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ONU desaconselha compensações para tecnologias de remoção de carbono

Bilhões de dólares estão sendo investidos em soluções baseadas em tecnologia para remoção  de carbono da atmosfera

Remoção de carbono

Bilhões de dólares estão sendo investidos em soluções baseadas em tecnologia para sugar o dióxido de carbono da atmosfera, mas a UNFCCC diz que elas não foram comprovadas e apresentam riscos desconhecidos.

O órgão climático das Nações Unidas lançou dúvidas sobre tecnologias que visam sugar a poluição de carbono da atmosfera, chamando-as de “não comprovadas” e potencialmente arriscadas.

Em uma nota informativa, autores não identificados do órgão climático da ONU (UNFCCC) disseram que essas atividades de remoção são:

“tecnologicamente e economicamente não comprovadas, especialmente em escala, e representam riscos ambientais e sociais desconhecidos”.
Conclui que, portanto, não são adequados para compensar as emissões de carbono no próximo esquema global da ONU.

A avaliação da ONU irritou a crescente indústria, que está vendo bilhões de dólares em investimentos de governos e corporações.

Mais de 100 figuras da indústria de remoção de carbono assinaram uma carta dirigida ao órgão da ONU pedindo que não excluísse nenhuma atividade específica, mas “deixasse a ciência, a inovação e o mercado competirem para entregar as soluções”.

Reunião decisiva

O documento informará as discussões que ocorrerão na próxima semana na cidade alemã de Bonn para estabelecer um novo sistema global de comércio de carbono sob o Artigo 6 do Acordo de Paris.
Um painel da ONU é encarregado de redigir as regras e indicar quais atividades devem ser elegíveis.
Leva em consideração tanto soluções terrestres, como o plantio de árvores, quanto tecnológicas, como o uso de máquinas para extrair CO2 diretamente do ar.

O processo está sendo acompanhado de perto, pois a inclusão de algumas tecnologias em detrimento de outras pode ter consequências de longo alcance para o desenvolvimento do setor.
Os ativistas levantaram preocupações sobre os desafios técnicos da implantação dessas soluções e os riscos potenciais aos direitos humanos.

Mas Ben Rubin, do Carbon Business Council, disse ao Climate Home News que deixar qualquer caminho de remoção de carbono fora da mesa corre o risco de criar desafios para ter a escala de impacto climático necessária.

Função de remoção de carbono

Como o mundo falha em conter o aumento das emissões poluentes, a maioria dos cientistas vê alguma forma de remoção de carbono como necessária para limitar o impacto da mudança climática.

O IPCC disse que o uso da remoção de carbono é “inevitável” para compensar as emissões difíceis de reduzir e atingir o zero líquido. Mas como alcançar esse resultado é assunto de intenso debate.
Atualmente, as soluções terrestres, como plantar árvores ou evitar que sejam derrubadas, respondem por 99,9% de todo o CO2 removido da atmosfera.

Mas vários governos, como os EUA, e empresas estão apostando alto em soluções tecnológicas.

As mais destacadas são Direct Air Capture (DAC) e Bioenergy with carbon capture and storage (BECCS).

A primeira tecnologia usa grandes máquinas para retirar o dióxido de carbono diretamente do ar e armazená-lo no subsolo.

A segunda diz respeito ao aprisionamento das emissões produzidas pela geração de energia de biomassa. Seus proponentes o descrevem como negativo em carbono porque bloqueia permanentemente o CO2 que as árvores usadas como biomassa terão absorvido durante sua vida.

Aposta de vários trilhões de dólares

A indústria acredita que pode crescer rapidamente graças aos investimentos em larga escala que chegam ao setor.

O governo dos EUA destinou US$ 3,7 bilhões para o desenvolvimento do DAC.

Grandes corporações estão assinando acordos no valor de centenas de milhões de dólares para comprar grandes quantidades de remoções de carbono baseadas em tecnologia como forma de compensar suas próprias emissões.

A indústria também espera ser apoiada pela criação de um novo mercado global de carbono. Como parte do Artigo 6 do Acordo de Paris, o novo sistema permitirá que governos, empresas e indivíduos comprem créditos certificados pela ONU, canalizando dinheiro para projetos climáticos.

A Agência Internacional de Energia estima que a remoção de uma tonelada de dióxido de carbono custa entre US$ 135 e US$ 135 com DAC hoje – embora isso possa cair para menos de US$ 100 até 2030.

Segundo os cientistas do IPCC, isso é muito mais caro do que reduzir as emissões com energia renovável ou eficiência energética.

Riscos de direitos humanos

Um estudo recente citado no resumo argumenta que a implantação em larga escala de tecnologias de remoção de carbono pode levar a “significativas violações dos direitos humanos”.

O risco pode ser particularmente agudo com o BECCS que, para operar em escala, exigiria que uma grande quantidade de terra e água fosse convertida da produção de alimentos para o cultivo de biomassa.

Isso provavelmente infringirá o direito à alimentação, o direito à água e o direito a um ambiente saudável”, disseram os autores.

O estudo concluiu que o DAC “provavelmente teria um impacto menor sobre os direitos humanos” do que o BECCS. Não incentiva nada a ser cultivado. Mas, como requer muita energia, o uso em larga escala de DAC pode tirar a eletricidade de outros usos.
O documento da ONU não explica por que essas tecnologias de remoção de carbono não contribuem para o desenvolvimento sustentável e a indústria contesta isso.

“Teremos o prazer de conectá-lo com líderes de remoção de carbono que promovem projetos no Quênia, Kiribati, Índia, Brasil e outros locais ao redor do mundo onde o CDR está contribuindo diretamente para o desenvolvimento econômico regional local”, dizia a carta.

O Centro de Direito Ambiental Internacional chamou a remoção de carbono de “uma distração perigosa”. A ONG argumentou que confiar na tecnologia de remoção “atrasa a redução imediata das emissões e apresenta riscos independentes aos direitos humanos e ao meio ambiente, alguns dos quais permanecem mal compreendidos”.

Um comitê supervisor está atualmente trabalhando nos detalhes complexos de como esse mecanismo funcionará, incluindo a elegibilidade de certos projetos.

Em sua nota informativa, a UNFCCC disse que atividades como DAC ou BECCS não são adequadas para os fins do Artigo 6.

Atualmente caro

Sem entrar em detalhes, argumenta que são muito caros, não são adequados para países em desenvolvimento e não contribuem para o desenvolvimento sustentável.

A ONU baseou seus pontos de vista em artigos científicos e em contribuições recebidas por participantes e ativistas da indústria.

Fonte: climatechangenews

Tradução e adaptação: Flávio H. Zavarise Lemos


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