos intensivos em energia, biocombustíveis com emissões negativas e biomateriais que armazenam carbono.
A produção de bioenergia, essencial para a transição energética, tem forte interação com inovações nos setores da agricultura, da silvicultura e de gestão de resíduos, uma vez que se busca uma oferta sustentável de biomassa.
A bioeconomia é caracterizada por ter uma produção descentralizada, estabelecendo e consolidando novas cadeias produtivas.
Ela difere radicalmente da atual indústria baseada em fontes fósseis, caracterizada por poucas grandes refinarias que operam em largas escalas e com tecnologias padronizadas.
O regionalismo da bioeconomia é um atrativo de desenvolvimento econômico, uma vez que exige a difusão de biorrefinarias e, consequentemente, gera investimentos, empregos, conhecimentos e renda de forma descentralizada.
O Brasil precisa consolidar uma estratégia nacional de bioeconomia, visto que ela depende da interação entre diferentes setores econômicos.
Estes setores devem ser apoiados por políticas públicas que fomentem uma oferta sustentável de biomassa e que incentivem a implementação de biorrefinarias, que dependem da produção conjunta de biocombustíveis e de bioprodutos de maior valor agregado, criando assim uma demanda que valorize os aspectos ambientais positivos da biomassa brasileira.
O estabelecimento de um mercado de carbono que incentive o uso dos bioprodutos é necessário para o fortalecimento da bioeconomia.
Muitas das tecnologias e dos bioprodutos necessários para o avanço da bioeconomia ainda não são competitivos em relação aos seus substitutos fósseis e necessitam de políticas e regulações que valorizem os seus benefícios ambientais. Políticas públicas e financiamento que permitam o compartilhamento de riscos da inovação são essenciais.
A bioeconomia se baseia no avanço de tecnologias com diferentes graus de maturidade, que dependem de investimentos públicos e privados de longo prazo, compartilhamento de riscos e direcionamento para os setores-chave bioeconomia.
Este estudo avaliou algumas oportunidades de bioinovação, baseadas na mitigação de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e na geração de receita adicional decorrentes da bioeconomia, no contexto da transição energética no Brasil.
Foram avaliadas bioinovações com alto impacto econômico e de mitigação, e estimados os investimentos necessários e as potenciais receitas geradas.
Para além das bioinovações avaliadas neste estudo, existem ainda muitas oportunidades relativas à biodiversidade brasileira a serem estudadas e cadeias produtivas a serem estabelecidas.
O estudo considera o papel da biotecnologia, sob a perspectiva dos múltiplos usos da biomassa – energia, alimento e materiais – no contexto de transição energética e necessidade de desenvolvimento de uma bioeconomia.
Foram consideradas diferentes trajetórias para o Brasil até o horizonte de 2050: como ponto de partida, dois cenários previamente elaborados por Oliveira et al. (2021)1 , acrescidos de um terceiro cenário, proposto como ponto fundamental deste documento, a fim de evidenciar os efeitos de uma adoção mais intensificada da biotecnologia:
• Cenário Políticas Correntes. Desenvolvido por Oliveira et al. (2021), considera a manutenção das políticas correntes brasileiras e respeita a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC – Nationally Determined Contributions) do país no âmbito do Acordo de Paris. Neste cenário as fontes fósseis representam 62% da oferta de energia primária em 2050 e o Brasil aumenta suas emissões anuais de GEE em mais de 20% no período entre 2010 e 2050.
• Cenário Abaixo de 2°C. Também desenvolvido por Oliveira et al. (2021), considera que a biomassa passa a ser a principal fonte de energia para a implementação de tecnologias de baixo carbono nos principais setores da economia brasileira para cumprimento do Acordo de Paris, visando limitar o aumento de temperatura terrestre “bem abaixo dos 2ºC” até o final do século. Neste cenário a biomassa representa 76% da oferta interna de energia primária e, quando combinada com processos de captura e armazenamento de carbono (CCS), se apresenta como a única alternativa capaz de entregar emissões negativas de GEE, necessárias para atingir as metas de descarbonização com a urgência requerida.
• Cenário Potencial da Bioeconomia. Cenário primordial deste estudo, avalia como a bioeconomia e a transição energética podem se complementar, inserindo, a partir do cenário Abaixo de 2°C, tecnologias promissoras selecionadas por empresas da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), do CENERGIA/UFRJ, do SENAI CETIQT, da Embrapa e do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBR/CNPEM).
Fonte: ainfo.cnptia.embrapa
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